Os memoráveis de 2018

domingo, 23 de dezembro de 2018



Hoje partilho consigo os meus livros memoráveis de 2018.
 
 
Seja feliz,

O leitor do comboio (Jean-Paul Didierlaurent)

domingo, 16 de dezembro de 2018


Sem rodeios lhe digo que não gostei de ler este livro. Este é um daqueles clássicos casos em que o tema é interessante, o enredo promissor mas o resultado infeliz.
A história é centrada em Guylain Vignolles, um homem solteiro, solitário, conhecido pelas leituras que faz em voz alta nas suas viagens de comboio, todas as manhãs, enquanto se dirige a um trabalho que o repugna. A Coisa é o nome que atribui à máquina com a qual tem de trabalhar e que se dedica, nada mais nada menos, à destruição de livros. Como uma espécie de reivindicação, o homem arranca algumas folhas de livros aleatórios e lê, sem preâmbulos, a todas as pessoas do comboio. A manhã de cada dia.
 
Um dos aspectos que mais me desagradou passa precisamente pela mudança radical de trajetória do livro. O tema principal, na minha opinião, é totalmente desviado. Permita-me a comparação à mudança de linha de comboio sem se dar conta. Quando dá por si, está bem longo do ponto inicial.
 
Um dia Guylian Vignolles encontra uma pen drive perdida num dos assentos do comboio. Ao chegar a casa, percebe que tem em sua posse o diário de uma jovem mulher. Lembra-se de lhe ter falado na mudança drástica de trajetória de tema? Pois bem, a culpa é dessa pen. A culpa talvez seja dessa mulher que lhe fez perder o norte, para o encontrar mais tarde nas leituras partilhadas no comboio.
 
Quando me debrucei sobre esta leitura, ao alegarem esse amor aos livros, pensei que estaria de facto centrada na leitura de um personagem atormentado que via no amor aos livros a sua espécie de redenção. Caro leitor, não se iluda. Este livro não passa pela temática dos livros (talvez metaforicamente), muito menos ao amor pela literatura como a certeza de não estarmos sós. Não. Este é um romance, delineado pobremente, que nos desvia, nos desorienta para, no fim, nos depararmos apenas e só com mais um final feliz de um homem e de uma mulher que (também precariamente) se apaixonam.
 
Se é um leitor exigente, vai zangar-se um bocadinho.
Acontece, não me dirá?
 
 
 
 
Seja feliz,

Ler(-te) em Português | 2ª edição

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

 

 
 
O «Ler(-te) em Português» vai voltar em 2019.
Um clássico dos nossos, a cada mês.
 
 
 
Vamos ler em português.
 
 
Seja feliz,

Clarice

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

"Já era amor antes de ser."




Clarice Lispector
10 de Dezembro de 1920
 

A vida em surdina (David Lodge)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


«A vida em surdina», de David Lodge, traz-nos a história de Desmond, professor universitário reformado, na sequência da sua progressiva surdez. Esta será, assim, a história de um homem incapaz de reverter os sinais da sua limitação, inesperada na sua idade.
 
São muitas as vezes em que nos dizem que a surdez é cómica, a cegueira é trágica. É um pouco nesta base que seguem os desabafos deste (hilariante!) personagem.
 
Numa fase da sua vida em que acredita ainda ter muito para dar, vê-se resignado aos dias reformados comparativamente à vida profissional da sua mulher, cada vez mais promissora.
 
O confronto consigo mesmo é inevitável. Pensamentos deprimidos. A saudade de um tempo antigo. O confronto com o seu pai, também ele com problemas de surdez mas que, segundo Desmond, lhe são legítimos. Assim ditam os 80 anos e a validade de qualquer doença.
 
Será uma jovem estudante, na universidade onde lecionava e onde ainda se dirige várias vezes, que agitará os dias mornos de Desmond. Quando lhe propõe que seja o seu orientador na tese de doutoramento sobre as particularidades das notas de suicídio, o nosso personagem vê na proposta uma janela que se abre. Uma novidade que poderá agitar a vida pacata, monótona que agora vive.

O que não sabia ele é que a jovem estudante surge envolta em mistérios, mentiras gratuitas e curiosidades que viciam. Desmond ver-se-á envolvido numa teia próxima da novela das cinco, sem no entanto, ter o fim à vista.

«A vida em surdina», apesar de retratar um tema que à partida nos inspira compaixão e uma certa tristeza, é um livro verdadeiramente hilariante. Não consigo encontrar palavra que melhor o defina. Desmond é inesquecível pela agilidade do seu pensamento, que não para, dos seus desabafos, que nos fazem rir e a globalidade de questões que nos oferece para refletir. Falamos nas limitações físicas que tantas vezes fazemos questão de pensar que só acontecem aos outros e, depois, as limitações dos corações antigos: que têm vícios, lembranças, memórias que condicionam.

Dizem que é a vida em surdina.
Gostei muito, muito!
 
 
 
 
Seja feliz,
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