Citação

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

 
 
 
 
 
 
 
 
 
"The world is a vampire."
 
(Billy Corgan | "Bullet With Butterfly Wings" | The Smashing Pumpkins)
 
 
 
 
 
 
 

A Nona Vida de Louis Drax (Liz Jensen)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nas muitas críticas que li sobre este livro, a palavra "humor" foi recorrente, incluindo na capa do próprio livro (“divertido”).
Ainda estou a tentar perceber como é que este livro pode ser divertido. Falar em humor negro, ainda se compreende, mas divertido, com humor, ou que seja, não concordo. Minimamente.
Não gostei deste livro. Penso que a autora batalhou exageradamente para trazer ao de cima um tema centrado numa síndrome (Síndrome de Münchausen) em que a carência afectiva é o grande elemento definidor (no presente caso), quando o poderia ter feito, na mesma linha, de uma forma menos fantasiada. Quero com isto dizer que me causou uma certa inquietude ler sobre esta síndrome, adivinhando a necessidade do Louis ser amado por uma mãe completamente desequilibrada (e altamente previsível no livro), num registo policial mirabolante com vozes do inconsciente, um neurologista pouco profissional apanhado nas malhas do amor, e vou continuando até ter mesmo a certeza que estou perante o pior livro deste ano.
Convenhamos, o leitor interessa-se pela temática e acaba-se o livro com uma criança que permanece em coma e com propensão a acidentes, em aberto…
Até consigo perceber a ideia, no geral, mas não me agradou minimamente.
Um enredo demasiadamente elaborado para uma temática, em si mesma, muito profunda e que foge, na minha opinião obviamente, ao que seria mais importante: o Louis Drax (que curiosamente, encabeça o título do livro…).
 
Não recomendo.
 
 
www.wook.pt: Louis Drax é um miúdo de nove anos, precoce, inteligente, problemático e muito dado a acidentes. Em cada ano da sua curta vida, sofreu pelo menos um episódio de maior gravidade, acidente ou doença, mas sobrevive sempre como o gato que cai sobre as quatro patas. No seu nono aniversário, durante o piquenique familiar, o pequeno Louis cai de uma falésia e afoga-se num rio permanecendo num coma profundo de onde poderá não regressar… Uma história brilhante, contada a duas vozes: a do próprio Louis, dentro do seu inacessível subconsciente, e a do neurologista, ao cuidado de quem o jovem fica após o misterioso desaparecimento do seu pai.

Poesia

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso. Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta. Agora há prédios onde havia
laranjeiras e romãs no chão e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
é suficiente neste passeio. Quando não escreves
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio
é maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria
prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana. Mantêm-se as causas iguais
das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina
dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono
custa. Porque estou contigo e me deixas
a tua imagem passa pelas noites sem sono,
está aqui a cadeira em que te sentaste
a escrever lendo. Pudesse em propor-te
vida menos igual, outras iguais obrigações.
Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal.
Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque não falam o que vai
no seu silêncio aqueles cujo olhar
me fala da solidão.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria ao teu rosto, mesmo de um convite
ousado fugiria, esta mão conhece-te
e desenha no ar o hábito
por que andou antes de saíres
do espaço à sua volta. Estás longe,
só assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz é uma corda, a minha
um fio a partir-se.
 
 
Hélder Moura Pereira (n.1949)

Pela Estrada Fora (Jack Kerouac)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Um romance autobiográfico, escrito por Jack Kerouac em meras semanas, retrata uma viagem desmedida pelas estradas da América do pós-guerra.
É um livro que se lê tal como o escritor o escreveu: sem destino. A ordem pouco importa. O autor escreve de acordo com os passos dados. Para onde vamos? Pouco interessa. O que importa é chegar a algum lado. Viver de acordo com a disposição dos dias, da estrada e da velocidade que se deseja.
O fascínio por Dean Moriarty (Neal Cassady), o seu amigo de viagem, leva Sal a percorrer sem destino estradas que se encheram de histórias. Histórias que com este livro, também viajam, de mão em mão.
 
E eis uma pequena citação que retrata na perfeição a essência de Jack Kerouac, e a geração Beat:
 
"Que sentimento é esse que  temos quando vamos de carro e nos afastamos das pessoas e elas vão diminuindo de tamanho na planície até vermos as suas manchas dispersar? É o mundo demasiado grande a pesar-nos, é o adeus. Contudo, curvamo-nos avançando para a próxima louca aventura debaixo do céu." (p.170)
 
 
 
 
 
 

Correr com Tesouras (Augusten Burroughs)

domingo, 15 de setembro de 2013

Estava a conversar com um grande amigo, com este livro na mão, e dizia eu: "Adorei este livro!" Daí, surgiu uma conversa sobre famílias disfuncionais que parecia não querer acabar...
«Correr com Tesouras» demonstra a genialidade do autor em transformar uma vida repleta de disfuncionalidades na destreza de ser capaz de olhar em frente e sobreviver. Doutorado em «Sobrevivência», como o próprio refere, este livro é um relato verdadeiramente surpreendente sobre a força humana, a necessidade de renovação e a capacidade de resiliência. É obrigatório.
Desde que se recorda, Augusten viveu rodeado pelo perfume característico da mãe e pela recordação das suas constantes ausências.
O acolhimento numa família nada comum traçou todo o seu percurso, desenhou o fim da sua infância e reforçou a certeza de uma adolescência marcada por modelos incapazes de seguir.
 
"O problema de não ter ninguém que nos diga o que fazer, compreendi então, era não ter ninguém para nos dizer o que não fazer."
 
Independentemente de um percurso pautado por ausências, disfuncionalidades, loucuras, num mundo muito para lá do inconveniente que compete a uma criança conhecer, o autor prova que é possível correr com tesouras, cortar-se, e curar-se das feridas. Tudo num mesmo percurso integrador de quem se supera a si mesmo.
 
Muito bom!
 
Ao som de: Radiohead - "Creep"
 

 
www.wook.pt: Augusten tem doze anos e diversas obsessões: joalharia, decoração, penteados, roupa e luxo em geral. A mãe, aspirante a poetisa, está a atravessar um divórcio difícil. Quando o seu psiquiatra, o excêntrico Dr. Finch, sugere que seria melhor para ela «separar-se» também do filho, ela não hesita. É assim que Augusten se encontra a viver no seio da estranha família Finch, onde a única regra é não haver regras: a árvore de Natal fica na sala durante todo o ano, o Valium é consumido livremente e, quando não há mais nada para fazer, pode-se sempre brincar com a velha máquina de electrochoques. Para Augusten, aceitar a sua homossexualidade, ao longo da adolescência (e descobrir que a mãe também é lésbica) é o menor dos desafios, ao crescer numa família sem regras ou sem ter qualquer espécie de acompanhamento, o que Augusten aprende é até que ponto a autonomia se pode tornar uma arma indispensável à resistência da sua sanidade mental.
 


Amor e Verão (William Trevor)

domingo, 8 de setembro de 2013



Uma história de amor. William Trevor rapidamente me surpreendeu e cativou de tal forma que integrou desde logo a minha lista dos grandes autores.
A sua escrita consegue ser, simultaneamente, fluida e profunda. Diálogos simples, entre personagem simples, com histórias simples, mas que nos envolvem nessa mesma simplicidade dos dias que passam distraídos com tudo e com nada.
Uma história de amor. Tão simples como qualquer outra. Uma história de amor vigiada por terceiros, ávidos de uma vida há muito esquecida pelos anos que passaram, leves e rápidos, e os arrependimentos que ficaram, pesados e perpétuos.
A tendência de vivermos a vida dos outros e a certeza que podemos projectar salvações nos outros, outrora dirigidas a nós, mas falhadas, retrata de certa forma parte da essência deste livro.
Mais do que uma história de amor, estamos perante personagens destroçadas que procuram um rumo, seja através do vigiar constante de uma janela que espelha um presente idêntico a um passado que não volta, seja através de um amor de Verão que apenas despertou a saudade.
 
Um livro muito bom. Um autor com a capacidade de criar personagens inesquecíveis.
Recomendo a sua leitura e não posso deixar, mais uma vez, de recomendar sobretudo a leitura de «A Viagem de Felícia», um dos seus livros que, para mim, consegue superar o presente.
 
Boas leituras!
 
www.wook.pt: Chegou o Verão e em Rathmoye pouco ou nada acontece. Tanto mais notória se torna a chegada de um estranho de cabelo escuro, Florian, que se passeia pela cidade na sua bicicleta. Miss Connulty, finalmente livre de uma mãe imperiosa recentemente falecida, resolve vigiar o desconhecido, com o que testemunhará a paixão de Ellie, jovem esposa de um agricultor, pelo rapaz. Ainda que Florian tencione deixar a Irlanda para sempre, entre ele e Ellie nascerá uma relação imprudente — imprudente e, na opinião de Miss Connulty, perigosa. No seu primeiro romance desde The Story of Lucy Gault, William Trevor evoca, com mestria, a paixão e as frustrações vividas por Ellie e Florian e pelos habitantes de uma pequena cidade irlandesa durante um longo Verão.

O Sol dos Scorta (Laurent Gaudé)

domingo, 1 de setembro de 2013


 
Quando comecei a leitura deste livro tive a certeza, quase imediata, que estava perante um livro que iria permanecer como um dos melhores. Não me enganei.
Trata-se de um livro sobre a força que a família impregna na alma de cada um e as decisões que são tomadas de acordo com esse cenário familiar repetido ano após ano, ou pela força de o contrariar, demonstrando o lado brindado pelo sol, esquecida a escuridão que marcou gerações e desenhou corações feridos para sempre.
É um livro notável sobre a capacidade de redenção, o poder da união da família e a força em mudar tendências e o passado, não o apagando, mas vivendo com ele afincadamente na mente e no coração: numa certeza plena que é o passado que nos molda mas é igualmente a força de um presente que nos distingue e nos garante a diferença merecida num futuro onde o nosso lugar é vitalício no coração de quem continua a história...
 
 

 
 
Prémio Goncourt de 2004
Depois de ter passado quinze anos na prisão, Luciano Mascalzone regressa a Montepuccio, uma pequena aldeia do sul de Itália onde as horas passam debaixo de um calor inclemente. Luciano vem à procura de Filomena Biscotti, uma mulher que desde a juventude deseja profundamente, mas ignora ainda que quem lhe abrirá a porta de casa e se deixará violar será Immacolata, a irmã mais nova de Filomena. Espancado pelos habitantes da aldeia, Luciano morre sem saber que Immacolata dará à luz um filho, o primeiro elo da linhagem dos Scorta…
Com uma imaginação que atingiu o seu esplendor e com a musicalidade de um estilo único, Laurent Gaudé conta-nos a existência dos Scorta de 1870 aos nossos dias, num fresco fabuloso que obteve em 2004 o mais importante prémio literário francês, o Goncourt.
 
Críticas de imprensa
"O amor, a morte, o exílio, or orgulho, toda a força de carácter das personagens fazem desta crónica uma obra-prima. Laurent Gaudé alcançou aqui o seu maior romance. A sua força de evocação é extraordinária. Inesquecível!"
Lire
"Magnificamente escrito, O Sol dos Scorta reconcilia a antiguidade com a modernidade."
"às agruras do destino, Laurent Gaudé opõe uma generosidade humana, num romance sensível e cativante."
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