Verdades Universais

quinta-feira, 31 de março de 2016

Eis que os pequenos príncipes voltam a ceder modelitos às fotografias :)
 
Quem no mundo das leituras não conhece já esta frase será, no mínimo, um facto curioso.
Pois eu, de tanto a saber de cor, não me canso de a repetir.
Quanto mais se repete, mais se evidencia uma verdade que se quer, à força da teimosia, universal.
Boas leituras. Bons momentos.

Talismã (Mário Zambujal)

terça-feira, 29 de março de 2016


Os livros de Mário Zambujal são promessas vincadas de boa disposição, do princípio ao fim.
Nesta sua mais recente obra, os temas da sorte e do azar são aqui dispostos como baralhos de cartas. A probabilidade entre um e outro dependerá, pois então, da força do acreditar e para tal, nada há que melhor explique o poder das coisas, através de um inexplicável talismã.
Nesta engraçada história, o leitor acompanhará as desventuras de Pablo Luís Martinez da Silva, um coração inflamado apreciador da "desordem natural das coisas".
Pablo é moço simples, sem grandes ambições, mas que vive intensamente os amores a que se dedica. A vida parece um conjunto de banda desenhada que se lhe sucede vertiginosamente e ele, assolapado e encantado, participa em cada uma das ações com exímio empenho.
Nesta obra, também Mário Zambujal continua exímio na escolha de personagens singulares na forma de pensar e invocar queixumes às normais sociais dos nossos dias. São exemplos como a necessidade extrema às tecnologias, às siglas para tudo e mais alguma coisa, os estrangeirismos tão bem adaptados à nossa maravilhosa língua – e a que o autor nos vai habituando - para terminar, busílis da história, nas superstições tão acarinhadas deste país do fado, cinzento e triste, que procura em si mesmo uma justificação para os seus males maiores com males pequenos, a servir de consolo e amparo.

Se tal amparo serve, ou não, cada um decidirá por si.
Boas leituras!

Aos Dias de Chuva

segunda-feira, 28 de março de 2016

A Morgadinha dos Canaviais (Júlio Dinis)

sábado, 26 de março de 2016


Júlio Dinis era, afinal, Joaquim Guilherme Gomes Coelho. Nasceu no Porto em 1839, formou-se em Medicina, mas não chegou a exercer porque a tuberculose obrigou-o a desistir da profissão e a abandonar a cidade. Em Ovar, terra natal do seu pai (a mãe era de origem inglesa), encontrou tempo para se dedicar à literatura e escrever As Pupilas do Senhor Reitor, o seu primeiro romance. Logo que se sentia restabelecido regressava à cidade e aos seus afazeres profissionais, mas a doença não lhe dava tréguas e volta e meia via-se forçado a refugiar-se no campo. Faleceu no Porto em 1871 vítima de tuberculose. Tinha apenas 32 anos. Apesar de jovem, deixou-nos uma importante e vasta obra, na qual encontramos A Morgadinha dos Canaviais, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Serões da Província e Uma Família Inglesa (o único dos seus romances que não tem por cenário o meio rural).
 
 

«A Morgadinha dos Canaviais» dá-nos a conhecer a história de Madalena, das suas gentes do Minho e das muitas aventuras a que estas personagens estariam guardadas.
Apesar da narrativa se centrar na morgadinha - Madalena - e que a esse nome se vinculou pela sua madrinha, «A Morgada dos Canaviais», esta singela história de Júlio Dinis começa com a não menos inesquecível personagem de Henrique de Souselas, hipocondríaco citadino que apenas na cidade vê os vislumbres da vida e a aldeia, essa, um manto de inatividade e atraso decadentes. Contudo, um dia em que as suas muitas doenças parecem agravar a passos largos, segue desesperado os passos de um médico que lhe aconselha os ares do campo.
Começa uma viagem em direção ao campo, para a casa da tia Doroteia, cuja morgadinha seria referida inúmeras vezes, na mesma medida em que o espanto e a admiração dos populares competia com o despeito e irritação de Henrique.
 
 
 
Dá-se início ao grande motor desta história de Júlio Dinis: o amor não correspondido de Henrique pela Morgadinha dos Canaviais, mulher de fortes ideais, de forte caráter e de coração no lugar certo.
 
Uma história leve que tal como Eça referiu sobre o autor "viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve", mas ainda assim, neste pequeno enredo o leitor terá o privilégio de se confrontar com personagens verdadeiramente inesquecíveis.
Augusto, o rival de Henrique, que por ser pobre, mas uma distinta inteligência e nobreza, afunda os sentimentos de adoração à morgadinha. Cristina, prima daquela, apaixonada por Henrique, e que não se sabendo correspondida viverá enormes ciúmes de sua prima.
 
E depois, depois há tantos outros!
Vicente, o herbanário com uma aura de vidente que tudo parece saber sem procurar. O Conselheiro, pai de morgadinha a representar o vínculo amargo que Dinis pretende também invocar na sua obra quanto à escuridão da política e os seus amargos de boca. Ermelinda e Ângelo, um amor destronado por uma madrinha tão devota quanto castradora, invocando agora a religião, na minha opinião, sublimemente bem feita pelo autor.
 
Outros temas poderão ser invocados e penso que é precisamente o ponto que gostaria de frisar nesta obra que vos trago hoje: Júlio Dinis pode, segundo Eça, (e tantos outros!) ter vivido e escrito de leve, mas quem lê «A Morgadinha dos Canaviais» tem a oportunidade de extrair desta crónica da aldeia camadas infinitas de pequenas grandes lições de vida. Leves ou não, ficarão na consideração do leitor...
 
De um amor arrebatador que se julga inultrapassável, à dor de uma injusta calúnia, aos mal entendidos que levam a resoluções infundadas, aos amores mal colocados, aos preconceitos sociais e ao ciúme desmedido, tudo parece ter a solução ideal quando na mesa se coloca o peso certo de quem fala a verdade, sem falsa modéstia ou pudor.
E nesta história, a última palavra pertencerá, para sempre, à Morgadinha dos Canaviais.
 
 
Muito bom.
Recomendo.
 
Termina, assim, a terceira etapa deste meu desafio pessoal.
Venham mais! Boas leituras.

A ler a Morgadinha dos Canaviais

terça-feira, 22 de março de 2016

 
   
Uma das muitas passagens encantadoras deste livro fantástico de Júlio Dinis.
A míseras páginas do fim. A adorar!
 
Boas leituras!

Há Guerra & Paz no correio!

domingo, 20 de março de 2016

  
Com o simpático apoio da Editora Guerra & Paz, chega cá a casa um livro há muito esperado: «O Amante de Lady Chatterley».
Será uma das minhas próximas leituras.
 
Um grande bem haja à Guerra & Paz e à sua amabilidade para com os leitores.

Purity (Jonathan Franzen)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Foi com «Liberdade» que conheci a genialidade de Jonathan Franzen.
Em «Purity» pude constatar, de uma vez, que este será provavelmente o escritor contemporâneo que mais gosto, que mais rapidamente cativou o meu interesse e escalou os lugares cimeiros das minhas preferências. É absolutamente soberba a forma delicada, simultaneamente mordaz e cruel como Franzen escreve sobre a América e seus costumes, numa espécie de montanha russa nivelada por momentos mais e menos densos.
 
Este livro conta a história da jovem Purity, a braços com uma dívida que contraiu para pagar o seu próprio curso, sendo este apenas um dos gatilhos de uma história repleta de personagens completos, complexos e muito bem desenvolvidos.
 
E Frazen faz isso mesmo ao longo do livro: cada uma das suas partes evidencia com maior pormenor cada uma dessas intrincadas personagens. Temos Andreas Wolf, jovem promissor e fundador do Projeto Luz Solar, cujo objetivo passa por traficar todos os segredos do mundo...
 
Annagret. Anabel. Tom. Leila.
 
Mais personagens adensarão um livro inesquecível e a forma como Franzen os cruza e descruza é, simplesmente, magistral.
 
Os caminhos de Purity e Andreas, ambos cuja vida foi pautada pelas neuroses de mães possessivas, que vivem para lá da realidade dos dias, vão cruzar-se de uma forma aparentemente casual. Pasme-se o leitor com o futuro reservado a ambos.
 
Um dos aspetos mais fantásticos da escrita de Franzen é o crescimento que consegue atribuir às personagens, bem como a sua (enorme!) densidade psicológica, que agarra o leitor impreterivelmente.
 
Não quero dar spoilers deste livro até porque, para isso, teria de desenvolver de uma forma bastante exaustiva todo o enredo. Nesse sentido, o que pretendo com esta minha análise é enfatizar o monstro que é Jonathan Frazen na arte de bem escrever, na arte de bem tecer um enredo repleto de personagens peculiares e brilhantes, na arte de perpetuar a sua história depois de lida.
Penso que são precisamente estes três critérios que definem, para mim, a qualidade de uma obra. A qualidade de um autor.
 
«Purity», mais do que um livro de segredos e o peso que estes acarretam ao longo da nossa vida, é um cenário bem demarcado do medo atroz da rejeição, do não se ser amado, tão bem personificado em Andreas Wolf e (desculpem o exagero e repetição) magistralmente arrastado a todos as personagens envolvidos.
 
Através das fraquezas das personagens, Franzen cria assim o ambiente ideal sobre o quanto os segredos têm de profundo e, simultaneamente, de fútil. Uma ambivalência que toca a loucura, que pesa e destrói.
 
Mais do que recomendado!

Gaveta de Filmes

segunda-feira, 14 de março de 2016

 
 
Um filme muito pertinente sobre a profundidade das consequências do bullying.
Acontece maioritariamente na infância/adolescência.
Mas quem disse que termina nessa fase?
As consequências podem, de facto, ser inimagináveis.
 
Aconselho vivamente.
 
 
Trailer:
 

A ler Purity #2

quinta-feira, 10 de março de 2016


Já vos disse o quanto adoro a obra de Jonathan Franzen?
A venerar cada momento. Soberbo. Soberbo.

A ler "Purity"

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ler(-te) em Português de Março

domingo, 6 de março de 2016

 
Mais um mês e com ele um novo livro a integrar o meu desafio literário deste ano. O Ler(-te) em Português de Março será contemplado com a obra de Júlio Dinis: «A Morgadinha dos Canaviais».
Vamos lá então! 
Boas leituras. 

Poderão ler mais informações sobre este desafio pessoal, aqui

Ler(-te) em Português de Janeiro, aqui
Ler(-te) em Português de Fevereiro, aqui 

Tóquio vive longe da terra (Ricardo Adolfo)

quinta-feira, 3 de março de 2016










Com uma escrita limpa, direta e mordaz, num registo de quem parece estar constantemente a brincar consigo próprio e com os outros, apresento as primeiras impressões de quem acaba de se cruzar com a obra do peculiar Ricardo Adolfo. Segundo muitos, uma verdadeira revelação no panorama da literatura portuguesa dos nossos dias.
Gostei das suas aventuras enquanto alien perdido no Japão, desde as suas deambulações, o encantamento, o receio da novidade, as precaridades a que a adaptação a um novo lugar obriga, o ajustamento a um novo trabalho, as particularidades de um novo país, muito sublinhadas pelo autor e sempre, repito sempre, muito demarcadas com uma mordaz comédia de quem satiriza consigo mesmo e, vamos lá entender, será mesmo assim?
Ricardo Adolfo é um escritor muito inteligente, a forma aparentemente desprendida como larga as suas ideias, ao leitor mais desatento, poderá resultar simplesmente numa leitura leve e divertida. No entanto, subentendi muito mais do que isso, numa reflexão profunda de um país - vários países, na verdade -  repleto de histórias, de recantos não visitados, de políticas e de apontar de dedos.
 
Apesar de não totalmente convencida com este seu mais recente livro, deixou-me a convicção de voltar um dia para lhe conhecer mais intricadas histórias com o seu, atrevo-me a adivinhar, humor particular.
 
Boas leituras!

I Miss You, Man(n)

quarta-feira, 2 de março de 2016

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