O Meu Desafio Literário 2016

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015


Tenho uma tendência cruel a evitar clássicos da literatura portuguesa.
Não me perguntem porquê. Não saberei responder.
Sei dizer, no entanto, que este será o meu novo desafio literário para 2016: ler um clássico da literatura portuguesa em cada mês do ano numa tentativa, espero eu, de superar essa minha resistência ou quiçá, falta de oportunidade para tal.
 
Vamos a isso!
Aceito as vossas sugestões! Alguma?
 
 
Bom 2016, repleto de livros. Lidos!
 

Incumprimentos Literários de 2015

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

No início do ano de 2015 decidi desafiar-me a mim própria para a leitura daqueles livros que desejamos muito mas, por um motivo estranho e irritante, permanecem por ler.
Pois muito bem.
Vejam a tristeza do resultado do meu (pequeno e frustrado) desafio de 2015.
Dos seis livros propostos, li apenas dois.
 
Li 63 livros este ano e não me dignei a pegar naqueles 4.
Digam-me que estas coisas bizarras não me acontecem só a mim, dizem?!
 
 
O desafio mantém-se. Vou tentar ler esses quatro livros que faltam (Thomas Mann!) e obviamente já criei um desafio novo para 2016. Sejamos persistentes!
Em breve falo sobre ele.
 
Boas leituras!


Os Memoráveis de 2015

domingo, 27 de dezembro de 2015

Mais um ano que finda e como tradição que já se firma, é hora de inspecionar as estantes e selecionar os vencedores do ano:
 
 
 
Foi um ano feliz em leituras.
Conheci Richard Yates e muito entusiasmada guardo ainda dois livros do autor para o ano que se aproxima. Uma das maiores surpresas.
Foi também a vez de conhecer o magnífico João Tordo.
Enamorei-me com Javier Marías.
Assustei-me com o William Peter Blatty.
Boris Vian arrancou-me elogios rasgados.
Updike fez-me correr atrás da vida do inesquecível Coelho.
E Thomas Mann deixou-me sem ar enquanto subia a sua «Montanha Mágica»: o livro mais memorável de todos.
 
Boas leituras!

Os Níveis da Vida (Julian Barnes)


Acredito que li este livro no momento errado.
Talvez por ser demasiado triste, não sei.
Sei, no entanto, que independentemente do momento, certo ou errado, Julian Barnes continua a integrar o conjunto dos meus autores preferidos de sempre.
Em alguns momentos a leitura flui demasiadamente depressa, como balões que se enchem num sopro aflito. Noutros momentos, sobretudo na última parte do livro, somos confrontados com a crueza da vida, o seu último nível. Penso que aí tudo para numa densidade estranha de quem não entende o último e redentor nível de uma vida que termina.
É precisamente a última parte do livro a que mais me tocou. À escrita bonita de Julian Barnes, junta-se o sentimentalismo necessário e a verdade de quem vive uma real perda. Só com ingredientes de primeira qualidade, deste elevado nível, é que se pode evocar a verdadeira dor implicada na jornada que se vê findar daquele que tanto se amou.
 
"A dor mostra que não esquecemos; a dor realça o sabor da memória; a dor é uma prova de amor. «Se não interessasse, não interessava.»
 
 
Julian Barnes promete assim, com estes «Níveis da Vida», reflexões profundas, e sentidas, sobre o amor, a soma das partes de que aquele é feito, sobre balonismo, sobre a morte, o luto. 
Sobre pequenos nadas que justificam um pouco de tudo na vida.
 
 
 
Recomendo, claro está.

Crazy Christmas!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

 
Porque um pouco de loucura fica sempre bem, em qualquer lugar.
Feliz Natal!

Flores (Afonso Cruz)

sábado, 19 de dezembro de 2015


flor |ô|
(latim flos, floris)
 
substantivo feminino
 

1. [Botânica]     Parte do vegetal de que sai a frutificação.

"flor", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013
 
 
Dizes tu que me conheces quando tens a cara feita de lata para, desavergonhada, deixares o chapéu em cima da cama, Clarisse.
Clarisse. Nem o som do teu nome é o mesmo agora. Assim como os beijos que damos todas as manhãs. Ganharam o verdete da rotina pesada. Dos dias pesados que, monótonos, se seguem uns aos outros numa repetição esquizofrénica.
 
"Tenho a certeza de que a vida morre com a rotina e não com a morte, e que o hábito nos petrifica (...)" p.72

Várias vidas foram passando por nós, que desatentos, resvalámos pelo campo de uma indiferença que acalma os monstros da noite. Várias vidas que escondem promessas nunca cumpridas, que acalentam noites mal dormidas, que abraçam as culpas nos outros, que nos tornam impunes, que nos compram sonhos a saldos de 80%, que nos prometem mundos e fundos de mais vidas fingidas entre espelhos que reclamam respostas em voz alta.

Nesse intermédio, rejeitamos tudo Clarisse.
 
Nesse intermédio, vamos rejeitando o suave perfume das flores no exato momento em que aquela começa a cair, com a promessa de um novo fruto. De uma nova aventura. De uma nova jornada que apela a mudanças de pele, de estações e de confrontos com novos ventos.
Mudanças que rejeitámos, um no outro.
Rejeitámos as nossas próprias flores.
 
Rejeitámos tudo, Clarisse.
Para no fim, patéticos como só o ser humano pode ser, nos entregarmos aos frutos dos outros.
 
Se a flor cair, junto com o fruto, basta-nos assistir.
E quem sabe, amanhã, poderemos enfim dar um passo em frente por nós mesmos.
 
 
A minha estreia com Afonso Cruz num livro de enorme sensibilidade, sobre a capacidade do ser humano em se esconder nos mais recônditos lugares do coração, e do corpo, numa tentativa quase sempre frustrada de eliminar esse vazio estranho que atormenta, questiona e que, a muito custo, vai empurrando...


Recomendo.

A Ingratidão do Pai Natal

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Encontrado no Pinterest

A Vida no Céu (José Eduardo Agualusa)

terça-feira, 15 de dezembro de 2015



O próprio autor refere o divertido exercício de imaginação que o levou à criação desta peculiar «Vida no Céu».
Estou confusa, com um pé na terra e outro no céu, entre um aqui e acolá de opiniões diversas quanto à leitura de Agualusa. Foi bom, mas não me arrebatou. Não foi mau, mas não consigo dizer abertamente que foi soberbo. Então fico ali, no limiar entre o que é e o que não é.
O mais curioso é que este pequeno livro percorre precisamente essa dubiedade.
Durante toda a leitura senti-me quase a cair entre as redes que o autor defende que existem na vida do céu. Perdi o equilíbrio da minha própria imaginação muitas vezes, tamanha racionalidade que me impede de ver o mundo de outra forma. Pés de chumbo na terra e o céu lá longe, como tem de ser.
Foi deveras difícil imaginar uma vida possível nas nuvens sem, no entanto, encantar-me um pouco com essa possibilidade.
Leiam. Talvez percebam, ou não, a minha perplexidade de ver o mundo de pernas para o ar.
Um pequeno livro para sonhadores, para os que vivem com a cabeça nas nuvens e houve quem dissesse que as nuvens foram feitas, precisamente, para quem sonha.
 
Mais do que uma história para jovens que buscam verdades que roçam as saudades antigas dos velhos, este pequeno livro de Agualusa é também - parece-me a mim - um apontar de dedo ao homem que se arma em designer religioso, mudando vontades de um Deus maior em prol dos seus pequenos grandes caprichos.
 
As consequências serão, pois claro está, a saudade do que já foi.
A nostalgia eterna do que jamais se corrige com a introdução ao arrependimento.
 
 
Boas leituras!

True Love

domingo, 13 de dezembro de 2015

 
 
Daqueles amores tipo nódoas difíceis que se prezem.
Deixam rasto. Para sempre.

Em Teu Ventre (José Luís Peixoto)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015


Há escritores. E depois temos José Luís Peixoto.
A mestria e delicadeza com que trata as palavras, como se fossem de cristal, num risco iminente de quebrarem com entoação forte demais, são belas e de tão simples, tocam e chegam aos sítios certos. Onde se permite sentir.  Nos sítios mais rebuscados do coração, através de histórias esquecidas e só onde um autor genial assim concebe e encanta.
 
Através da história que tanto nos diz dos três pastorinhos, esta é uma história de ficção que mais do que religião, poderão pensar, escorre amor em cada página. Escorre amor ou a sua procura desenfreada em olhos desatentos, que tudo veem menos o que lhe procuram.
 
Tão encantadora a forma como José Luís Peixoto trata a palavra escrita. Dança com ela, numa delicadeza que não me canso de frisar. Há nesta dança um misto de dor, de confronto com a mentira, a necessidade de crença, de um olhar que confirma e acima de tudo, a ânsia da esperança.
 
É precisamente essa esperança a música que José Luís Peixoto nos desafia a dançar neste «Em Teu Ventre». Afinal de contas, encerra tudo em si mesma e tem um nome no seu centro.
 
Mãe.
 
 
Ao som de: "Somewhere" | Endless Melancholy

O Luto de Elias Gro (João Tordo)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015


Já tiveram a oportunidade de ouvir o som da pinha ao cair do pinheiro?
É um som seco. Há um estalar seco que larga a pinha e a atira, incerta, pelos ares até cair sem destino.
Também assim é o narrador desta belíssima história de João Tordo.
Ele larga tudo e atira-se a uma jornada sem destino pois o dele, esse, parece ter terminado na ausência daquilo que foi e não retorna jamais. Quando assim é, perde-se o sentido das obras construídas com precisão matemática. Há que derrubar em pleno a totalidade de uma felicidade já infecunda. Que se alimente, então, um sofrimento sôfrego por mais, inexplicável, mas certo de que deve perpetuar.
 
João Tordo obrigará o leitor (de um modo feliz, entenda-se) a retroceder para reler trechos que já passaram, tal é a intensidade, a profundidade e a verdade da sua escrita.
 
No ambiente solitário de uma ilha, esta é a história de um homem que procura fugir de si mesmo. Se existem vários tipos de dor, e porque existem, acredito que a maior seja aquela a impulsionada pela culpa, que escraviza, que perfura, que martela e relembra. O pão nosso de cada dia.
"No fundo, a dor é paz; um lugar intermédio onde finalmente entendemos que, por mais que se repitam os gestos hábeis de todos os dias, o que aconteceu nunca tornará, e todas as coisas - todas, sem excepção - se irão perder, uma de cada vez, devagarinho, sem que tenhamos tempo de as deter na ida ou de perguntar para onde vão." (p.84) 
Um livro de pesada tristeza, «O Luto de Elias Gro» aborda temas relacionados, essencialmente, com a perda e esta, entra na vida por tantas portas e de tantos feitios...
Na jornada que a personagem estabelece para si mesmo, de clausura, de auto sofrimento, fechando-se num farol que arrenda a um dos habitantes da ilha, o leitor presenciará a impossibilidade da solidão levada ao extremo, bem como as suas consequências. A deriva do corpo em detrimento do peso de chumbo de emoções, outrora leves, e que hoje são pés que carregam e diminuem quem já foi.
 
No reencontro com gentes, afinal tão iguais, no reflexo de histórias de faroleiros e escritores, que se cruzam e repetem, depois de tantos anos volvidos, este homem perceberá o seu lugar no mundo.
"Se aceitares que se faça a vontade d'Ele, e não a tua." (p.311)
É com Alma que se permite emocionar e é com Elias Gro, para todos O Padre, mas que na sua boca não passa de um mero carteiro, entregando a mensagem de Deus a todos os moradores da ilha, que aquele homem despedaçado de alma começará a dar sinais de vontade.
 
Uma vontade de nome Cecilia.
Com ela surge o ímpeto de encontrar, enfim, a medida certa do amor.
 
 
 
Foi em 2015 que tive o privilégio de descobrir a obra de João Tordo, sendo este o segundo livro que leio do autor. Não poderia estar mais rendida com um livro de enorme sensibilidade, de beleza ímpar e de reflexões essenciais àqueles que ainda se permitem sentir, numa era de corações empedernidos.
 
Mais do que recomendado!

Angry People. And Love.

domingo, 6 de dezembro de 2015



“Angry people are not always wise.”
   ― Jane Austen (Orgulho e Preconceito)  

John Steinbeck disse

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Imagem retirada Etsy
 
E tudo o que este homem disse, disse bem. Tão bem.
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