Ansiedade (Isabel Moreira)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

 
 
"...uma raridade a tristeza ser uniforme, ter a densidade disso mesmo, e assim matar não a alegria que me darias, mas a ansiedade que me mata a espera pela alegria perdida."
 
 
Este livro é feito de ansiedade, do início ao fim. Os textos, perdidos em si mesmos, pequenos e dispersos, são também o reflexo de uma ansiedade arrastada por todo o lado.
Não há muito mais a dizer sobre isto.
Uma ansiedade que mata lentamente, num medo atroz de perder todo o ar acumulado como garantia de uma sobrevivência calma e cobarde, mas segura.
Uma ansiedade justificada unicamente pelo medo da solidão que espreita todos os dias pela mesma, sinistra, porta de madeira:
 
"...a solidão, que é a doença que faz doer as doenças todas."
 
 
É um livro angustiante. Já o li há alguns meses e não me decidi a escrever sobre ele por isso mesmo. A minha opinião é que apesar de ter passagens verdadeiramente bonitas, frases com muito sentido, e muito bem escritas, é um livro que consegue ser mesmo... ansioso. O título não poderia ser mais ajustado.
 
Boas leituras.
 
 
Ao som de: Smashing Pumpkins "Ugly"
 

 
www.wook.pt: Uma personagem perde-se claustrofobicamente na noite de uma depressão, cercada por caminhos sem saída, por soluções que nada resolvem. A dor e o sofrimento controlam um olhar que já não consegue contemplar o sujeito, que já não se distancia o suficiente para compreender a dimensão do covil onde primeiro se escondeu por protecção e rapidamente acabou por se tornar numa prisão.
 
 
 


Livros leves, mas bons

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Inspirada pelo Manuel, amigo do blog, e um excelente comentador de livros :) acabei por criar também um TOP 10 (e não 15 como tu, Manuel) de alguns livros que considero "levezinhos", no entanto, penso que seja importante sublinhar no que para mim considero poder tratar-se de um livro mais "leve", pode não o ser para muitos outros leitores.
 
Ficando esta salvaguarda, segue-se a (minha primeira) lista! :)
 
 

10. Não contemos ao dia os segredos da noite (Dominique Marny e J.P. Gourévitch)
Um livro muito...querido. Lê-se em meras horas, uma história de amor no seu expoente máximo e em circunstâncias muito especiais como só o amor pode ser.
 
 
 


 



09. O Voo da Cotovia (Kathryn Erskyne)
Um livro muito bom na forma como retrata a síndrome do Autismo conciliando uma boa história e com uma personagem inesquecível. A minha escolha incide sobretudo pela oportunidade que a autoria permite em conhecer mais da síndrome sob o ponto de vista da própria criança. Muito bom.




 
 



08. À espera de Moby Dick (Nuno Amado)
A escolha deste livro recai na mestria do autor para o tema escolhido: o processo de luto e todas as ramificações que este encerra em si mesmo. Um livro leve mas cuja temática, em nada leve, permite ao leitor reflectir sobre muitas questões pertinentes, durante e após a sua leitura. Gostei muito.

 


07. Adeus, Tsugumi (Banana Yoshimoto)
Uma autora que me suscitou interesse em conhecer mais. Um livro igualmente centrado na temática da morte, mas igualmente focado numa personalidade muito forte e com vontade de viver, independentemente da condenação da doença. Um livro que apesar de leve na escrita, consegue transportar o leitor com muita subtileza para temas pertinentes e com capacidade de reflexão.
 
 
 
 
 

06.Um Quarto que Não é Seu
(Alicia Giménez Bartlett)
Adorei este livro! Numa grande simplicidade, este livro dá voz à criada de Virginia Woolf e aos seus lamentos numa casa recheada de injustiças e incompreensões. O mais interessante é descobrir alguns segredos da escritora através de uma peculiar empregada, de vincada personalidade e com passagens tão caricatas, impossíveis de esquecer.
 
 
 
 
 

 
05. O Estranho Caso do Cão Morto
(Mark Haddon)
Um livro verdadeiramente divertido! Uma história sobre Christopher, um adolescente de 15 anos, autista, que vive no seu próprio mundo, perdido nas cores, contando atentamente os carros que passam...até que um dia o cão do seu vizinho aparece morto e decide que não descansará até descobrir o autor do crime. Verdadeiro humor!
 
 
 
 
  
 


 
04. A Trégua (Mário Benedetti)
Um livro absolutamente espantoso sobre a necessidade de renovação perante as diferentes fases da vida a que somos confrontados. Perante a necessidade de amor, de reconhecimento, de um novo ar, de um novo alento... de uma nova vida. Parece pouco leve, de facto... mas lê-se muito bem e a mensagem é duradoura, uma relíquia que se quer sempre guardar.
03. Aldeia de Pedra (Xiaolu Guo)
Para mim, foi uma maravilha deparar-me com a literatura chinesa. Este livro é um verdadeiro encanto. Leve, quase flutua... uma história encantadora enraizada na cultura daquela região, revela ao leitor a vida de uma jovem perdida após uma violação e o poder regenerador da alma, do sonho e da esperança.
 
 
 
 

 
 
02. Beija-Mim(Jorge Araújo)
Uma relíquia sobre a angústia e ansiedade do primeiro beijo. Tudo em torno deste tão importante acontecimento. Como será? Será pecado? Haverá um manual de instruções? Poderei ter pastilha elástica? O personagem desta pequena história é uma ternura e ao longo desta sua importante experiência permite realçar o quanto as coisas pequenas da vida são as mais valiosas.
 
 
 
 
 
 
01. Catarina ou o Sabor da Maçã
(António Alçada Baptista)
Além de ser um escritor português que admiro muito, este «Catarina e ou o Sabor da Maçã» é um livro que gosto particularmente. A dinâmica dos relacionamentos, esse rodopio louco de amar e de tudo querer. Um livro leve, numa escrita espontânea que só António Alçada Baptista me habitua, atribuo o nº1 da minha lista a uma história sobre nada mais nada menos do que a incerteza de amar.
 
 
 
 
Como se pode reparar, a maioria dos livros não recai apenas e só no humor. Penso que um livro leve também pode trazer, além do humor, algo mais consistente na sua temática, a capacidade de reflectir após a sua leitura e permanecer na memória do leitor.
Obrigada Manuel, pela inspiração! :)
 
Boas leituras a todos
 
 

Autobiografia de Marilyn Monroe (Rafael Reig)

terça-feira, 13 de agosto de 2013


Falar sobre Marilyn Monroe não constitui qualquer surpresa. No entanto, ler esta autobiografia foi um verdadeiro prazer.
Para sempre relembrada como um ícone de beleza e perfeição, através desta autobiografia em jeito de consulta de Psicologia/Psiquiatria, vemos uma Marilyn nua em todo o seu esplendor: os medos, as inseguranças, uma infância estilhaçada, as crenças, os desejos, os receios, as ingenuidades, as loucuras e a ternura de uma mulher que nunca deixou de ser uma menina agarrada à falsa segurança da sua beleza.
 
 
 
"Para mim, o sexo sempre foi algo natural, agradável, belo. E, ainda por cima, é gratuito. É a coisa mais agradável do mundo e é grátis, de maneira que sou partidária de o praticar com frequência. Estamos todos tão sozinhos, precisamos tanto uns dos outros, que me parece que devemos foder quase constantemente, em primeiro lugar pela satisfação que tal produz, e, mesmo que não proporcione prazer, como quase sempre acontece comigo, devemos fazer sexo por uma razão muito mais importante: para nos fazer companhia."
 
 
"É tudo verdade, mas sabe o que é pior?, sabe o eu mais me dói? Que não me tenham amado. Isso é o mais espantoso que nunca ninguém me tenha amado."
 
 
"Curioso: faço parte dos sonhos das pessoas, mas eu própria não consigo dormir. É muito curioso."
 
 
"A moral não está entre as pernas, não se perde debaixo dos lençóis, como se fosse uma moeda ou um brinco, e ninguém ta pode tirar, muito menos à força."
 
 
"É por isso que vocês [homens] falam no acto de possuir uma mulher? Acreditam mesmo que possuem alguma coisa? Acreditam nisso a sério?"
 
 
"Sabe uma coisa? Às vezes acho que as pessoas só pensam em mim daquela maneira: com a saia por cima da cabeça."
 
 
 
Uma mulher que ficará para sempre. Uma infância desde logo destruída. Um caminho sinuoso que, sem dúvida, a levou à fama mas que nem por isso a fez chegar onde queria:
 
 
"A única coisa que quero é que me amem. Só isso. É simples. Não quero que me compreendam. Quero que me amem. Que me amem. É tudo."
 
 
 
 
Ao som de: Leona Lewis "Bleeding Love"

O Pequeno Amigo (Donna Tartt)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A «História Secreta» de Donna Tartt é um livro repleto de excelentes críticas. Perante «O Pequeno Amigo» fui surpreendida, antes da leitura, com inúmeros comentários de insatisfação perante este segundo livro da autora. Desde o desvio drástico do género narrativo, ao conteúdo, ao número de páginas, foram muitos os aspectos evidenciados. Entre estas e outras questões, discordo totalmente. É verdade que estamos perante um livro que difere um pouco na dinâmica que é apresentada em «A História Secreta», mais fluida e que, por isso, desperta no leitor a avidez da leitura até ao final. No entanto, apesar de mais denso, estamos perante um livro cuja densidade psicológica atribuída aquele livro, é igualmente patente em «O Pequeno Amigo».Ambos os livros da autora parecem ser escritos numa escuridão emocional quase palpável, onde o remorso, a saudade e a tentativa de recuperar um tempo que não volta, são bocados de gelo que permanecem intocáveis em cada personagem, ao longo de cada história.
Mas, focando-me neste «Pequeno Amigo», a história centra-se na morte do Robin, um menino de 9 anos, encontrado enforcado numa árvore perto da casa da família. A partir desse fatídico e cruelmente irónico «Dia da Mãe», nada será o mesmo. A irmã Harriett, com meses na altura, cresce rodeada de histórias fantásticas em torno do irmão e que criam nela um desejo crescente de vingança, custe o que custar... Um desejo de vingança aliado à crença capaz de restabelecer a paz e a harmonia de uma família como sonha ter, com refeições normais, com roupa engomada e que cheira a tal, com ordem em todas as coisas e em si mesma...
O desejo de vingança pode ser tão poderoso que acaba por criar em Harriett a certeza de um culpado. A sua certeza bastou-lhe para criar assim um caminho vertiginoso, por vezes, arrepiante nessa busca de paz interior, de vingança em nome do irmão e de uma família cada vez mais disfuncional.
É assim, com base no medo, na perda, no luto, no remorso, na tristeza, na escuridão das almas que Donna Tartt consegue realçar a densidade psicológica das diferentes personagens, atribuindo-lhe a voz em cada um dos seus momentos, tornando a sua narrativa mais rica e mais viva.
Estamos perante um livro denso, que por vezes deixa o leitor submerso perante as incertezas, de cada um dos personagens, mas nunca indiferente perante a dor e coragem em perseguir uma certeza pela justiça que se vai diluindo na própria dor e fragilidade.
 
Um dos objectivos da autora, com este «Pequeno Amigo» foi criar um ambiente cuja infância fosse retratada num contexto inesperado. Na minha opinião, não podia tê-lo alcançado de forma mais sublime.
 
 
Um livro que merece toda a atenção, determinação e dedicação de um leitor.
 
 
Ao som de: Switchfoot "Only Hope"
 
 
www.wook.pt: Numa pequena cidade do Mississípi, Harriet cresce na sombra do seu irmão, encontrado enforcado numa árvore do jardim da sua própria casa, quando ela era ainda um bebé. O assassino nunca foi identificado, e a família nunca recuperou da tragédia. Harriet, ferozmente determinada, muito precoce para os seus doze anos, decide, num Verão, resolver o assassínio e reclamar vingança. O único aliado de Harriet nesta busca é o seu devoto amigo Hely. Mas o que em breve encontrarão nada tem a ver com brincadeiras de crianças: é obscuro, adulto e demasiado ameaçador. 
 

Almas Cinzentas (Philippe Claudel)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013


Em «Almas Cinzentas» a realidade que surge parece diluir-se na velocidade do tempo e, simultaneamente, essa velocidade torna-se igualmente diluída, sem sombras de qualquer certeza. Sobretudo, certezas que permitam balancear na precisão matemática isso que dizem ser o certo e o errado.
Aquilo que ontem era irrevogavelmente certo, punível, que dava ao coração o alento da investigação e da vingança que curaria uma dor já antiga no tempo, mas eternamente recente no seu azedume, deixou agora de ter qualquer sentido. Ou outro sentido que os dias, as sombras, permitiram lá chegar.
O sentido das almas cinzentas. Todas elas iguais. Num único ponto comum: a nostalgia de um tempo que jamais voltará.
 
Um livro a reter.
 
 
 
www.wook.pt. Vencedor do Prémio Renaudot, Almas Cinzentas foi considerado o romance preferido dos livreiros, segundo um inquérito conduzido pela revista Livres-Hebdo, bem como – segundo a revista Lire - o mais importante romance publicado em França durante o ano de 2003.
Um romance que, em jeito de thriller, toca o universal para revelar o ser humano em toda a sua fragilidade e grandiosidade.
Inverno de 1917. Numa pequena povoação da Lorena, a poucos quilómetros do campo de batalha onde decorre uma das maiores carnificinas da história da Europa, é descoberto o cadáver de uma menina de dez anos. O assassino é encontrado na figura de um jovem desertor que é imediatamente executado, ainda que uma testemunha diga que viu a criança encontrar-se com o insondável Procurador da terra na noite do crime.
Muitos anos depois, vai ser o polícia da aldeia, que desde o início duvidara da culpa atribuída ao rapaz, a relembrar o dia do crime e a cadeia de acontecimentos que o precederam e que se lhe seguiram. Uma história que termina com a tomada de consciência de que, na fronteira entre o bem e o mal, todos somos a um tempo culpados e inocentes, justos e injustos, almas cinzentas e atormentadas.
 

A Dama das Camélias (Alexandre Dumas, Filho)

domingo, 4 de agosto de 2013

 



Os clássicos da literatura têm sempre um encanto especial. "Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer", já alguém assim o referiu.
«A Dama das Camélias» é um clássico. Por si mesmo. Uma história aparentemente simples, mas uma excepção, pois "se fosse uma generalidade, não valeria a pena escrevê-la".
Não é comum uma cortesã apaixonar-se e largar os luxos que a complementam. Não é comum uma mulher por conta deixar para segundo plano uma vida desafogada em troca de sentimentos que nada lhe asseguram. Não é comum essas mulheres terem coração, assim se dizia.
«A Dama das Camélias» era essa excepção. Abraçou o amor ao invés da vida que sempre conheceu, enfrentando todas as adversidades que saberia, à partida, que a esperariam. No entanto, sendo a vida um conjunto de somas e subtrações nada previsíveis, Marguerite Gautier não somou ao seu romance salvador as imperfeições desse sentimento.
Inseguranças e medos de quem ama quem já primeiro amou números e jóias. Medos de quem ama quem já amou a quem muito antes amou sem coração. Um rodopio de medos de amar, e dores de amor.
Restou a esperança de uma história por contar. Restou sempre a esperança de uma carta por ler. Restou sempre a última força, redentora, de invocar uma verdade que justificasse os gestos.


"É certo que deve parecer muito ousado da minha parte querer obter grandes resultados do fraco assunto que trato; mas sou daqueles que acreditam que tudo está em pouco. A criança é pequena e encerra em si o homem; o cérebro é estreito e abriga o pensamento; o olho é apenas um ponto e abarca léguas."


O narrador desta história de amor permite conhecer o desfecho. Onde o pouco se torna muito, onde a esmagadora simplicidade dos gestos acaba por prevalecer a tudo o resto. Onde o amor, nos lugares mais improváveis, nasce e permanece. Para lá do suposto.


Um dos mais notáveis romances dos século XIX e que, obviamente, recomendo.
 

www.wook.pt : Marguerite Gautier, cortesã, é uma amante sustentada por alguns dos homens mais ricos de Paris. O seu hábito de levar sempre uma camélia branca quando vai à ópera ou ao teatro vale-lhe a alcunha de «Dama das Camélias». Vive uma vida de luxo e dissipação, mas no seu coração escondem-se as sombras de uma melancolia discreta e persistente. Até que conhece o jovem idealista Arman Duval, cuja paixão intensa lhe devolve a fé no amor... Mas será possível amar contra todos os preconceitos e convenções? Acima de tudo, será possível amar quando o amor pode custar a própria vida de quem ama? Marguerite Gautier, que Verdi transformou na Violetta Valery de "La Traviata", e a quem deram rosto actrizes como Greta Garbo e Sarah Bernhardt, é um dos ícones da feminilidade no século XIX.
 

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