Wishtree (Katherine Applegate)

quinta-feira, 26 de setembro de 2019



Imaginemos um mundo em que as árvores e os pássaros falam. Imaginemos um mundo em que as árvores se emocionam. Imaginemos essa realidade e entraremos, diretamente, para atmosfera criada por Kaherine Applegate em «Wishtree».

Quando abrir este livro entrará para uma realidade que é essencial nestes dias que passam velozes, sempre tão apressados, com tantas mensagens para responder, tantos cliques a dar, tantos prazos para cumprir. Sempre tanta coisa que nos desorienta daquilo que é realmente necessário: olhar para dentro. 

«Wishtree» é a história de uma árvore com sentimentos, que se confessa ao leitor sem grandes pudores, que teme por si e pelos animais que nela habitam, e que realiza desejos. Não gosta dessa fama, dessa ideia de ser capaz de modificar o mundo das pessoas sob a luz de uma magia que nunca se explica. A verdade, porém, é que a vida não passa disso mesmo: uma espécie de magia incapaz de se explicar contra essa corrente mórbida, e tão humana, de que para sermos felizes precisamos não só de entender tudo, como explicar tudo e alinhar todas as nossas tarefas como um castelo de cartas. Nada, mas nada mesmo, pode falhar. Ouse!

Está a sentir-se incomodado? Revê-se neste cenário que lhe ilustro?
Então, tenha cuidado. Parece-me que se tem esquecido de sonhar nestes últimos tempos.

Caro leitor apressado e vítima do tempo: desacelere, respire fundo e olhe à sua volta. Quando se sentir pleno ao respirar fundo e contemplar um pouco da enormidade que a Natureza tem para lhe dar, estará igualmente receptivo a vislumbrar aqueles sonhos cansados e perdidos na gaveta. E quem sabe, já agora, não estará igualmente receptivo a ouvir os segredos que as árvores têm para lhe contar.



Agora, vá passear. 
Ah e respire! Fundo!

💗

Seja feliz,

Crenças que prometem

quarta-feira, 25 de setembro de 2019



"Eu nasci esperto.
Ah sim?
Sim! E a cada dia que passa, mais esperto estou!"

Conversas (quase) filosóficas com o Principezinho mais novo.


Seja feliz,

Luanda, Lisboa, Paraíso (Djaimilia Pereira de Almeida)

terça-feira, 24 de setembro de 2019


Vencedora do Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2018, a segunda obra de Djaimilia Pereira de Almeida, «Luanda, Lisboa, Paraíso», é um livro escrito com sensibilidade na ponta dos dedos e que passa, irremediavelmente, para as mãos de quem o decide ler.

Cartola decide partir de Angola na tentativa de encontrar um tratamento médico capaz de salvar, e corrigir, o pé torto do seu filho Aquiles, cujo nome se lhe adequava inteiramente. Essa promessa de cura, à luz de uma específica cirurgia, poderia ser apenas contemplada quando Aquiles completasse 15 anos. Será nessa altura que ambos decidem largar a terra natal e seguem caminho para Lisboa.


É também a partir deste ponto que a história nasce na luz do preconceito social e do estigma de quem vive num país que não é o seu.

"Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita."

Este adágio prediz uma história pautada por muitas dificuldades e que, inquestionavelmente, alimentará a distância não só de Angola, como dos afetos entre um pai que deseja ser um modelo e de um filho cada vez mais desanimado e descrente sobre tudo o que a vida encerra.

Djaimilia Pereira de Almeida escreve uma história sensível sobre a relação entre um pai e um filho e o preconceito social através de uma jornada de muitos infortúnios e frustrações. Uma história que deixará o leitor abismado com a capacidade simultânea da autora de nos fazer oscilar entre uma enorme tristeza e uma enorme esperança.

Porque também é sobre esperança que nos escreve: a esperança como destino de todos os desafios que a vida nos impõe. De e para sempre.




Com o apoio,
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Seja feliz,

Hoje

sábado, 21 de setembro de 2019


Se soubéssemos, à partida, que o futuro nos reservava aqueles sonhos que pareciam tão distantes, que faríamos nós ao presente, aquele Agora que já não é? Viveríamos mais? Descansávamos de procurar, na certeza de que o manjar escolhido, vinha a caminho nas mãos serenas de um garçom? Como seria a vida se, focados no presente, vivêssemos a certeza de amanhã(s) vitalícios em surpresas materializadas? Como seria?
Muitos atestariam que a vida perderia todo o seu fulgor.
Mas porquê?
Viver não deveria ser, então, a espera consciente, a arquitetura de um sonho feito todos os dias? Quem, no rebuliço destes dias tão apressados e cheios de si, se mantém fiel à arte, somente, de viver?

Viva o seu milagre. Hoje.
O amanhã não existe. Que bom que assim é.




Seja feliz,

Sobre o 11 de Setembro

quarta-feira, 11 de setembro de 2019




“Durante anos senti-me culpada. Culpada de nos termos beijado a primeira vez enquanto a cidade ardia, culpada por ter sido capaz de me perder em ti naquele momento. Mas, mais tarde, compreendi que não éramos os únicos. As pessoas confessaram-me, em sussurros, que tiveram sexo naquele dia. Que fizeram um filho. Que ficaram noivos. Que disseram «amo-te» pela primeira vez. Há alguma coisa na morte que faz as pessoas quererem viver. Naquele dia queríamos viver, e não nos culpo por isso. Deixei de nos culpar.”

«O que fica somos nós», Jill Santopolo

Seja feliz,

Faith

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Fonte: Pinterest



Seja feliz,

O que fica somos nós (Jill Santopolo)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019


«Teria sido assim?»


Viver é um milagre. É um verbo terapêutico mas é também um verbo que desafia. Quando diz "viver" bem alto sente que a sua boca fica entreaberta, a língua presa no céu da boca, numa espécie de espera  incerta por um beijo certeiro, capaz de lhe calar anseios e medos.

Jill Santopolo escreveu uma belíssima história de amor. Escreveu a vida como ela é, repleta de cruzamentos, estradas aparentemente sem sentido, becos e placas que nos induzem num destino aparentemente certo.

«O que fica somos nós» conta-nos a história de amor entre Gabe e Lucy, dois estudantes que, quis o tal destino, se cruzassem no malogrado dia 11 de Setembro de 2001. Fosse o momento díficil e inesperado, fosse aquilo que tivesse de ser, a vida deste casal ficaria irremediavalmente ligada para sempre.

Todos esperamos que a história da nossa vida seja feita de capítulos bem escritos, com uma ordem intocada e, de preferência, com um desfecho memorável. Independentemente de sabermos que a vida de linear pouco tem, fica sempre esse desejo latente em cada um de nós: uma ordem, um sentido, um desfecho que seja porta aberta às suas maiores bençãos. 
Nesta história encontraremos tudo menos essa desejada ordem, contudo, o tal destino aparentemente certo surge-nos com tudo, como um estalo de luva branca, como quem avisa que o poder de um amor pode, sim, ganhar ordem na desordem. Pode tudo.

A história de amor entre Gabe e Lucy termina antes de começar. Volta a começar mais tarde para nunca mais acabar. Caro leitor, eu poderia escrever sobre toda a história de amor deste casal mas não mas me parece o mais acertado. Acredite em mim quando lhe digo que é uma daquelas histórias enganadoramente leves: Jill Santopolo conquista-nos por este singular amor que nasce sem arnês, mas também pelo mergulho a que nos obriga perante essa tão complexa teia da moralidade nos afetos. 
Confesso-lhe que nem sequer lhe posso dizer que este casal ficará para sempre unido. Estaria a dizer-lhe uma mentira, mas também lhe estaria a dizer uma verdade. Entende quando lhe digo que esta história encerra em si tantos aspetos pertinentes sobre o quanto é complexo (e errado) analisar a vida por essa ordem certeira de capítulos?

A leitura deste livro foi uma verdadeira surpresa, sobretudo, pelas minhas pequenas expectativas em torno dele. Confesso que pensava estar perante um livro mais leve, com uma história alinhada nos capítulos e mais previsível. Pois bem, estava enganada. Desejo que o leitor se aventure nesta leitura do mesmo modo: completamente desprevenido.

Jill Santopolo escreveu uma história de amor que nos desafia a mergulhar no nosso próprio passado. A questão «Teria sido assim?» é como uma sirene a marcar presença em cada um dos nossos pensamentos. Como teria sido se, naquele dia, eu não estivesse naquela rua? Como teria sido se ele não tivesse ido embora? Como teria sido se eu tivesse, simplesmente, esperado? Teria sido assim se tivesses ficado? Uma eterna tarde numa cozinha com o cheiro doce de bolinhos acabados de fazer?

Teria sido assim?



Seja feliz,

O Senhor das Almas (Irène Némirovsky)

terça-feira, 3 de setembro de 2019


Irène Némirovsky foi uma escritora judia. Nasceu na Ucrânia em 1903 e morreu durante a II Guerra Mundial no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau.
O seu livro mais conhecido, e aquele considerado como o melhor, é «Suíte Francesa», livro esse envolto numa história, por si só, muito bonito. Foi escrito à mão pela autora durante a Guerra, em segredo. Nunca o chegou a terminar por ter sido presa e, mais tarde, acabar por morrer (1942) no campo vítima de tifo.
A sua filha mais velha, Denise Epstein-Dauplé guardou durante anos o caderno sem o conseguiu abrir. Inicialmente a jovem considerou que se trataria de um diário pessoal da mãe e, só mais tarde, percebeu que se tratava de um belo romance. Seria em 2004, em França, que «Suíte Francesa» veria a luz do dia tendo sido igualmente publicado em muitos outros países, tornando-se um dos livros mais aclamados internacionalmente.

Mas hoje não estou aqui para lhe falar desse livro em particular, apesar de o ter na minha estante a aguardar uma oportunidade de leitura (algo me diz que não faltará muito).

«O Senhor das Almas» é o livro de que hoje falarei. É obrigatório fazer um alarido grande em torno da sensibilidade da escrita desta autora. Já havia lido «O Baile» há uns bons anos e já naquela altura fiquei impressionada pela subtileza, pelo encanto e feminilidade que Irène colocava na sua escrita, de uma forma muito consistente, muito notável.

Em «O Senhor das Almas» conheceremos o Dario Asfar, um médico meteco que decide largar uma vida de pobreza para se instalar em Nice. Nessa viagem traz consigo a esperança de dias melhores, na tentativa desesperada de possibilitar a Clara, sua esposa que acaba de trazer ao mundo o filho de ambos, uma vida com melhores condições, um futuro dourado.

O leitor perceberá que a jornada de Dario será muito difícil, repleta das mais variadas provações. Este é um livro que retrata magistralmente a pobreza e o desejo quase incontrolado de singrar na vida, de prosperar.

A primeira provação será quando a sua senhoria o confronta com as dívidas que já então estalavam na sua carteira vazia. Na dificuldade que lhe percebeu, deu-lhe a oportunidade de esquecer  a dívida (pelo menos temporariamente) se estivesse disposto a fazer um abordo a Elinor, a namorada leviana do seu filho. Dario acata, movido pela enorme necessidade. 

Não ficaria por aqui: a vida de Dario parecia destinada a fracasso atrás de fracasso. São muitas as passagens que demonstram de forma quase palpável o desespero de um homem de família sem nada para comer.

Será nesse limiar de desespero e parca esperança, que lhe surge a ideia de génio capaz de lhe mudar as cartas do destino: Dario cria, à luz da psicanálise, tão em voga naquela altura, uma nova teoria intituladada «A Sublimação do Eu». Tudo isto surge também, e muito bem descrito, à luz da sociedade de então: a riqueza da maioria das pessoas parecia de nada valer, tão centrados que estavam nos seus receios, nos seus vazios e anseios díspares. Será Wardes que personifica esse estado constante de ansiedade, amargura e incerteza. Caso para se dizer, caro leitor, que são muitas as vezes em que as desgraças de uns engrandecem os outros. Basta referir, em jeito de exemplo, o estimado José Gomes Ferreira quando escreveu, mais ou menos assim, que em momentos de tristeza, uns choram e outros vendem lenços de papel. Dario optou por esses metafóricos lenços de papel e uma teoria terapêutica muito duvidosa mas que lhe granjeou a fama.

Lembra-se de referir o desespero quase palpável de um homem de família a viver a iminência da fome? Creio que seja este o ponto sensível deste livro. Apesar de lhe parecer pouco provável após o breve enquadramento da história, «O Senhor das Almas» é também, e largamente, um livro sobre a parentalidade. Mais tarde perceberá que Daniel, o seu filho, não admirará em nada a conduta de seu pai, este que mudara o trajeto da sua própria vida movido pelo seu enorme amor ao filho.

Deixo-o em considerações profundas, assim espero.
Até que ponto será possível prever as nossas ações, em benefício dos nossos filhos, como certo ou errado? Como lidar com a aversão de um filho após tamanhos sacrificios e renúncias?

No caso de Dario, com esperança, esse outro lado do amor.






Recomendo muito a leitura deste livro.

💓

Seja feliz,

Recomendações para Setembro

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

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