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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

As moscas de Outono (Irène Némirovsky)


Em «As moscas de Outono», de Irène Némirovsky, encontramos uma pequena história em que dela se extrai mais uma espécie de amor improvável: o amor de uma empregada, Tatiana Ivanovna, pelos seus amos, os Karine.

«A escrita subtil e a afinada certeza psicológica recordam-nos do quanto a boa prosa pode conseguir em muito poucas palavras.»
The Times
É isto mesmo. A escrita sempre tão limpa, harmoniosa e direta, de Irène, transformam uma pequena história como esta, a de uma empregada que segue os amos na época anterior à Revolução Russa, num marco memorável sobre amor e resiliência.

Tatiana sempre dedicou toda a vida ao cuidado dos Karine. Quando os amos, pela força das circunstâncias políticas, se vêem obrigados a abandonar a sua casa e exilando-se em Paris, Tatiana é a última a abandonar o barco. Permanece, contra tudo e contra todos, na casa agora vazia, apenas cheia pelas memórias de um passado que, a ela, lhe parece sempre presente.

Nessa fase, entregue à solidão da casa, acolhe um dos filhos dos Karine, ferido e às portas da morte. A vinda deste jovem provoca-lhe uma catadupa de memórias passadas, as mais felizes, que parecem perdurar nos valores de uma mulher que sempre cuidou, preservou e acarinhou a família para quem trabalhou desde sempre.

Programado o seu coração, de forma vitalícia, no cuidado aos amos, também ela acaba por ir ao seu encontro, no pequeno apartamento em Paris. O choque de uma mudança nunca esperada reflete nela o medo do presente, o desejo do passado, a consciência dessa mesma impossibilidade.

O final deste livro, publicado originalmente no ano de 1931, sublinha a tragédia como redenção. A consciência como porta que se abre a todos os medos e o desejo, enfim, de continuar num passado que, tanto, se quer inalterável.

Leia. Leia já!




Seja feliz,

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