a máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012




Se as consequências dos acontecimentos que não se realizam são inexistentes, qual é a razão, o motivo, de passarmos tanto do nosso presente dentro de um passado, supostamente, insignificante?
Não me façam acreditar que aquilo que não se realiza, que as condutas perdidas num solo de afectos mortos à nascença - porque assim tinha de ser - não é real.

O coração diz que é!

Ao som de: The Script "Science and Faith"


 

Tive de o matar (Romana Petri)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Os teus olhos, brilhantes e redondos, sempre estiveram certos da magia que fariam no meu corpo, na minha mente, enfim, neste cérebro feminino ... pensavas tu.
O teu corpo, qual escultura por ti feita, sempre certo da magia que faria no meu, entrelaçado no meu, na minha mente em dias cinzentos dando-lhe a cor que faltava, enfim, a cor necessária a este cérebro feminino ... pensavas tu.
O teu amor às pequenas mulheres sempre esteve certo da minha indiferença. Indiferença ... neste meu cérebro pequeno... e feminino.

Não confies em mim.
Nunca confies em mim.
Nunca confies numa mulher.





Dedicado aos homens que erradamente se julgam como tal, e que merecem um bom tiro no intelecto ... ver se acorda! ;)


Ao som de: 30H!3 "Don't trust ME"



Um quarto que não é seu (Alicia G. Bartlett)

sábado, 21 de janeiro de 2012





Ao lerem este livro vão deparar-se com a tristeza, com a indignação, com a raiva e com um amor pincelado a ódio da criada pela patroa. A criada de ... Virginia Woolf.
Ao longo dos dias marcados no diário de Nelly, vamos entrando na rotina cansada, e cada vez mais zangada, de uma criada que quer, desesperadamente, fazer parte de um mundo encantado. Um mundo de artistas, esses intelectuais, que pensam ser diferentes só porque escrevem livros, mas ela deseja lá entrar, mesmo que inconscientemente. 
Porém, um dia, a raiva explode como a rolha de uma garrafa, e só deseja de lá sair. Cansada, nunca mais volta. Virginia e as suas doenças. Os livros. As letras. As injustiças. Nunca mais volta. Esse grupo de intelectuais que nada entendem! Fechados em si!

"Além disso, há a questão do quarto, um quarto só para ela pela primeira vez na vida!" (p.12)

Quanto à senhora ... dizia-me muitas vezes: "O que importa é ter dignidade, Nelly" (...) "como se ela me tivesse permitido tê-la, como se lhe importasse a dignidade dos que estavam à sua volta. (...) Mas no fim segui o seu conselho, vejam só, e livrei-me dela, e de que me mudassem de casa para outra como se fosse um objecto que tivessem comprado. (...) Tenho dignidade. (...) Quanto a ela... três semanas no fundo do rio, a flutuar corrente abaixo, inchada e deformada como uma dessas reses que se afogam nas enchentes, o nariz e os lóbulos das orelhas comidos pelos peixes, a roupa meio arrancada e meio apodrecida, foi essa a sua dignidade no fim." (p.13)


Nota: Virginia Woolf, depressiva, suicidou-se, atirando-se ao rio Ouse, em 1941.


Sinopse: Um fantástico livro baseado nos diários de Nelly Boxall, a criada de Virginia Woolf. Relatos de uma relação de anos, e desenhada a contornos muito difíceis. Recomendo vivamente. 

O Príncipe da Neblina (Carlos Ruiz Zafón)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A leitura deste livro afoga-te em três poderosos mundos:
 a magia, a amizade e o amor.
Afoga-te tão intensamente, e tão docemente, que a única dor é a de uma saudade pesada: a saudade que te diz não poderes voltar atrás mas, no entanto, poderás moldar o coração, e ligares essa forte corrente ao cérebro, relembrando todas essas maravilhas que, apesar de distantes, desenham aquilo que és hoje.

Brindemos ao primeiro amor, à amizade, às Doctor Martens, às pizas, ao verniz preto, aos segredos, aos The Smashing Pumpkins, às Artes, às cartas trocadas com a Joana, às meias coloridas, aos diários, às intrigas, ao primeiro beijo, aos corações partidos, às festas. A tudo aquilo que te desenhou naquele tempo! :)

Ao som de: The Smashing Pumpkins "1979"



O Sentido do Fim (Julian Barnes)

domingo, 8 de janeiro de 2012


Tempo. Memória. Tempo e memória. Os caminhos misturam-se como amantes desesperados, numa cama isolada do Mundo. Isolada. Tão isolada que se perde a sua noção.
Noção de tempo perdido e que a memória reconstrói.
Fechamos os olhos e tentamos recuar para lá da idade, dos dias jovens e solarengos. Encontramos quem fomos, percorremos caminhos já conhecidos, amigos perdidos nas páginas de um diário e repousamos numa questão: somos os mesmos?
Uma questão construída pelo poder do tempo, amenizada pela suavidade da memória, que lhe dá os contornos que desejamos. Desenha, confortavelmente, as imagens de um "Eu" desejado, misturado num tempo que não volta, entre realidade e irrealidade...

"Afinal, não foi bem assim."

A idade aumenta e assim também o REM, trazendo-nos mais tempo de sonho durante a noite. Bom, da noite para o dia vai um pulo. Do real ao irreal, também.

"Quem era aquele, naquela altura? Eu?"

A memória faz o resto. Recorda na parceria de um coração aflito. Um pó mágico que altera a necessidade de não ver o que está, e ver o que nunca antes esteve.
Quase sem darmos por isso.


Ao som de: Franz Ferdinand "Take Me Out"

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