1001 livros em 2018

domingo, 31 de dezembro de 2017

 Um feliz 2018 muito feliz e com 1001 livros sempre por perto.
 
Sejam felizes,

Os memoráveis de 2017

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Chega o momento do ano em que vos mostro aquelas que foram consideradas as
 minhas melhores leituras.
Ora veja os dez memoráveis de 2017:




Sejam felizes e um Ano Novo memorável,

Os Óculos de Ouro (Giorgio Bassani)

terça-feira, 26 de dezembro de 2017


Em «Os Óculos de Ouro» de Giorgio Bassani, um dos primeiros livros do autor, estamos perante uma história capaz de se ramificar em si mesma. Se inicialmente a história nos parece centrar-se no conceituado médico Fadigati, com os seus óculos de ouro a ostentar um estatuto elevado e apreciado, mais tarde, questionamos as reais intenções do autor depois de uma onda de especulação sobre o regime fascista, bem como a uma onda de tensão, daí advinda, entre as personagens.
 
Mas voltemos ao médico dos óculos de ouro: a personificação do preconceito, de uma época, de pessoas envoltas nos seus próprios medos.
No meio de uma pequena cidade italiana, Ferrara, tudo se sabe e nada se esconde, irremediavelmente. A chegada do médico agita tudo e todos numa curiosidade que se propaga. Quem será, como viverá e, mais importante, que segredos esconderá?
 
E Fadigati tem, aparentemente, segredos que se escondem. Ele é reservado, dá longas caminhadas no fim do dia e é à noite que, aparentemente, um outro lado emerge.
 
O mais interessante na obra de Bassani é que tudo parece ser, sem ser realmente. Há desconfianças sobre o médico, sobre uma homossexualidade aparente, bem como os afetos que se geram entre si e as pessoas de Ferrara.  Mas nada mais do que isso, uma desconfiança permanente.
 
Mais do que a curiosidade envolta no médico Fadigati, «Os Óculos de Ouro» marcam uma época difícil, com a Itália dominada pelo regime fascista e, sobretudo, pelas questões judaicas e o preconceito associado. Giorgio Bassani, através da história de um médico envolto em segredos, personifica uma época conturbada, bem como as particularidades políticas do país.
 
Tudo isto na sombra sublime de um homem que não vai esquecer e cujos segredos, na verdade, nunca conhecerá.
 
 
Boas leituras,

Charles Dickens e o Natal

 
"Eu irei honrar o Natal no meu coração,
e tentar mantê-lo durante todo o ano."
 
Charles Dickens

Dois Irmãos (Milton Hatoum)

terça-feira, 12 de dezembro de 2017


Milton Hatoum é um dos mais conceituados autores contemporâneos do Brasil. Nasceu em Manaus, em 1952, e é precisamente nessa cidade que tudo acontece na história de «Dois Irmãos».
 
O autor conta-nos a história de dois irmãos gémeos e toda a sua jornada de vida, quase do início ao fim. A animosidade entre os dois, iniciada por um amor comum a Lívia, só tende a crescer e a prosperar nesse terreno rico que é o ódio. É precisamente essa animosidade que marca e conduz a relação dos dois, pela vida fora.
 
O livro de Milton Hatoum, a partir de uma saga familiar inesquecível, traz a lume vários temas que, numa primeira passagem, poderiam passar despercebidos ao leitor. É que se inicialmente acreditamos que é a relação entre os irmãos o ponto basilar de toda a narrativa, acabaremos por repensar.
 
Após um acidente aparatoso entre os irmãos, Yaqub e Omar, em que este último esfaqueia a face do outro, temos um rio amazonas de atitudes mal arquitetadas por um pai e uma mãe que não o deveriam ter sido.
Desse acidente, os pais decidem enviar Yaqub, o vitimizado, para o Líbano. O afastamento do irmão, pensaram eles, afastaria igualmente a raiva distorcida que cada um tecia. Obviamente, o fogo do ódio, anos volvidos e após o reencontro, assegurou a quem quisesse ver, a sua força e disponibilidade para continuar a arder sem fim.
 
Vamos esquecer também a ideia generalizada do bom e do mau irmão. Seja ele gémeo ou não, acredito que as famílias em geral vivam com o dilema entre o bom e o mau irmão e que cada um deles, na imagem refletida dos próprios pais, viva em função disso mesmo.
 
Omar sempre fora o protegido pela mãe, enquanto Yaqub aprendeu na sua própria solidão e amor aos livros, a criar o seu próprio trajeto. A questão que reside é: de que modo pode o amor incondicional, ou a sua aparente ausência, determinar o futuro de cada um?
 
Acredite quando lhe digo que o futuro, não só dos irmãos, como de toda a família, será determinado por amores mal colocados, anseios não realizados e, acima de tudo, pela teia opressiva que todas as famílias oferecem.
 
O desejo distorcido de pefeição à luz de quem os criou no escuro da dúvida, sublinhou um ódio que, como suspeitamos desde logo, ardeu até não poder mais.
 
Recomendo vivamente e, com toda a certeza, lerei tudo de Milton Haboum.
Muito, muito bom.
 
 
Uma leitura com o estimado apoio:
 
 
 
Sejam felizes,

Gigante

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

 
"Quando fores gigante
vais casar com quem?"
 
Principezinho, 4 anos

Aquelas questões pequeninas para nos mostrarem o quanto o
casamento requer poderes sobrenaturais (e Danoninhos)
 
 
 
Seja feliz!

O amor é para os parvos (Manuel Jorge Marmelo)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Falar de amor tem muito que se lhe diga.
Encontramos, quase como no autismo, um espectro de quem dele padece: uns afoitos que o encaram sem medos, a dar um pouco para os parvos, e outros, menos afoitos, com o  coração aflito pelo que virá depois. Aquele medo crescente e ansioso de quem deseja, à força toda, resolver uma espécie de equação matemática sem fim à vista.
 
O livro «O amor é para os parvos», de Manuel Jorge Marmelo, é um bonito desabafo de um homem, a quem nunca lhe conheceremos o nome, para com a sombra de uma mulher e o passado que ambos viveram. O passado de um amor distorcido pela força do tempo, bem como as lutas internas de a quem lhe quer (tanto) sobreviver.
 
Falar de amor tem muito que se lhe diga, repito sem qualquer desfaçatez.
A questão impera: se eu não gostar de mim, quem gostará?
Será pois um clichê, tantas vezes repetido, e que por isso, talvez lhe tenha perdido o tom desejado da verdade.
 
A história de Manuel Jorge Marmelo enfatiza esses demónios que carregamos para explicar, subtilmente, o quanto o amor (ou a sua falta) nos distorce a visão das coisas, do que merecemos e do que estamos dispostos a dar. A questão incide, na verdade, em: pode amar, quem nunca foi amado?
 
Ao longo do desabafo num quarto, que adivinhamos escuro e vazio, este homem vai tecendo as linhas que formaram, desde sempre, a sua vida pequena, preenchida por um passado que teima esquecer mas que, na mesma medida, o define e afronta.
 
A impossibilidade de mostrar esse amor bonito que sente, vagueia por toda a obra, afligindo e invocando a compreensão quase apiedada do leitor.
É uma belíssima homenagem ao amor, por muito estranho que lhe pareça. Sempre me disseram que as verdadeiras histórias de amor são aquelas que não começam ou que acabam antes do tempo. Ficam esses resquícios de amor que se perdem pelos cantos da casa, escondidos no fundo das gavetas, no fundo de cada um, lá bem amarrotado.
 
É nesses resquícios que encontramos um homem abandonado à sua sorte, à invocação de um amor que foi, que não torna, afrontando e exigindo um retorno ao passado: o lugar faminto das dores que nos definem, que nos toldam os passos capazes de reverter um futuro morto à nascença.
 
Recomendo sem qualquer reserva.
Manuel Jorge Marmelo continua a teimar em não me desiludir.
O meu bem haja.
 
 
Boas leituras. Seja feliz,
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