Eça de Queirós (MªFilomena Mónica)

terça-feira, 31 de maio de 2016


Ao longo de todo o mês de Maio usufruí da companhia desta magnífica biografia. Suspeito que continuará a acompanhar-me ao longo de muito, muito tempo.
Maria Filomena Mónica desenvolveu um trabalho exímio nessa arte de contar a história daquele que se tornou incontornável na literatura do nosso País mas não pensem, porém, que todo esse trabalho se desenvolveu sob um pano de fundo leve de quem trabalha sem qualquer dificuldade.
A autora começa, precisamente, a enfatizar o quanto as biografias são um género, por vezes, subvalorizado (e que não deveria), tendo vivido verdadeiros desafios nesta biografia em específico: aparentemente Eça de Queirós teria pouco ao que agarrar-se, tratando-se um homem solitário, com poucos amigos, muito reservado, dedicado à literatura e virado para si mesmo.
O amor ao autor, como a maioria dos amores mais profundos, surgiu de uma interdição. A mãe da autora tinha na estante apenas duas capas de livros, então massacrados, cujo conteúdo havia sido banido: um deles era o tão polémico «O Crime do Padre Amaro». Uma jovem na altura, Maria Filomena Mónica assim que juntou todo o dinheiro possível comprou um exemplar, lendo-o às escondidas. Começara assim a primeira ligação a um autor que viria a descortinar muito mais tarde nesta belíssima e intrincada biografia.

Como já referi, voltarei aqui muitas vezes pois acredito que a magia - e será este o termo que melhor se lhe adequa - deste género literário passa por aí: o poder voltar e estacionar numa fase da vida de um autor que muito admiramos para, calmamente, pesquisar e melhor absorver o que se passou ou, na eventualidade de pouco se saber - e na vida de Eça, sobretudo na infância e no seio da família, muitos fios ficarão para sempre soltos - conjeturar e adivinhar o que poderia ter sido.

Neste livro de Maria Filomena Mónica, numa estrutura inteligente, o leitor será conduzido pela vida de um homem cheio peculiaridades. Conheceremos a sua sombria e solitária infância, os amigos mais marcantes não podendo deixar de referir Antero de Quental e, mais marcadamente, Batalha Reis, fiel leitor e orientador, que lhe conheceu muitas das suas manias.

Por manias falo, entre muitas, o entrar no quarto sempre com o pé direito (superstições?), apenas escrevia em papel almaço que o próprio ia comprar e, a mais conhecida de todas, escrevia de pé, numa dessas mesas da casa de Batalha Reis onde viveu algum tempo.


Aos 20 anos começou a escrever na Gazeta de Portugal. Pela Universidade, estudante de Coimbra, vida académica repleta de tradições, nunca ele nutriu amores desmedidos. Nem pela mundo académico em si, muito menos, pela vida política e revolucionária. Eça era homem virado para dentro, para si mesmo. No entanto, é através da inesperada política que encontrará o seu primeiro emprego, este, que o empurrará para Évora, num desconsolo desapaixonado após ter encontrado o pouso certo em Lisboa, única cidade que lhe conquistou por completo o coração.

Focando, depois, as obras posteriores, as obras abandonas, os escritores rivais e os mais admirados, a passagem pelo Médio Oriente, Paris, bem como o seu último trabalho, são outras das temáticas desenvolvidas pela autora sobre um homem que apesar de solitário e sombrio, preencheu a vida com o que mais amou e acreditou.

Recomendo sem reservas!
 
 
 Assim termina o desafio do mês de Maio.
Venha o de Junho, já com um livro na manga!
Boas leituras

John Updike

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Maybe...

domingo, 29 de maio de 2016

Os Sete Mensageiros (Dino Buzzati)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Primeiro conjunto de contos publicados por Dino Buzzati, em 1942, (dois anos depois de O Deserto dos Tártaros) Os sete mensageiros desde logo obteve um grande sucesso de público e de crítica.

Composto por dezanove contos, contém todos os elementos típicos da complexa poética buzzatiana: a sua visão labiríntica do mundo, a percepção constante do Bem e do Mal, a atenção dedicada às relações secretas entre as coisas. Os protagonistas das suas histórias são pessoas normais que, confrontadas com o  fantástico, deslizam naturalmente para dentro deste, encontrando-se face a face com o sentido da própria existência.
 
Os contos do autor da conhecida obra «O Deserto dos Tártaros», a qual já tive o grande prazer de ler há uns bons anos, são dos melhores que já li. Eles são diretos, fantásticos e muito limpos na mensagem que tão, prontamente, se prestam a transmitir. Sem rodeios apesar da esfera, por vezes, sobrenatural, que se pode por lá encontrar.
 
Se a escrita de Buzzati já me havia fascinado em obras anteriores, os contos, um género ao qual não dedico tanta atenção, deixaram-me a certeza vincada de que vale mesmo a pena centrar o nosso tempo, por vezes, naquelas histórias cuja leitura de 10 minutos nos fará conhecer o seu início, meio e fim. Sim, por vezes, a leitura é tão frenética e a curiosidade tamanha, que os minutos parecem voar e, simultaneamente, mingar. Vai na volta, desejamos mais. Sim, Buzzati faz isto com o leitor.
 
Não fique à espera e leia, hoje mesmo, um conto de Buzzati. Não se arrependerá.
Numa atmosfera a relembrar a inesquecível «A Montanha Mágica» de Thomas Mann, «Os Sete Andares» é um dos meus contos preferidos deste pequeno livro. Mas há muitos mais. Aqui encontrará criminosos, pescadores que parecem fazer parte da própria paisagem, filhos que se despedem de mães devotas, médicos outrora humildes, dão-se agora a ares que não se lhe conheciam...
 
Recomendo vivamente!
Boas leituras.

A Mulher (Meg Wolitzer)

segunda-feira, 23 de maio de 2016


O livro de Meg Wolitzer ronda um tema principal, o amor desmesurado e disfuncional, sem deixar, no entanto, de se alastrar a tantas outras problemáticas a que aquele automaticamente se impõe.
 
Sempre me questionei sobre aqueles que teimam em ser felizes sob o pano de fundo da infelicidade dos outros. São as tais histórias nas quais apenas conhecemos o início inflamado da paixão, os inícios frescos e prometidos à eternidade congelada de quem muito ama, para todo o sempre. Mas será, de facto, mesmo assim? É que os dias são velozes e têm muita pressa em chegar. É esse o caso de Joan. A história dessa mulher pequena.
 
A história é apresentada ao leitor com a vontade de uma mulher em abandonar o marido narcisista, reconhecido escritor. No entanto, terão a surpresa e oportunidade de conhecer muito mais sobre este sombrio casal.
A verdade é que Joan, jovem aluna na altura, apaixona-se desmesuradamente pelo jovem professor, Joe, e pelo seu devoto amor à literatura decidindo, sem somar consequências, atirar-se de cabeça a uma paixão inflamada por um homem casado com o qual partilharia não só o corpo de um e outro mas, também, esse sonho enublado pela literatura. Um sonho de ambos.
 
Dizem que o amor é assim, e que tem destas coisas.
Um casal sombrio, este.
 
Joan larga tudo, os sonhos, os objetivos, a vida, pela fama e mediatismo aparente de um professor que acaba de conhecer. E Joe vê em Joan a boia de salvação para um ego que se quer sempre inflamado e à superfície.
Joe encabeça o Mito de Narciso como ninguém: ele corre o risco de se apaixonar por si mesmo se, por lapso, vislumbrar o seu reflexo à beira da água.
Joan, insegura e temerata, é essa mulher capaz mas condicionada às suas próprias sensibilidades, escondendo-se numa sombra confortável, inicialmente prazerosa mas que, inevitavelmente, se mostrará insuficiente ao longo da sua vida.
 
Não pretendo contar-vos detalhes específicos desta história porque neste livro, apesar de medíocre, é um daqueles casos que integra a velha máxima de que vale a pena lutar contra o enfado da leitura, persistir para lá da barreira das 50 páginas porque, quem sabe, poderemos ser surpreendidos de alguma maneira.
 
Em «A Mulher» isso poderá acontecer.
 
Se até às derradeiras páginas o enfado pode persistir, perante personagens cuja complexidade psicológica é fraca e muito linear, há o momento em que o leitor poderá deparar-se com um outro prisma que abala certezas prévias dando, quiçá, o benefício da dúvida a esta mulher que, por ter amado mal e demais, se perdeu na sua própria história.


A obra «Os Interessantes» deixou-me uma marca muito mais duradoura, tanto que foi aquela que me fez voltar à autora e a esta «Mulher». Opinião, aqui.

Dare you to move

domingo, 22 de maio de 2016

 


"Na vida, não é o futuro que conta, é o passado."
Patrick Modiano

Anarquia de cansaço

sexta-feira, 20 de maio de 2016

 
In «Hoje Vou Sufocar a Melancolia»

Estante de Serviço #1

quinta-feira, 19 de maio de 2016


Abandonar o barco, desejo de
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Corre, Coelho
John Updike

Quando sente vontade de abandonar o barco - da sua relação, do seu trabalho, da sua vida - imploramos-lhe que não faça nada antes de ter lido Corre, Coelho. A necessidade de saltar fora geralmente ataca quando o barco em que estamos parece ir a afundar-se - e é mais provável que se sinta assim se começou já em mar alto. É certamente o caso de Harry «Coelho» Angstrom (a alcunha é o resultado de um tique nervoso por baixo do seu «pequeno nariz»). Coelho foi em tempos uma estrela adolescente de basquetebol, um herói local ou até mesmo nacional que agora, aos vinte e sete anos, passa os dias a demonstrar o descascador de cozinha MagiPeel, é casado, com um filho e outro a caminho, com o melhor da sua vida já para trás de si. Ou pelo menos é assim que sente. Um dia em que regressa a casa do trabalho, Coelho junta-se a um grupo de miúdos que estão a dar uns toques na bola num terreno vazio. Esfusiante por descobrir que ainda tem o «jeito», decide, num momento de positivismo, deixar de fumar e deitar fora os cigarros. Mas quando chega a casa, a visão de Janice, a sua mulher grávida, deitada com ar ausente em frente da televisão, a beber, deixa-o subitamente furioso. Tal como ele diz mais tarde ao sacerdote local, Jack Eccles, não consegue suportar o facto de antes ter pertencido à primeira categoria e agora - bem, «aquela coisa que Janice e eu vivíamos, pá, era mesmo de segunda categoria». E então ele abandona o barco - ou, como diria Updike, corre.
Quase imediatamente, Coelho encontra alguém que sabe que fugir a correr não funciona - pelo menos sem um plano definido. «A única forma de chegar a algum lado, sabes, é imaginar para onde vais antes de ires», refere a empregada de um posto de combustíveis quando Coelho admite que não sabe para onde está a ir. E mais tarde - demasiado tarde, porque desta vez a tragédia aconteceu - o antigo treinador de basquetebol de Coelho, Tothero (a lutar por encarreirar as palavras a seguir a um AVC), atira uma última lição: «O certo e o errado não caem do céu... somos nós que o fazemos», diz ele. Depois: «Invariavelmente...a infelicidade segue-se à desobediência. Não a nossa.» Coelho não tinha parado assim muito para pensar sobre as consequências que a sua fuga poderia ter para outras pessoas.
E continua a não saber agora. A sabedoria de Tothero penetra em nós, mas não penetra em Coelho. Ele continua a odiar Janice e a correr. Claro que sentimos simpatia por Coelho, mas em breve, vemos que o seu problema não é estar prisioneiro de Janice, mas sim não saber como ajudá-la - e, por isso, a si mesmo. Junte-se a Tothero e diga-o a Coelho, depois a si próprio: é melhor ficar a bordo do navio, fazer o que for possível para tapar os seus buracos e depois redirigir o seu curso. Porque se saltar, salta para o mar. E se for você a ir ao leme, não será o único a afogar-se.
 
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Foi um privilégio e tanto ter tido a oportunidade de ler esta tetralogia do Coelho. O primeiro livro é apenas um descortinar de uma longa história, repleta de peripécias de quem teima em não se encontrar. Recomendo amplamente.
Poderão conhecer a minha opinião, aqui.
 
Boas leituras.
 

Dicionário de Sonhos (Pamela Ball)

terça-feira, 17 de maio de 2016


Hoje venho falar-vos de um livro totalmente diferente, e não por isso menos interessante.
Acreditam nos sonhos? Acreditam nos sonhos como uma continuação do que ficou por dizer, agendar, cancelar ou tão somente por desejar?
O livro de Pamela Ball enfatiza a relevância dos sonhos, os seus significados e a importância destes na forma como encaramos e lidamos com a nossa própria experiência de vida.


É certo, sabido e muito conhecido o ceticismo em torno do interpretação dos sonhos, como se um padrão de significado pudesse servir a qualquer um. Se sonhou com um coelho, sinal de fertilidade, alguém perto de si irá engravidar. Mas a questão relativa à interpretação dos sonhos está longe de ser padronizada. É antes um processo individual, em que muito dependerá do sonhador, das perspetivas que lhes coloca e na forma como os ajusta às suas próprias experiências e realidade.


A ARENA Editora lança um livro diferente sobre a interpretação dos sonhos. Mais do que uma lista genérica de símbolos e significados, tende a frisar a importância deste processo no sonhador enquanto ser individual e uno, integrando as suas experiências inconscientes em novas perspetivas, capazes de serem moldadas em planos de ação mais conscientes e seguros de si.
 
Fica a dica.
 
 
Um obrigada especial à Penguin Random House pela simpática oferta.

A Jovem Noiva (Alessandro Baricco)

domingo, 15 de maio de 2016


«A Jovem Noiva», de Alessandro Baricco, lançado pela Quetzal Editores, além de primorosamente bem escrito, é um livro de originalidade ímpar.
 
Tudo acontece no seio de uma família muito peculiar. Aqui não há nomes mas apenas um Pai, uma Mãe, um Filho, uma Filha, um Tio. E a Jovem Noiva.
Nada é o que parece e tudo o que parece tem um fundo de insanidade. O transpor das portas daquela casa demarcam temporalidades vagas, repletas de medos infundados. A noite é temida pela morte, porque todos, até então, foram levados nela. A manhã é a celebração da vida, dos que ainda restam, e a felicidade é imperativa. Uma obrigação da alma, que afugenta fantasmas, atrai dias novos e frescos.
 
Prometida ao Filho, a Jovem Noiva entra nesta casa de mão dada à inocência dos seus tenros dezoito anos. No entanto, algo sombrio na casa e em cada um dos seus donos, como adornos integrantes da própria mobília, vão mostrar-lhe muito mais reentrâncias à condição do seu coração apaixonado.
 
O Filho tarda em chegar. E é esse tempo difuso que atormenta e faz crescer a Jovem Noiva. O peso de uma família que a faz questionar das mais bizarras maneiras, na mesma medida que lhe mantém, nem que à força da teimosia e de um amor antigo, a certeza do seu destino.
E essa certeza chama-se Filho.
 
Toda a história, acompanhada por um narrador misterioso, cauteloso no peso que coloca em cada palavra, torna a vida da Jovem Noiva difícil de esquecer, pela persistência e pela subtileza da sua marca em cada um dos elementos de uma família cujo surrealismo será, certamente, o seu nome do meio.
 
Recomendo!

O Novo da Estante!


Estou rendida à novidade da Quetzal Editores. Um livro repleto de livros lá dentro. Um livro repleto de remédios literários. Seja lá qual for a sua enfermidade: física ou psicológica.
 
Um livro que aparecerá por aqui muitas vezes.
Fascinada.
 
Boas leituras.

O Ridículo da Morte

quinta-feira, 12 de maio de 2016

 

O ridículo da morte não é a morte. O ridículo da morte acontece quando se está no cemitério, no aconchego da saudade dos que foram, e um bando de corvos com uma rata histérica entre as pernas decide, junto da campa ainda fresca, tirar fotografias para a prosperidade. «Até a avó gostou da foto, Manuela. Tira outra!»
«Pronto, vamos lá embora, e tu pede por nós, vá». Pois no que a mim me diz respeito, se fosse ao morto acabado de chegar, pediria uma casca de banana em que todas elas caíssem, umas em cima das outras, corvos doentes, e sim, que caíssem em covas à antiga: de terra enlameada pela chuva e por ali pernoitassem no medo de quem, há pouco, iria pedir por elas.
O ridículo da morte é feito pelos vivos. A vergonha de quem não semeou o coração no lado certo.

DR

A Laranja Mecânica (Anthony Burgess)

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Contém SPOILERS
 
O livro que hoje vos trago, uma magnífica distopia, é tudo menos um livro fácil. Não o digo pela dificuldade da escrita - pois particularidades tem e muitas! - mas foco-me sobretudo na temática em si: a violência levada ao extremo e o livre arbítrio: até que ponto sermos implicados, ou não, nas nossas escolhas é essencial enquanto seres individuais ou antes uma escolha governamental, como quem arruma a casa aos sábados de manhã.
Mas não nos adiantemos.
 
«A Laranja Mecânica» de Burgess acompanha a longa jornada do crescimento de Alex, personagem que de tão peculiar se torna inesquecível.
Alex é um adolescente que em conjunto com os seus comparsas, vagueiam pela noite praticando o que chamam atos de ultraviolência, e por ultraviolência estamos mesmo a categorizar cenas cruéis e de uma dimensão visual tão grande que, por momentos, poderá chocar o leitor mais sensível. Na mesma medida, e a par com o dialeto especial (Nadstate) típico daquele grupo de adolescentes, outras cenas de tão exageradas, mesmo com a dose extrema de violência, são a mais para ser verdade. Caso para dizer que, por vezes, o leitor acabará por rir com certas passagens irrisórias, quiçá, fruto do moloco: mistura de leite e drogas tão preciosa que os lança para a notche numa série de aventuras que parece não ter fim.
 
Alex acabará preso fruto das suas ações ultraviolentas. Será precisamente neste ponto que o leitor assistirá a uma viragem completa no rumo desta história. Após espancar uma mulher até à morte, acaba preso em parte pela igual traição dos seus drugos (amigos). O Nº84 F da Prisão Estatal passará a ser o seu novo lar, a sua nova vida, cuja anterior, jamais conhecerá da mesma maneira.
 
Burgess escreve este livro de forma desprendida e tal como um artista, parece desenhar um círculo por onde os personagens, fielmente, o acompanham. Alex parece viver em vertigem e rodopio constantes, cujas ações se vão repetindo sem consequências medidas na balança punitiva de uma sociedade justa. Até então.
 
Se a vida lá fora parecia estranha a Alex, a vida na prisão foi um verdadeiro inferno. Tão grande que numa das rixas habituais que nós, leitores, tão bem conhecemos quer das histórias lidas ou daquilo que o cinema nos faz crer, o adolescente acaba por matar outro jovem também à pancada.
 
Num momento de dúvida existencial, e sem apelos possíveis a uma plena salvação, Alex será sujeito à «Técnica de Ludovico». Não mais do que uma espécie de condicionamento clássico muito rudimentar, à base de apresentação sucessiva de imagens de violência, Alex terá de se confrontar com aquelas, queira ou não queira.
 
As consequências do tratamento serão uma total repulsa à violência, porém, também a tudo o que de alguma maneira a ela possa estar igualmente relacionada. Alex é um jovem que apesar dos seus traços desviantes, é bem-falante e culto. Ele é, por exemplo, um bom apreciador de música. Com este tratamento deixará de o ser, irremissivelmente, pelas associações intrincadas à sua história (violenta) de vida.
 
Sem me alongar muito mais, é chegado o momento em que Alex verá a liberdade dos dias. Recordam-se quando vos falei de um Burgess tipo artista que desenha histórias em círculos? Pois bem. A saída de Alex da prisão fará emergir na história as antigas personagens ostracizadas por aquele, agora, como vítima de quem um dia magoou deliberadamente.
 
Estamos perante um livro repleto, com ou sem intenção do autor, de apontar de dedos. E assim termino, tal como comecei: a enfatizar a importância da liberdade de escolha.
 

“Quando um homem perde a capacidade de escolha, deixa de ser um homem.” (p.132)
 
Praticar o bem, como escolha auto imposta pela sociedade, será melhor ou pior do que o homem que não o pratica de sua livre e espontânea vontade?
Dá que pensar.
 
É por isso, e muito mais, que estamos perante um dos grandes clássicos da literatura. Recomendo amplamente e, em particular, esta edição da Alfaguara, pela comemoração dos 50 anos da obra e por nela conter o glossário de Nadstate (aconselho ler o livro consultando o menos possível, pois torna a leitura bem mais interessante!) e outras surpresas que muito valem a pena.
 
Boas leituras!

Imagination!

sábado, 7 de maio de 2016

 
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Sorriso Amarelo vs Sorriso Verde

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Que sorriso amarelo.
Quando a miúda o faz, apontam-no sem dó nem piedade. Fá-lo questionar o porquê das cores nos sorrisos, ponderando que, provavelmente, apenas o amarelo prevalece, tal é a significância deste sempre que aparece. Sorriso amarelo. Como quem comeu crustáceos estragados. Ou de quem se levantou com mau hálito que perdura e se alonga até ao entardecer.
Porquê amarelo?
Um sorriso verde, oposto, grande e com hálito a memórias frescas. Não lhe parece justo que em assuntos sérios como sorrisos prevaleça, justamente, a definição amarela. Pequena, negativa e mal cheirosa. Não lhe parece mesmo nada justo.
DR

Ler(-te) em Português de Maio

domingo, 1 de maio de 2016


Este mês o «Ler(-te) em Português» será diferente. Ao invés de um clássico propriamente dito, trago antes uma biografia há muito ambicionada de, esse sim, inconfundível e incontornável clássico da nossa literatura:
Eça de Queirós, escrito por Maria Filomena Mónica.
Vamos lá!
 
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Poderão ler mais informações sobre este desafio pessoal, aqui
Ler(-te) em Português de Janeiro, aqui
Ler(-te) em Português de Fevereiro, aqui 
Ler(-te) em Português de Março, aqui
Ler(-te) em Português de Abril, aqui
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