O Estranho Desaparecimento de Esme Lennox (M. O'Farrell)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

 
É possível ser feliz na sombra da infelicidade de alguém?
 
Às vezes, as pessoas queixam-se de certas loucuras que fazemos. Porque somos, ou estamos infelizes. Mas... será que perguntaram a Esme Lennox se houve alguém que lhe roubou alguma coisa?  A razão de viver?
Não. Não é possível viver feliz na sombra da infelicidade de alguém. Os abutres até podem começar essa jornada, mas mais não será do que uma entrada lenta num inferno sem precedentes.
 
 
Um livro surpreendente, alucinante, sobre os laços familiares e até onde poderão eles apertar a integridade de cada um. Recomendo!
 
 
Ao som de: Smashing Pumpkins "Ava Adore"
 
 
 
www.wook.pt: Este romance conta a história de Esme Lennox, uma mulher que, nos anos de 1930, chega da Índia onde nascera, com os pais e a irmã mais velha Kitty. Sessenta anos mais tarde, Iris Lockart é surpreendida por um telefonema a anunciar-lhe que a sua tia-avó terá de deixar o hospital onde viveu durante três décadas, e o nome que consta no seu processo, como responsável por ela, é justamente o seu. Iris sempre acreditou que Kitty, a sua avó, era filha única. E esse é um facto misterioso e inexplicável. Um romance intenso e complexo, escrito com extrema delicadeza, que combina diferentes vozes narrativas num magnífico thriller psicológico.
 

"A Noite das Mulheres Cantoras" (Lídia Jorge)

quarta-feira, 29 de maio de 2013


Uma história de amor. Quem não tem? Ora. Ora. Quem não tem? Mais não é o que se fala por aqui, hoje. Coisas deste género, essas, de que se falam hoje. Histórias de amor, simples. Porque são histórias de amor, e assim, se derretem e inflamam na memória de quem as invoca tão facilmente, tão rapidamente, como quem despe ou veste um casaco. Como quem usa aquele perfume, que também invoca. Essa história de amor. Com 21 anos de trama, ou mais, ou menos. O que seja!
É nessa memória que me vou perdendo e tentando resgatar um tempo em que, jovem, sonhei alto e perdi a verdadeira percepção do mundo. Onde fama, brilho, corpos coordenados e pesados em sintonia, me levaram a inocência de que, nessa altura, era toda eu feita.
 
Um livro sobre memórias de tempos passados de um grupo de mulheres que partilham o sonho da fama e tropeçam em algo mais. Um livro em que a memória se torna o sofá confortável, apaziguador de uma realidade menos feliz, menos calma, mas mais compreensível com o passar dos anos.
 
Interessante.
 
 
www.wook.pt: Há uma pergunta que percorre este romance de Lídia Jorge, da primeira à última página: Quantas vítimas se deixa pelo caminho para se perseguir um objectivo? A acção do romance decorre no final dos anos 80 do século XX e invoca um tema de inesperada audácia - o da força da idolatria e a construção do êxito - visto a partir do interior de um grupo, narrado 21 anos mais tarde, na forma de um monólogo. Como é habitual na obra da autora, a questão social é relevante - a força do todo e a aniquilação do indivíduo perante o colectivo são temas presentes neste livro. Mas aqui, tratando-se de um grupo fechado e dominado pela música, a parábola social submerge perante a descrição de um ambiente de grande envolvimento humano e de densidade poética.
Servido por uma narrativa ao mesmo tempo rude e mágica, A Noite das Mulheres Cantoras propõe a quem o lê a história de seis figuras que passam a viver para sempre no nosso imaginário.
A história de amor comovente que une as duas personagens principais, Solange de Matos e João de Lucena, é, por certo, um daqueles episódios que iluminam a realidade e tornam indispensáveis a grande literatura sobre a vida de hoje, com os ingredientes próprios da cultura dos nossos dias.
 

O Voo da Cotovia (Kathryn Erskine)

domingo, 19 de maio de 2013

 
 
A realidade não é bem aquilo que parece ou, na verdade, é mais simples do que parece. Na mente da Caitlin funciona tudo a preto e branco. A Síndrome de Asperger não lhe permite compreender na perfeição a complexidade das emoções que caracterizam as pessoas, pelo que os seus dias são uma aventura constante na procura dessa mesma descodificação de sorrisos que não expressam paz ou lágrimas que, afinal, podem ser de alegria. Essa complexidade define, assim, a trajectória desta menina com Síndrome de Asperger que contava com o apoio do seu irmão, recentemente falecido.
Estamos perante um pequeno livro, lido em meras horas, com uma escrita simples e fluente onde sublinho, sobretudo, a forma inteligente como a autora entra na problemática desta síndrome, permitindo ao leitor a sua melhor compreensão através do discurso sincero e genuíno de uma menina perdida de competências sociais, mas corajosa para se encontrar.
A Síndrome de Asperger integra-se no espectro do Autismo e é essencialmente caracterizada pelas dificuldades sociais que a criança evidencia, na comunicação, no toque e na compreensão das emoções, entre outros aspectos. Aquilo que os Psicólogos denominam de «Teoria da Mente» (habilidade cognitiva para interpretar e reconhecer expressões/sentimentos), estas crianças não possuem, prejudicando assim a sua interacção com os outros.
Este é, assim, um livro com um ponto de vista interessante de compreensão da síndrome mas, igualmente, focado no processo de luto e aceitação da vida, com e sem cor.
 
 
www. wook.pt: Caitlin é uma menina de dez anos muito especial. Por sofrer da síndrome de Asperger, tudo o que não seja a preto e branco é-lhe confuso. Dantes, quando as coisas se tornavam confusas, Caitlin podia contar com a ajuda do irmão mais velho, Devon. Mas Devon morreu e o pai está tão perturbado que não lhe consegue estender a mão. É então que um dia Caitlin ouve a expressão «fazer o luto» e percebe que é exatamente aquilo de que precisa. Mas, para consegui-lo, terá de descobrir que o mundo está na realidade cheio de cores - estranhas e belas.
 


Ferrugem Americana (Philipp Meyer)

sábado, 18 de maio de 2013

Sobre este livro penso que a primeira coisa que devo dizer é que, muito provavelmente, parti para a sua leitura envolta numa expectativa elevada demais. Ao ler a contracapa e ao invocarem as inspirações de John Steinbeck, obviamente e para quem me conhece, saberia à partida o quanto esperançada ficaria nesta leitura.
Provavelmente por esse motivo, o livro desiludiu-me globalmente. Não posso dizer que estive perante um mau livro, tal seria um exagero, no entanto, não posso dizer que todos os elogios que fazem parte dele, façam sentido para mim.
Porquê tanta desilusão? O autor estica a história até o elástico não dar mais e no momento em que esta deveria "explodir", dilui-se e termina. Eu diria abruptamente. Entendo a mensagem, entendo o conteúdo, no entanto, parece-me que não foi suficiente para mim.
O que mais me interessou em «Ferrugem Americana» foi, sem dúvida, a ênfase nas personagens, nas suas personalidades, nos medos, receios e a vontade constante em fugir da própria pele. Há uma angústia permanente no coração de cada uma das personagens num descontrolo que apela, constantemente, a uma fuga.
É daqueles livros estranhos em que quanto mais penso nele, mais pontos interessantes consigo encontrar, no entanto, o desfecho não foi completo.
Sobre o meu amado Steinbeck, consigo compreender sim. As personalidades sombrias e a procura de si mesmo num mundo desavindo, estão lá. Isso sim, mas não chegou.
 
 
Ao som de: Placebo "Pure Morning"
 

Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley)

sábado, 11 de maio de 2013


O meu irmão bem me avisou. Avisou-me que estava perante um livro com a força suficiente para mudar a mente, para mudar perspectivas, para alterar disposições, para contorcer o estômago no momento de leitura, e muito para lá dele.
Que livro. Mas que livro. Dou comigo nestas exclamações que a minha mente vai fazendo e os meus dedos, escravos humildes, escrevem numa subordinação nítida e sem qualquer hesitação. Que livro. Mas que livro!
Volvidos tantos anos da sua publicação, há uma actualidade dolorosa no livro. Digo dolorosa porque actualmente as pessoas parecem, de facto, condicionadas em muitos aspectos. Um laboratório de condicionamento biológico e psicológico que rotula e “encaixa” cada pessoa considerando as aptidões, as capacidades e a integração na sociedade: como um molde certo, para a gaveta certa, para o armário certo, na casa certa. Uma série de pequenas caixas, dentro de outras, numa harmonia pré-concebida, imaginada e iludida. Muito doente.
Há uma actualidade dolorosa no livro, já há pouco o referia. Independentemente de não estarmos sujeitos a um condicionamento biológico e psicológico, não sermos catalogados por castas, entre outros aspectos, trilhamos um perigoso caminho em que a moralidade – extinta, ou muito dúbia, nesta obra de Huxley – é cada vez mais posta em causa. O amor, esse, deixou de ser individual. Deixou de ter direitos. É uma questão de evolução, não sejamos patetas e falemos em poliamor. Corações grandes. Mas nessas questões, como em tantas outras, dou comigo a pensar no adágio que a minha avó tanto dizia “muito e bem, não há quem”. Mas quem sou eu? Fico-me pelas reticências…
E há o sofrimento, também. Por muitos condicionamentos e pela idealização de uma felicidade máxima, há o sofrimento. Ele existe, apesar de tudo. Soma. Um pouco de soma resolve esse sofrimento intrometido e impertinente, que amolece corações e tira razões.
Um cigarro, um copo de vinho, as drogas que começam levemente até pesar no corpo que, cansado, já não se levantará da mesma maneira. São somas e mais somas no mundo que nos acompanha, nessa força dos dias que se vai enfrentando. E não vale a pena tapar o sol com a peneira. 
Depois, bem, depois há sempre aqueles cujo admirável mundo novo não os surpreende, antes os faz arrepender. Antes os faz sentir selvagens, num mundo desconhecido e desprovido do mais importante, em que a mente trabalha por si mesma, sem botões no lugar do coração.

 

 

“O ser diferente condena a uma fatal solidão”
(Aldous Huxley)

 

 
 
I´m only one voice in a million, but you aint taking that from me...”
Natasha Bedingfield "Strip Me"

Histórias à volta da mesa (Oscar Wilde)

quarta-feira, 8 de maio de 2013


 
Oscar Wilde adorava sentir a atenção dos seus amigos enquanto se perdia na bela arte de contar histórias, para a qual e segundo diziam, tinha verdadeiro dom. Há quem diga ainda que tinha um toque especial na forma como tornava uma história bela, perpetuando-se no tempo e no coração de quem a ouvia.
O dom de Wilde, muitos chegaram a dizer, ultrapassava a sua própria escrita. Muitos dos seus ouvintes rendiam-se aos encantos nos pormenores estudados de cada história, de cada entoação e suspense no tempo certo.
Foi em muitas das noites em que se reunia com os amigos, à volta da mesa de cafés, restaurantes ou casas de conhecidos, que nasceu o conto que viria a dar origem ao famoso «Retrato de Dorian Grey».
É um livro encantador, com muitas e pequenas histórias, em parte devido ao fascínio criado em Wilde nos seus ouvintes, que maravilhados, as escreviam quando regressavam às suas casas. Dessa maneira, preservaram as muitas páginas de histórias que tornaram possível este livro.

 
 
www.wook.pt: Oscar Wilde demonstrou o seu génio literário através das suas obras em prosa, poesia e teatro, e é considerado um dos mais importantes escritores do século XIX. No entanto, o seu talento nato de inventor e narrador de histórias nunca foi muito divulgado. Durante toda a vida, Oscar Wilde deliciou os seus companheiros de café, jantares e reuniões sociais com magníficas histórias que deixavam os seus ouvintes literalmente pregados às cadeiras. Wilde encantava todo o tipo de pessoas, desde poetas a diplomatas, damas da sociedade e estudantes - como ele dizia - "crianças dos oito aos oitenta".
Embora nem todas essas histórias tenham sido recuperadas, algumas foram registadas por amigos e admiradores e até passados a escrito pelo próprio Oscar Wilde.
 

Citação

terça-feira, 7 de maio de 2013










"Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós."
(Franz Kafka)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A Casa de Papel (Carlos María Domínguez)


Este é um pequeno livro onde o amor aos livros se derrete e espalha de um modo enternecedor e, simultaneamente, doloroso.
Alguém, amantes de livros, consegue imaginar a proeza de, amando tanto, enterrar os livros em cimento na ideia estranha de os proteger e, quem sabe, atenuar essa paixão que arde assim sem qualquer controlo?

 
A casa de papel é um livro com livros lá dentro e a história de quem muito os amou.

 
 
Gostei e em poucas palavras o recomendo abundantemente.
 
 
 
www.wook.pt Os livros mudam o destino das pessoas: Hemingway incutiu em muitos o seu famoso espírito aventureiro; os intrépidos mosqueteiros de Dumas abalaram as vidas emocionais de um sem-número de leitores; Demian, de Hermann Hesse, apresentou o hinduísmo a milhares de jovens; muitos outros foram arrancados às malhas do suicídio por um vulgar livro de cozinha. Bluma Lennon foi uma das vítimas da Literatura.
Na Primavera de 1998, Bluma, uma lindíssima professora de Cambridge, acaba de comprar um livro de poemas de Emily Dickinson quando é atropelada. Após a sua morte, um colega e ex-amante recebe um exemplar de A Linha da Sombra, de Joseph Conrad, em que Bluma escrevera uma misteriosa dedicatória. Intrigado, parte numa busca que o leva a Buenos Aires com o objectivo de procurar pistas sobre a identidade e o destino de um obscuro mas dedicado bibliófilo e a sua intrigante ligação com Bluma.
A Casa de Papel é um romance excepcional sobre o amor desmesurado pelas bibliotecas e pela literatura. Uma envolvente intriga policial e metafísica que envolve o leitor numa viagem de descoberta e deslumbramento perante os estranhos vínculos entre a realidade e a ficção.
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