Agora e na Hora da Nossa Morte (Susana Moreira Marques)

segunda-feira, 28 de abril de 2014


 
"Agora e na Hora da Nossa Morte é o resultado de uma viagem a Trás-os-Montes para acompanhar um projecto de prestação de cuidados paliativos domiciliários. De aldeia em aldeia - numa paisagem marcada por grandes distâncias, as águias sobrevoando as estradas, e o Douro como fronteira - encontramos pessoas com pouco tempo de vida, familiares que dormem à cabeceira de camas, e o vazio deixado pelos que morrem. No lugar onde Portugal acaba e é esquecido, onde todo um modo de vida de desaparecer, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante."
 
Ler este livro é uma urgência. O tema da morte, sempre tão escondido, tão convenientemente esquecido nas palavras mais difíceis e, por isso, pouco pronunciadas, acaba apenas por ser vivido na iminência do "aqui e agora".
Infelizmente, e correndo o risco de roçar o tantas vezes repetido, não se dá a devida importância às coisas até as perdermos e este livro, majestoso na sua simplicidade, dedica-se a mostrar esses pequenos nadas que são tudo.
 
"(...) Começo a tentar sentir o que ele sentia.
E o que é que lhe ia na cabeça?
Isso atormenta-me muito, muito:
o que é que a pessoa que vai morrer pensa?
acredita que vai morrer?
acredita sempre?
é constante o pensamento?
não é?
tende a iludir-se?
o que é que acontece?
como é que olha para os outros?
faz filmes sobre como é que vai ser a vida dos outros?
pensa no que é que vai perder?
(p.106)
 
 

 
Ao som de: "Paradise" | Coldplay


Livro Sem Ninguém (Pedro Guilherme-Moreira)

sábado, 26 de abril de 2014

Este é um livro feito de coisas. O que as coisas dizem. E como o dizem.
Aparentemente sem ninguém, de uma rua deserta nada se poderia saber. No entanto, Pedro Guilherme-Moreira mostra precisamente o contrário.


"Cada pedaço de rua conta pequenas coisas todos os dias, tantas mais quanto a atenção com que se olha. Não há certezas e há uma incerteza: se o livro é mesmo sem ninguém." (p.23)
 
 
A rua do arco-celeste tem muita coisa para contar. Das suas coisas, muito há a saber. Da ausência das pessoas, há a presença das pequenas coisas e, essas, também contam coisas.
Histórias com intrigas, com traição e abandono, cortinas que se movimentam pela curiosidade alheia, óculos Ray-Ban com gotas de sangue têm muito a dizer, bem como a bengala, o xaile e os sapatos vermelhos da casa vermelha. A escola e os bolas arrumadas à sexta-feira, também. O carreiro, esse, esconde lágrimas anónimas, e mais histórias feitas a partir de coisas que se separam pela distância de quem as vem juntar na mesma dor.
Assim, nessa genialidade do ninguém, Pedro Guilherme-Moreira obriga o leitor a dar o melhor de si, e quando dá por ele, as pessoas surgem dentro das suas coisas, nessa pequena rua que de tantos nadas, vai recuperando das perdas e ganhando novos dias depois de um ano particularmente penoso.
 
                                                      Denise | 04 | 2014
 
"(...) Mas a rua já não era uma rua qualquer." (p.152)
 


Um livro sem ninguém, mas com muito para contar. Uma rua em que as coisas predominam em detrimento das pessoas. O engraçado é que fazem e falam tanto quanto elas. Muito bom.
 
Boas leituras.
 
Ao som de: "Magic" | Coldplay
 


Dia Mundial do Livro

quarta-feira, 23 de abril de 2014




 
"O bom de um livro é que se leia."
 
Umberto Eco





Dia Mundial do Livro | 2014
 
Aos viciados, um dia feliz com muitos livros! :)
 
 

A Bibliotecária de Auschwitz (Antonio G. Iturbe)

terça-feira, 22 de abril de 2014


 
Um romance comovedor e pungente da história de Dita Dorachova, guardiã de uma réstea de esperança no campo de concentração do inferno nazi.
 
 
Antonio G. Iturbe é jornalista. Dedicou-se a uma profunda pesquisa sobre esta sensível temática da História e trouxe à luz um livro brilhante no seu expoente máximo.
Este livro, totalmente dedicado ao tema do Holocausto, e ao barracão familiar do campo de concentração daquele que foi o inferno nazi, dá especial ênfase à jovem Dita que se torna a bibliotecária do Bloco 31, responsável pelo cuidado de uma biblioteca formada por apenas oito livros em papel e alguns livros vivos. Os livros vivos eram representados pelas pessoas que em si guardavam de início ao fim, com os mais ínfimos detalhes, algumas das melhores histórias para contar às crianças daquele barracão familiar, afastando por minutos a dor, a fome e o medo através da beleza da imaginação e criatividade. Algo que por muito que tentassem num lugar como aquele, isso, não poderiam roubar.
Foi difícil para mim não dissociar este livro da "Rapariga que Roubava Livros", porque a magia em torno da literatura, a capacidade de encontrar alguma paz nos livros, nas histórias e na capacidade de saltar arames farpados pela imaginação, encontra-se igualmente muito viva neste livro de Antonio G. Iturbe.
 
 
"Na realidade, o autor de A Metamorfose soubera antes de mais ninguém o que ia acontecer: que os homens se transformariam da noite para o dia em seres monstruosos."
(p.107)
 
A jovem Dita, através dos seus estimados livros, que conserta sempre que retornam ainda mais velhos e estragados, vai suportando a agrura dos dias e a violência das SS, resguardando-se na imaginação e nos pilares das histórias escondidas.
Um livro recheado de factos verídicos, misturando igualmente a ficção. Um livro que se centra não somente no tema dos campos de concentração globalmente mas, sobretudo, no fascínio de alguns terem arriscado a vida para manterem uma escola secreta e uma biblioteca clandestina em Auschwitz-Birkenau.
É um verdadeiro hino à beleza das pequenas coisas: "(...) Se o homem não se emociona com a beleza, se não fecha os olhos e põe em marcha os mecanismos da imaginação, se não é capaz de interrogar-se e vislumbrar os limites da sua ignorância, é homem ou é mulher, mas não é pessoa; nada o distingue de um salmão, de uma zebra ou de um boi-almiscarado." (p.371).
 
 
Recomendado!
 
Boas leituras

 


O Paraíso das Damas (Émile Zola)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

 
 
O livro que hoje vos falo, «O Paraíso das Damas», foi escrito pelo autor Émile Zola (nascido a 2 de Abril de 1840, em Paris).
Depois de ter vindo parar às minhas mãos de uma forma muito peculiar, e interessante, este livro narra a história da jovem Denise, uma órfã de vinte anos acabada de chegar a Paris com os seus dois irmãos mais novos.
Deslumbrada pelas grandes lojas de Paris, que começavam a revolucionar o comércio da época, Denise começa desde logo a trabalhar na loja que de imediato a encantou: «O Paraíso das Damas».
O tão aclamado “fascínio pelo trapo” encabeçado pela mulher é descrito por Zola em toda a obra, sublinhando a negrito os contornos da cidade moderna que começa a impor-se, as mudanças do comportamento quer do homem, quer da mulher, das classes e do consumismo.
Baseado neste último, “O Paraíso das Damas” é assim o poço encantado onde as mulheres se vão afundando na ingénua procura do ouro, metaforicamente traduzido nesses trapos, nesses tecidos que parecem ter a solução para tudo. Uma loja que se expande pela mão decidida do magnata Octave Mouret, sedutor nato e certo de compreender a natureza da mulher, certo de ser essa mesma compreensão a chave do seu sucesso. Até ao dia em que cruza com a jovem descabelada de nome Denise. Magra, desinteressante aos olhos, beleza baça, de olhar inerte, esta jovem parece nada ter a dizer, ou pouco lugar a ocupar.
Num cliché romântico, Octave Mouret vê a sua vida virada do avesso quando Denise é a única das mulheres a não se encantar com qualquer trapo ou quantia avultada de dinheiro. Nem tão pouco um convite para jantar.
Este livro reúne em si muito mais do que uma grande história de amor. Arrasta o leitor para a fantasia de uma loja de encantar tudo e todos pelas mercadorias que chegam diariamente, pelo consumismo exacerbado e, acima de tudo, pelo carácter de uma jovem a relembrar a célebre Jane Eyre (da autora Charlotte Bronte) com as suas fortes convicções, valores e uma determinação inabalável, capaz de fazer frente aos seus próprios sentimentos, quando necessário.
Como digo, mais do que uma história de amor, “O Paraíso das Damas” é um apontar de dedo a uma nova época, um despontar de novos valores e comportamentos e, no final, a determinação de uma mulher capaz de traçar o seu próprio caminho contra o peso das normas que regem uma sociedade.
 
Boas leituras!
 
 
Podem também ver a série "The Paradise", baseada no livro de Émile Zola.
Aqui têm o trailer:
 
 
 

TAG: Venha o Diabo e escolha!

Esta TAG foi criada pela Catarina do blog Little House of Books e foi me enviada pela querida Kel do blog A Rapariga dos Livros, que me iniciou nestas "atividades"! ;)
 
 
Ora vamos lá então responder ...
 
 
1 – Preferias só poderes ler um livro por ano e saberes que ias adorá-lo ou leres vários e nãos gostares muito deles?
Ler muitos. Preferia ler muitos na esperança de encontrar aquele que iria adorar. Ler um livro já com a avaliação feita não é nada bom. É quase como saber o final, não?

2 – Preferias nunca poderes conhecer o teu autor(a) favorito/a ou nunca mais poderes ler mais livros do/a mesmo/a a partir deste momento?
O meu autor preferido já faleceu por isso, ando a poupar os livros dele para os alongar o mais possível no tempo. (risos)

3 – Preferias ser obrigado a ver sempre os filmes antes de leres os livros ou nunca veres os filmes?
Dispensaria os filmes, sem qualquer dúvida.
 
 
4 – Preferias matar uma das tuas personagens favoritas de sempre ou deixar um dos piores vilões escapar impune?
Porque será que esta TAG se chama "Venha o Diabo e escolha?"
Vamos deixar o vilão vivo, só para sermos diferentes ;)

5 – Preferias ser um tributo nos Jogos da Fome ou que a pessoa mais importante para ti no mundo o fosse?
A primeira opção.

6 – Preferias que a tua série favorita de sempre nunca tivesse existido ou que o/a autor(a) nunca a conseguisse acabar?
Sinceramente, não sei...

7 – Preferias nunca ter conhecido esta comunidade literária na internet ou teres de deixar de fazer parte dela para sempre obrigatoriamente?
A primeira opção.

8 – Preferias que um livro que encomendaste chegasse a tua casa numa edição super feia, mas em óptimas condições ou que chegasse a tua casa na edição que querias, mas toda estragada, sem puderes reclamar?
O mais importante era ter o livro que encomendei pronto para ser lido, não dou prioridade às edições.

9 – Preferias que os teus livros, por conta de uma tragédia, ardessem ou se afogassem?
Pergunta cruel. Qualquer amante de livros pensará na opção em que poderá salvar alguma coisa dos seus livros. Quando falas em "afogar", sempre haverá a réstia de esperança de os poder colocar ao sol ;)

10 – Preferias rasgar a capa de um livro ou sujá-la com algo que não saia?
Sujar com um bocadinho de chocolate, para o livro ficar mais docinho!
 
 
 
Pelo que percebi tenho agora de enviar a TAG para cinco novas pessoas, que são:
 
Manuel - .Dos Meus Livros http://aminhaestante.blogspot.pt/
Vasco e Paula - ...viajar pela leitura... http://viajarpelaleitura.blogspot.pt/
Liliana Lavado - http://www.lc-lavado.com/
André Nuno - Pensar nos livros http://libriscogitare.blogspot.pt/
N.Martins - Quero Um Livro http://queroumlivro.blogspot.pt/
 
 
Boas leituras!

Darling Jim (Christian Mork)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

 
«Darling Jim» é um género de livro pouco habitual nas minhas estantes. No entanto, é sempre bom essa aventura por novos géneros, autores e histórias diferentes. 
Se é um policial, que é mas não só, marca a diferença no sentido de se desenvolver através dos diários das irmãs desaparecidas num nevoeiro de imenso mistério. Um mistério motivado por um amor sem precedentes.
Encontramos as personagens padrão de um policial bem concebido: as vítimas, o vilão e o entusiasta na procura de respostas (o herói?) ao mistério que surge e muda a vida de uma comunidade. Um carteiro disposto a tudo pela procura da verdade.
Penso que neste «Darling Jim» o facto da narrativa estar dividida pelos diários das vítimas, bem como a caracterização tão especial de Jim, dão uma singularidade ao livro. Sem esquecer, claro está, as lendas nórdicas que acompanham o leitor ao longo de toda esta aventura, por vezes, enigmática e um tanto surreal.
Como em qualquer policial, reina por aqui aquela vontade de chegar ao fim e tentar perceber como acaba num jogo de quem fez o quê, quando, como e ... porquê?
 
 
 
 
 
Boas leituras!
 
 
www.wook.pt: Darling Jim reúne thriller psicológico, suspense romântico, terror, lendas e contos de fadas. Tudo começa com o aparecimento dos cadáveres de duas irmãs e da tia de ambas, assassinadas numa casa de Malahide. O mistério que envolve a sinistra descoberta parece insolúvel, mas quando Niall, um jovem carteiro, descobre o diário de uma das irmãs e decide fazer uma investigação por conta própria, a verdade começa a vir à luz do dia. Uma história de amor trágica e um bardo dos tempos modernos parecem ter estado na origem dos crimes. Um romance que nos fala dos perigos de nos apaixonarmos pela pessoa errada.

Um Gato, Um Chapéu e Um Pedaço de Cordel (Joanne Harris)

terça-feira, 8 de abril de 2014

 
Os livros de Joanne Harris, para quem conhece a obra, têm uma essência peculiar. Os seus leitores esperam, à partida, encontrar a mesma atmosfera, aromas conhecidos, personagens características, enredos curiosos, histórias com sabores, enfim, uma série de pontos que somados definem uma escritora que dispensa apresentações.
No presente livro, podemos contar com esse reconhecimento dos enredos, das histórias e das personagens numa espécie de promoção "leve 2, pague 1", uma vez que em cada conto, há a possibilidade de revisitar a obra de Joanne Harris. Personagens do conhecido livro "Chocolate", do também livro de contos "Danças e Contradanças" ou "Vinho Mágico" (uma das obras que mais gostei da autora) em que temos assim a oportunidade de voltar às suas vidas adormecidas em cada livro na estante.
Desde crianças que lutam pela sobrevivência, a idosos que lutam perante a monotonia dos dias, a magia dos doces na vida de uma mulher, o papel cada vez mais fundamental que atribuímos às redes sociais, o amor perante as dificuldades mais atrozes e a magia do Natal,  constituem alguns dos temas num livro de contos marcado por essa essência tão conhecida da autora.
 
 
Muitos livros. Muitas leituras.
 
 
 
Em www.wook.pt: Crianças de vida difícil e coração vibrante, fantasmas domésticos, velhas senhoras em busca de aventura, uma paixão impossível sob os céus de Nova Iorque, a improvável magia de uma sanduíche, as extravagâncias a que a saudade obriga…
O universo romântico, místico e sempre especial de Joanne Harris está de volta em dezasseis histórias que são como bombons: deliciosas, tentadoras e irresistíveis.

Os Nós e os Laços (António Alçada Baptista)

domingo, 6 de abril de 2014

Através de um grupo de amigos, este livro de António Alçada Baptista conduz-nos a uma geração que lida com a ruptura de uma herança ideológica, firme por uma Igreja de muitos costumes, de muitas regras, difíceis de largar, já o hábito feito de as seguir como forma de reger a própria forma de ser, a própria existência.
Cada um, com a sua singularidade, defende o seu dogma e vive nesse peso e medida não sem a fragilidade dos tempos de mudança, do drástico que os dias mostram e essa necessidade de dar de si a uma exigência sem retorno.
Cada um, com a sua filosofia, vive cada dia. O seu "eu" criado pela experiência dos dias, alimentado pela força de amar, pela descoberta do novo, pelo encontro com laços mais apertados, com abraços que escondem dúvidas que permanecem.
Cada um destes amigos, entre si, prende-se e desprende-se nos «nós e nos laços» que os unem, nessa nova percepção daquilo que já foi, daquilo que não volta, mas permanecerá.  


António Alçada Baptista. Um autor que nunca desilude.

 
 
 
Em www.wook.pt: Gonçalo, Teresa, Duarte, Pedro, Isabel e Inês pertencem a uma geração que vive a dramática ruptura com a herança ideológica pesada, onde um catolicismo tradicionalista arbitra as regras da existência. Estes protagonistas, embora com as mais diversas filosofias de vida, estão todos eles marcados por uma sociedade bem portuguesa e todos eles, na fragilidade das suas vidas, da sua solidão, se encontram estreitamente ligados às suas existências. Se «Os Nós e os Laços» é um romance de conflito de valores com o passado ainda presente, é também exploração de novos percursos que se entreabrem à experiência de cada um dos personagens: é a descoberta do corpo como lugar privilegiado de comunicação, são os jogos de existência em que bem e mal permutam constantemente de posição, e é sobretudo esse discreto mas instaurador movimento de pensar o mundo feminino.
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