Persuasão (Jane Austen)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Persuadir. Levar a crer ou a aceitar, aconselhar, induzir.
Nessa persuasão levaram-te e eu deixei que assim fosse, mas repara bem, poderá o amor ser sensível a qualquer tipo de persuasão?
Não. Claro que não! Não o nosso!
Todos os desvios em que nos colocaram, persuadidos de algo menor, desse amor só nosso, apenas fortaleceram a certeza. A nossa certeza.

Passem dias que me levem o viço da juventude. Passem as semanas. Passem os anos. Permanecerá a certeza. E a persuasão serviu, afinal, para cerrar um caminho mais e mais profundo, onde te encontro mais íntimo, ainda mais meu.



E eis que um coração é persuadido pela saudade. E nele é impresso um nome a carvão.

Dizem que os livros da Jane Austen são para meninas. Não são.

Ao som de: First Aid Kit "Ghost Town"



Sinopse: É em «Persuasão», o último romance acabado de Jane Austen, que encontramos a sua heroína mais notável - Anne Elliot. Sobre ela escreveu, um dia, a autora: "ela é quase demasiadamente boa para mim." No entanto, naquela que é a sua obra mais amadurecida, que descreve uma órbita de afastamento nítida em relação ao tom predominantemente satírico dos seus anteriores romances, Austen trata o carácter e os afectos da protagonista de uma forma que, sem perder totalmente de vista a ironia é, sem sombra de dúvida, muito mais terna, e anuncia já uma percepção mais aberta e dinâmica da personalidade e comportamentos humanos. Uma história de amor, desenvolvida com profundidade e subtileza, proporciona o campo ideal para um estudo refletido, que sustenta na sua linha de horizonte o complexo relacionamento entre os dois sexos, e no qual homem e mulher surjem como seres moralmente análogos.  www.wook.pt

Hotel Íris (Yoko Ogawa)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Pessoa diz que não amamos a pessoa. Amamos a ideia que temos dela. A ser assim, eu amo uma estupidez de tamanho infinito. Amo velhice revestida de iludida juventude. Amo egoísmo revestido com inventada inocência. Amo as tuas merdas, rendida a um vestido que explode em pedaços de abóbora!
E nessa ideia de te amar, entro numa tradução russa, rasca, de um romance em que te matas por me amares.
E ninguém entende!


Amor. Oh tu! Tão leve e subordinado! Como os cabelos que me arrancaste!
Para Mari, amar é permanecer de olhos fechados. Para sempre.


Livro psicologicamente perturbante.
Deixa aquele travo azedo.


Sinopse: Mari e a sua mãe são proprietárias de um pequeno hotel à beira-mar. É um hotel modesto, mas bem gerido e está quase sempre completo. Mari toma conta da recepção todas as noites e, como em todas as noites, a tranquilidade e o silêncio reinam no pequeno hotel. De repente ouvemse gritos, insultos — proferidos por uma mulher que sai agora do quarto de um dos seus hóspedes mais discretos. Mari fica impressionada com a cena e, inconscientemente, com a elegância e distinção deste homem quase velho, acusado dos piores desvios. Alguns dias mais tarde cruzar-se-á com ele na rua e começará a seguilo. O homem que inicialmente apenas a intrigou, tornar-se-á uma obsessão e objecto do seu desejo.


David Copperfield (Charles Dickens)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Imaginem o seguinte: abrem um livro e de lá, instantaneamente, as suas personagens ganham vida e saltam, saltam para as nossas vidas e lá permanecem. Assim são as personagens, e livros, de Charles Dickens.
Com características linguísticas próprias, cada personagem tem o seu brilho, inquestionável, e permanente.
Em David Copperfield, o livro tido como preferido do autor, vivemos o trajecto coberto de aventuras de David e um conjunto arrebatador de personagens que, como tenho vindo a dizer, mesmo depois do livro fechado, arrendarão um espaço vitalício na nossa mente.
Desde o cruel padrasto Mr Murdstone, à delicada mãe, a Pegotty, a querida empregada, passando pelo carismático Micawber, e o amigo, mas pouco, Steerforth. Também Dora, o seu primeiro grande amor. E sem poder esquecer, jamais, Agnes. Esse anjo bom!
E tantos outros!
Hoje em que se celebra o seu 200º aniversário, sublinho aqui a magia deste brilhante escritor, que das suas histórias em papel, as transcende no coração de cada um. Mais do que isso, planta as suas histórias na mente e no coração, e por lá permanecem. Para sempre.



Cemitério de Pianos (José Luís Peixoto)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dor. Saudade. Segredo. Amor. Rasgo. Tristeza. Sofá. Alma. Piano. Caminho. Estrago. Lágrima. Perda. Corrida. Pé. Tu. Eu. Ele. Ela. Tu. Outra. Tapete. Conserto. Remediado. Triste. Acidente. Casa. Desespero. Roda. Nascimento. Fusão. Música. Paixão. Escondido. Escondida. Coração. Lábios. Dança. Garagem. Lugar. Abraço. Remorso. Relógio. Escada. Irmão.Telefone. Retrato. Palavras. Família. Eternidade.

Um livro que destroça. Um livro brilhante.



Sobre o livro:
Os narradores – pai e filho –, em tempos diferentes, que se sobrepõem por vezes, desvendam a história da família. Falam de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e a continuação: o pai – relação entre dois Franciscos, iguais no nome e no destino, por um gerado, do outro genitor – nasce no dia da morte desse primeiro Lázaro; o filho, neto do seu homónimo, morre no dia em que a sua mulher dá à luz.
A obra retrata uma família de Benfica (Lisboa) e, aborda a morte como não apenas o fim, mas também a continuidade através da herança deixada em vida. A morte como destino irremediável da vida e nova vida após a morte. Um ciclo que se repete ininterruptamente.
Relata tanto o lado negro como luminoso das ligações entre familiares cujas algumas das vivências mais importantes se sucedem num espaço de uma oficina chamado de cemitério de pianos que alberga pianos "mortos" cujas peças vão dar vida a novos pianos. (www.wikipédia.org)

Aldeia de Pedra (Xiaolu Guo)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Nunca poderei encontrar o meu começo, ou o meu fim, no círculo de outra pessoa qualquer."
Eis uma das primeiras frases que sublinhei neste livro.
A história de Coral Jiang revela a cruel vontade da injustiça, aleatória, que destrói o começar de uma infância por si só já infeliz.
De recantos escondidos pela solidão, tristeza, desamparo, a violência de um corpo ainda desconhecido, acaba por colapsar qualquer esperança de perpetuar essa infância. Disparada, desaparece para nunca mais voltar. Tempos de menina eclipsados por mãos assustadoras. Uma mulher, num corpo de menina.
"(...) sabes, a má sorte torna as pessoas mais fortes."
A beleza deste livro recai, precisamente, na capacidade de suportar a dor com que, por vezes, a vida nos brinda. Poderíamos sempre escolher o apelo da dor e por lá permanecer, mas tu preferiste a Fossa das Marianas, enterrando essa dor a 11034 metros de profundidade.
"O percurso até casa é longo. Enquanto o percorro, recordo as palavras da minha avó: «Toda a gente tem uma vida passada, uma vida futura e uma vida presente.» Se é verdade, sinto que a minha vida presente ainda agora começou."


A escrita tão livre e directa torna este livro ainda mais dotado de uma sensibilidade que chega a doer. Recomendo. Recomendo. :)


Dedicado a vítimas que persistem para deixar de o ser.

Ao som de: Alanis Morissette "Hand in my pocket"


Sinopse: Uma história chocante de abuso, silêncio e vergonha e, contudo, de uma beleza inaudita por uma das mais fascinantes escritoras chinesas da nova geração. Aldeia de Pedra evoca de forma brilhante a dura vida na costa da China permanentemente devastada pelos tufões, onde os pescadores se perdem nos mares violentos e as crianças são arrastadas pelas marés. A história maravilhosa e assustadora da luta de uma pequena rapariga que suporta o silêncio, a solidão e a vergonha da violação sexual. Mas é também o retrato da nova juventude urbana da China, e de como essa juventude moderna e liberal se esforça por esconder e esquecer um passado feito de crueldade e pobreza. Uma história chocante de abuso, silêncio e vergonha e, contudo, de uma beleza inaudita por uma das mais fascinantes escritoras chinesas da nova geração. www.wook.pt

Fazes-me Falta (Inês Pedrosa)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Tudo parece ser forçado a um nome. Como os armários que escondem a roupa, arrumada ou não, também as palavras têm uma espécie de armário. Os sentimentos são catalogados por essas malogradas palavras que, por sua vez, encaixam no melhor sítio. No suposto melhor sítio. E nisto, eu perco o raciocínio e afogo-me na falta que me fazes.
Como eu dizia, tudo tem de ter um nome. Uma palavra. Um sustento. Um pilar. Um alicerce. O que seja. Algo a que se encoste. Nisto, perco-me e afogo-me na tua falta.
Perco-me numa falta que não tem nome e nessa emergência, o que faço eu? Não há nome que te possa dar, essa tormenta contornada de anos ausentes, então, que nome dar-lhe ... amizade? companhia? saudade? certeza? amor? Oh! Mas eu não sei, bastavas-me. Ali. O saber. O simples saber. Saber que te encontraria, dentro ou fora de casa, sob efeito de alcool, sob efeito das alucinações, o que fosse, bastava ter-te ali. Mesmo ausente. Sem as malogradas palavras que insistem em catalogar tudo. Volto a perder-me e fazes-me falta!
Não te amo. Não gosto de ti. Nem sei. E fazes-me falta. Em cada canto da rua, em cada som de música, em cada gota de chuva. Em cada canto da minha mente. Sem palavras. São ecos vagos isto que te conto, porque não há palavras para ti. És um vazio que preenche por si só.
Tudo parece ser forçado a um nome. Nomes não te posso dar.
E a falta que me fazes é doce como os bolos de chocolate.


Ao som de: The Script "Breakeven"
JC

Sinopse: O leitor que abre este romance de Inês Pedrosa depara com um dispositivo narrativo de extrema simplicidade: duas vozes apenas, que, ao longo de cinquenta blocos textuais, a que, pela sua episódica brevidade, não chegaremos a chamar capítulos, se cruzam numa espécie de diálogo espectral. Uma dessas vozes é feminina, e é a ela que cabe a iniciativa de convocar os temas. A outra voz, que viremos a saber que é mais velha, pertence a um homem. Poderíamos pensar, segundo as convenções de leitura para que estamos preparados, que entre estas duas personagens existe sobretudo uma relação passional. Mas aquilo que as une é de uma outra ordem - e de certo modo o livro não faz mais do que ir à procura do nome exacto para essa ordem, o nome apropriado para esse tecido de palavras que une, enreda, compromete, envolve estas duas vozes. (...) "Sem dúvida o seu melhor livro, e desde já um dos romances mais importantes e apaixonantes publicados este ano." Eduardo Prado Coelho

TIMBUKTU (Paul Auster)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Enquanto conduzia, esta manhã, deparei-me com uma série de cães. Um deles, amarelo, estava sentado, com ar tranquilo a pensar em algo que nunca poderei descobrir. O castanho estava apressado, como eu, e aquele preto, tinha um ar ameaçador.
Foi exactamente nesse momento rápido, enquanto conduzia, que os meus pensamentos igualmente me conduziram até ao Mr Bones, o simpático cão.
Se nunca leram, deviam ler.
Tenho saudades tuas. Era bom, nesse imbróglio de capacidades que nós, humanos, temos, podermos comunicar para lá dos sentidos banais. Há quem diga que sim, mas porquê que esses desgraçados caem sempre no ridículo?
Divagações à parte, «Timbuktu» é mais um dos livros que considero obrigatórios pela sensibilidade que carrega, pelos ensinamentos que deveriam ser inerentes a qualquer coração, por tudo.
E já alguém dizia que quanto mais conhecia os homens, mais gostava dos animais.

Verdade seja dita, eu gostava muito mais de ti quando me mostravas esse teu olhar de cão abandonado... porque seria?
Divagações! Meras divagações!


Ao som de: Gemma Hayes "Keep Running"


Sinopse: Mr. Bones é um cão de raça indefinida, mas de grande inteligência. Desde cachorro tem vivido com William Gurevitch, um vagabundo, porta errante, um excêntrico sobrevivente das revoluções dos anos 60. Juntos percorreram a América e sobreviveram aos duros Invernos de Brooklin. Agora, que William pressente a chegada da morte, partem para Baltimore em busca de uma antiga professora - a única pessoa em quem pode confiar os seus cadernos de poemas e o seu leal companheiro.
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