And the winner is...

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

 
 
 

A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)

domingo, 28 de fevereiro de 2016










CONTÉM SPOILERS

São muitos os livros que tenho de Isabel Allende na estante. Aguardavam um bom momento que parecia nunca chegar. Em 2008 decidi começar a ler «Eva Luna», mas fruto de muito estudo naquela altura, não o cheguei a terminar, acabando por desistir da autora, uma vez mais.
Volvidos todos esses anos, mais livros da autora acabariam por chegar à estante.
 
Decidi-me, então, a começar por esta «Casa dos Espíritos», a sua primeira obra. Penso que não poderia ter escolhido melhor, tal é, agora, a vontade de querer continuar a conhecer e desbravar mais e mais a obra desta peculiar autora.
 
Em «A Casa dos Espíritos» acompanhamos a história de três gerações de mulheres sob o pano de fundo das enormes mudanças políticas sofridas no Chile em 1973.
 
Duas famílias. Três mulheres. E um homem.
Da família Del Valle, conduzida por Nívea e Severo, destacam-se as filhas Rosa e Clara, a mais nova do clã e a mais peculiar criança que o mundo parece ter conhecido desde então. Clara fala com os mortos, lê pensamentos alheios e move objetos apenas com o poder da sua mente.
De Rosa, conhecemos a sua ímpar beleza, cabelos verdes e formoso corpo que não deixará indiferente Esteban Trueba. É que se antes seguro estava de não cair em amores profundos, Rosa foi a prova viva do seu engano, forçando-o às conquistas tontas que o enamoramento obriga, lançando-o igualmente no trabalho das minas, desejando conquistar a maior fortuna, meritória de um destino conjunto com a sua Rosa.
 
Com um legado inquestionável do tio Marcos, homem sonhador e entretanto falecido, Clara afeiçoou-se a Barrabás, cão do tio e agora seu amigo fiel, seguindo os seus passos com firmeza e lealdade, crescendo em limites de Natureza alheia, assustando até os mais destemidos.
 
Um dia, Clara prevê a morte da irmã Rosa. Daí se adivinhariam 9 anos sem lhe conhecer a voz. Falou novamente para anunciar que se casaria com o outrora noivo da sua irmã, Esteban Trueba.
 
Este é o marco definidor da história que se seguiria.
Clara transforma-se no papel de esposa de um homem empreendedor, macho e prepotente, apesar de todo o amor que lhe sente e, sobretudo, pelo receio de nunca sentir em Clara o mesmo amor e aceitação que deseja avidamente. Muitas vezes o expressa, numa tristeza desesperada, que Clara não pertence a ninguém:
"Clara habitava um universo inventado para ela, protegida das inclemências da vida, onde a verdade prosaica das coisas materiais se confundia com a verdade tumultuosa dos sonhos, onde nem sempre funcionavam as leis da física ou a lógica." p.83
Dessa união sem amor, marcada apenas pela aceitação do destino, Clara dá à luz Blanca, a segunda mulher desta vibrante história.
Se a mãe não conheceu o amor na sua plenitude, conheceu-o Blanca com Pedro Tercero Garcia, filho do administrador da quinta do seu pai e que, obviamente, pelas suas diferenças de estatuto social, jamais aceitaria tal união.
Clara nunca conheceria o amor, a sua filha conhecera-o de cor, mas vivendo-o sempre na clandestinidade e com consequências que se iriam arrastar por muitos e longos anos.
 
Alba será uma das consequências desse amor sem limites de Blanca e Pedro, que independentemente de ter acendido a fúria do violento e intransigente Esteban Trueba, ama a neta incondicionalmente ensinando-o, mesmo que subtilmente, a modificar formas de pensar antigas e obsoletas.
 
 
Poderia discorrer muito mais sobre esta história mas penso que o melhor a fazer será recomendar a sua leitura. É um livro repleto de personagens que se tornam inesquecíveis pela sua riqueza e complexidade, cada uma à sua maneira.
Clara é, sem dúvida, a personagem mais inesquecível de todas, o pilar de toda uma casa adornada de espíritos vivos e desnorteados, a carecer de um urgente sentido:
"Alba sabia que a avó era a alma da grande casa da esquina. Os outros souberam-no mais tarde, quando Clara morreu e a casa perdeu as flores, os amigos viandantes e os espíritos brincalhões e entrou em pleno na época da desordem." p.268
A escrita de Allende é especial, impondo uma beleza intocável com os seus presságios de mau agouro, assegurando a atenção dedicada do leitor e o seu interesse fiel na condução de uma história muito bem estruturada que, mais do que a trajetória de uma enorme família, é igualmente reveladora de um grande marco político no Chile, uma questão que pessoalmente me parece fulcral no interesse do livro e da história.
 
E é assim, através dos cadernos guardados há vários anos e escritos a várias mãos, que chegará ao leitor uma história que não esquecerá, fruto da crença dos relatos escritos como forma de perpetuar a vida e as memórias que realmente devem prevalecer:
 
"(...) escreveu ela que a memória é frágil e o percurso de uma vida é muito breve e acontece tudo tão depressa que não vislumbramos a relação entre os acontecimentos, não conseguimos medir a consequência dos atos, acreditamos na ficção do tempo, no presente, no passado e no futuro, mas também é possível que tudo ocorra simultaneamente (...). p.406
 
 
Recomendo vivamente!
Ao som de: Gemma Hayes "Back Of My Hand"

PURE!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Para os verdadeiros amantes de um bom café.
Que convenhamos, trata-se de uma das mais belas maravilhas de Deus. Do Homem. Do Mundo. O que quiserem.
Sem exagerar um nadita.

A Identidade é o Fundamental

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

 
Dean Winchester | Supernatural

 
"Sempre pensei que a identidade é o fundamental. (...) Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade."

Manoel de Oliveira, in 'Selecções do Reader's Digest, 2005'  

O lugar

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

 
 
Um especial obrigada aos pequenos príncipes, que congelaram a brincadeira, para  me cederem o modelito da fotografia.

Submissão (Michel Houellebecq)

domingo, 21 de fevereiro de 2016




Quando comprei este livro os rumores sobre ele eram muitos. Segundo se comentou na altura, este foi o melhor livro de 2015. Talvez persuadida pelo entusiasmo e burburinho criado em torno dele, submeti-me a este pequeno capricho.
Valeu cada cêntimo. Valeu cada minuto que lhe dediquei.
Não vou esquecer, tão cedo, Michel Houellebecq.
 
Houllebecq consegue ser frio, sarcástico, cómico e emotivo, tudo isto de uma assentada só, através de poucas personagens e, sobretudo, através de François, professor universitário, estudante e seguidor da obra do escritor francês Huysmans (igualmente crítico de arte e muito associado ao naturalista, e fantástico, Émile Zola).
É através da sua melancolia, saudade inexplicada, ausência de ambições e de amor, que o autor projeta o busílis da sua obra, que mais do que um livro sobre o Islão, é uma sublime crítica ao declínio do Ocidente.
 
É um livro que através de uma pessoa, e de umas poucas mais, traz a lume temas como o amor, a política e a religião, sendo as duas últimas cravadas na história como determinantes para um futuro que se avizinha tortuoso, disfuncional e, cada vez mais, distante daquilo que conhecemos.
 
Independentemente da marca do futuro que o autor pinta, este livro é sobre o presente. É uma nítida chamada de atenção para a inércia, a monotonia, os braços cruzados e bocas que calam.
É através do comando de um país (França) pela mão de um presidente muçulmano que Houllebecq demarca assuntos que requerem a atenção do mais desatento. Num virar de página, as maiores conquistas são perdidas, como a igualdade dos géneros e o acesso à educação.
 
Dá que pensar.
«Submissão», palavra que em árabe significa Islão, é um livro que contém em si não apenas um país, mas o retrato das muitas pessoas (de um pequeno mundo, diria?) que adormecem perante as leis improváveis de um povo.
Submissos a um Deus porque sim. Apenas porque sim, e nada mais.
 
"(...) O Islão é afinal a única religião que proíbe toda e qualquer tradução para uso litúrgico; porque o Corão é inteiramente composto por rimas, ritmos, refrãos, assonâncias. Assenta nesta ideia, a ideia básica da poesia, de uma união da sonoridade e do sentido, que permite dizer o mundo."

Carta de amor | Charlotte Bronte

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

De Charlotte Bronte para Constantin Heger
 
Amor não correspondido
 
Quatro anos depois de rejeitar um honrado pedido de casamento, Charlotte Bronte descobriria também as agruras de um amor não correspondido. A jovem promessa literária e a sua irmã, Emily, tinham sido enviadas para um internato em Bruxelas onde, em troca de leccionarem, aprenderiam o francês, e onde se apaixonaria pelo director da escola e seu tutor, Constantin Heger, que, ao que tudo indica, amava lealmente a sua mulher.
Já de regresso ao Reino Unido, não consegue esquecer o seu amor e escreve-lhe quase todas as semanas cartas perturbadoramente honestas nas quais declama o seu amor sem pudores. Aliás, a mulher do professor tem mesmo de lhe pedir que escreva no máximo a cada seis meses. A maioria das cartas foram destruídas pelo próprio Heger, que as rasgava sem lhes responder; felizmente a intuição feminina da sua mulher percebeu que provinham de uma escritora que se tornaria uma lenda da literatura. Ia buscar os pedaços de papel ao lixo, reconstituindo estes testemunhos de amor genuíno e sem qualquer esperança de reciprocidade. Charlotte morreu, tal como as irmãs, Emily de tuberculose, antes de chegar aos 40 anos.
 
 
8 de Janeiro de 1845
 
Quando a Taylor regressou, perguntei-lhe se tinha alguma carta para mim. - «Não, nada.» - «Paciência», respondi. - «A sua irmã chega em breve», retorquiu. Depois a menina Taylor voltou para trás para dizer: «Não tenho nada para si do Sr. Heger, nem carta nem mensagem.»
Tendo compreendido o que ela queria dizer, pensei naquilo que diria a outra pessoa em circunstâncias semelhantes: «Tem de se resignar e, sobretudo, não se afligir de um desgosto que não merece.» E tentei não chorar e não me queixar.
Mas quando não nos queixamos e nos tornamos tiranos de nós próprios, as nossas forças revoltam-se, e paga-se a calma exterior com uma luta interior quase insuportável.
Não entendo paz nem sossego, nem de dia nem de noite.
Quando adormeço, tenho sonhos que me atormentam onde o vejo sempre severo, com ar sombrio e irritado comigo.
Perdoe-me, portanto, se tomo a liberdade de voltar a escrever-lhe. Como poderei suportar a vida se não fizer um esforço para aliviar o meu sofrimento?
Sei que vai ficar impaciente quando abrir esta carta. Vau voltar a dizer que me exaltei, que tenho pensamentos obscuros, etc. Senhor, eu não tentarei justificar-me, aceito todo o tipo de críticas. Tudo o que eu sei é que não posso - não quero - resignar-me a perder completamente a amizade de meu mestre. Prefiro sofrer a maior dor física a ter o coração constantemente dilacerado por amargos arrependimentos. Se o meu professor me retirar por inteiro a sua amizade, ficarei sem qualquer esperança; se me der alguma - apenas alguma - , já ficarei contente. E, feliz, terei alguma razão para viver, e trabalhar.
Senhor, os pobres não precisam de muito para viver - apenas mendigam as migalhas de pão que caem da mesa dos ricos -, mas se essas migalhas de pão lhe forem recusadas, eles morrem de fome. Eu também não preciso de muito carinho por parte das pessoas que amo. Nem saberia o que fazer com uma amizade inteira e completa - não estou habituada - , mas o senhor manifestava outrora, quando eu era sua aluna em Bruxelas, algum interesse por mim, e eu desejo manter esse interesse, por pouco que seja - desejo-o tanto como desejo a minha própria vida.
Talvez me diga: «Já não tenho por si nenhum interesse, menina Charlotte, já não é da minha casa, já a tinha esquecido.» Então, Senhor, diga-mo francamente. Seria um choque para mim, mas não faz mal, sempre será menos hediondo do que a incerteza.
Eu não quero reler esta carta, vou enviá-la tal qual como a escrevi. E, no entanto, tenho a sombria consciência de que algumas pessoas frias e sensatas que a lessem diriam que não estou no meu perfeito juízo. Como minha única vingança, desejo a essas pessoas um só dia de sofrimento que experimentei nos últimos oito meses. Veríamos então se elas não ficariam tão irracionais como eu.
Sofre-se em silêncio enquanto temos força para tal e quando essa força falta falamos já sem medir as nossas palavras.
«Eu não preciso de desejar-lhe felicidade e prosperidade, de que já goza...»
Desejo-lhe felicidade e prosperidade,
 
CB
 
 
Retirado daqui
 
E pensar que esta carta nasce das mãos que deram vida a uma das personagens mais vibrantes e corajosas de sempre, Jane Eyre.

 

... more myself

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016


Nenhuma Vida (Urbano T. Rodrigues)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
















O autor refere que escreveu este livro "(...) com o amor à palavra e à invenção verbal de toda a minha obra. É um texto algumas vezes duro e agressivo, mas onde também têm cabimento a ternura e o amor, que são o esplendor da vida."
Escolhi este livro no âmbito do meu desafio pessoal, «Ler(-te) em Português», e sobretudo por ser um dos autores mais conceituados na literatura portuguesa. O facto de ter sido o seu último livro entregue à editora, pouco antes de morrer, criou em mim uma espécie de ideologia romântica no momento de o comprar e me decidir no começo da sua leitura.
É, como o próprio o indica, um romance (muito) breve e, por momentos, de enorme agressividade e crueldade. Tem, no entanto, rasgos de uma intensa ternura que permite antever o brilhantismo que tantas vezes me falaram da escrita de Urbano Tavares Rodrigues, que cativa, que encanta e que pede mais.
«Nenhuma Vida» centra-se na história de amor, inicialmente conturbada, de Lela e José Pedro e que dela nascerá Tiago. É deste que tecerá a história principal, homem de rosto angelical mas de bravura nos gestos e gélido nas emoções.
Mas não se pasme o leitor, Tiago conhecerá na sua breve e corajosa vida o fogo do amor e a ele se renderá sob o pano de fundo de uma enorme instabilidade política, plasmada com mão exímia por um autor que vou continuar a desbravar com toda a certeza.

Recomendo.

 Mais um mês completo deste meu desafio literário.
Novas surpresas da literatura portuguesa em Março!

A Filha Desaparecida (Jane Shemilt)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

 
Por vezes, sou acometida de um interesse repentino por um livro acabado de sair, os ditos bestsellers, que acabaram de cativar meio mundo pela sua história imperdível, incapaz de nos fazer parar de ler, uma história de suspense que não vai querer perder, e por aí.
Esse livro foi «A Filha Desaparecida» de Jane Shemilt.
E eu já deveria, por esta altura, ter aprendido a lição.
Sempre que caio nestes repentinos interesses, é raríssimo correr bem. Com este livro, não foi, infelizmente, exceção.
Pedindo desculpa aos mais sensíveis e ao meio mundo cativado pelo livro que consta no TOP 5 do Sunday Times, este livro, para mim, é uma verdadeira perda de tempo. E isto sou eu a ser simpática.
Gostava de saber quem é que atribuiu a este livro a categoria de Policial, pois de facto era isso que eu procurava. A história não deixa de ser interessante: uma filha desaparece quando nada o fazia prever, talvez um clichê, é certo, mas que aciona a curiosidade de qualquer leitor. No entanto, as linhas orientadoras e a forma como a história vai sendo narrada não me parece inteligente.
Começando pela linha temporal que vai mudando drasticamente e sem qualquer necessidade, até ao discurso (demasiado!) repetitivo de uma mãe amargurada que se sente culpada por não ter dado a devida atenção aos filhos, ocupando-se mais à sua profissão, o livro termina num dos piores fins de "policiais" que já tive oportunidade de ler.
Se a ideia era sublinhar a importância do estar atento aos pormenores, a enfatizar a relevância das pequenas coisas, de que o essencial está nos pormenores e a felicidade familiar depende da atenção diária, que estreia laços, vincula cada um numa espécie de grupo invencível, pois muito bem, seria um policial muito interessante, com uma trama brilhante.
Seria...
 
 
Poderá não querer ler a partir daqui, caso queira, na sua inteira consciência, ler este livro.
Não quero continuar a perder tempo com um livro que, na minha opinião, acusa sérias falhas e não me trouxe nada de prazeroso enquanto leitora. Há, no entanto, um reparo que tenho de deixar aqui: qual é a mãe que após a sua filha desaparecer, consegue transparecer os seus recentes sentimentos de paixão e desejo pelo investigador, após ter descoberto estar a ser traída pelo marido?
 
*                                   * (o meu silêncio de consternação).
 
Gostaria de dizer aqui, perentoriamente, que jamais voltarei a cair num destes interesses repentinos. Mas sei que vai acontecer, e ainda bem, porque acredito que ainda vou ser surpreendida pela positiva. Tenho esperança! (risos).
 
Boas leituras.

Revolutionary Road (Richard Yates)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016


Esta é a história de April e Frank, um casal sombrio e infeliz que longe está de saber o que é amar realmente. São 285 páginas de um longo e penoso caminho a incidir sobre as mágoas e apontar de dedos lastimosos de quem não sabe nada de si mesmo e se procura nas fraquezas um do outro. E que disso depende para sobreviver.
 
Richard Yates supera-se num livro que aflige com tamanha dependência emocional nestes dois personagens que, de certeza absoluta, serão difíceis de esquecer.
 
Se me perguntarem, concretamente, sobre o que retrata este livro, pondero um pouco e depois talvez me arrisque a dizer-vos que fala sobre as distorções do amor. Sobre a procura de si mesmo através do amor de alguém.
 
Ambas as personagens estão destroçadas e viradas do avesso. Com passados familiares disfuncionais, ambos vivem perdidos na esperança de se encontrarem num futuro que tarda em chegar. Tanto April como Frank vivem iludidos num mundo que não surge diante dos olhos, resignando-se à realidade que vai surgindo, e que com ela traz os filhos que nenhum dos dois desejou.
"Que raio de tipo de vida era este? Qual, por amor de Deus, é que era o objetivo de uma vida como esta?" (p.57)
Frank questiona-se e rebela-se contra um mundo que nunca compreendeu a sua genialidade. April resigna-se a um mundo dos subúrbios, de dona de casa, quando a vida lhe havia dado promessas cheias da atriz certa que sonhou ser.
 
Nesta ambivalência de inseguranças de um Eu que parece nunca se formar, nem tão pouco aceitar-se, dois outros casais vivem à margem de April e Frank. 
De fora, há uma imagem irrepreensível que tanto os Campbells como os Givings necessitam para incluir nos buracos negros das suas próprias vidas.
 
Estamos perante um livro de pesada tristeza e que angustia pela capacidade que muitas vezes temos em renunciar a tudo aquilo que nos pode, de facto, fazer feliz.
Será preguiça? Será moleza de espírito? Será fraqueza?
 
Alguma coisa é.
Esse vazio sem esperança que Frank invocara tantas vezes.
 
 
Por fim, sem mais estrada por onde se possa correr, o vazio parece, afinal, a única paragem possível.
 
 
Se eu já idolatrava Richard Yates, depois de ler «Revolutionary Road», o autor mantém-se (ou eleva-se!) como um dos meus autores de eleição.
Em 2008 vi o aclamado filme com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet mas estranhamente não me recordava de praticamente nada da história.
Deixo o trailer:
 
 

A Ler "Revolutionary Road"

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Retirado Etsy

Gaveta de Filmes



Baseado em factos verídicos, é um filme sobre surf mas muito mais do que isso. É um filme que sublinha a importância de testar os limites, da resiliência e de persistir num caminho que assumimos como nosso, inquestionavelmente.
 
Um filme daqueles para rever. 
Muito bom!

A de Açor (Helen Macdonald)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016


«A de Açor» não é um livro fácil. De todo.
Uma história (verídica) que voa direta ao tema frio do luto. Digo frio, porque o é. E só quem tem conhecimento de causa, terá igualmente a arrogância para o dizer à boca cheia.
Helen, após a morte do pai, perdeu o chão, as estribeiras, o tão falado norte e tombou sem pouso certo.
A nossa tendência será sempre a de fugir aos temas que mais doem, às coisas mais cinzentas ou mais difíceis. A tendência a evitar, a deixar ficar, a tentar no dia seguinte, quem sabe. Logo se vê, proclamam uns, assim só por dizer, outros talvez convictos apenas de momento.
Mas quando a morte chega, magistralmente, tudo para.
Os planos que se adiaram, os dias que se escoaram na pressa de tantos outros, as raivas infrutíferas com condutores desajeitados, e tantos que mais, congelam sem direito à misericórdia de um pensamento vindouro. Porque tudo parou num aqui e agora, frio e invocador de milhares de questões sem resposta.
Apesar da dificuldade inerente à temática, este livro deve ser considerado pela sensibilidade que transmite, bem como pelas dificuldades adjacentes a que tantas vezes o ser humano se auto induz numa tentativa de afogar um sofrimento que, apenas e só, poderá escoar-se quando confrontado de frente.
Tão somente, Helen, desde pequena admiradora de aves de rapina, decide, após a morte súbita do pai, largar tudo e treinar um açor.
O leitor acompanhará a sua nada fácil jornada, lidando com a perda e ausência do pai, de todos à sua volta, confrontada com uma solidão que se torna palpável no avanço dos dias e que tenta, desesperadamente, acalmar numa proximidade bonita com a ave.
Helen Macdonald partilha com os leitores momentos da sua história verdadeiramente emocionantes.
Sabiam que um açor também pode brincar? Pois pode.
 
«A de Açor» mais do que um relato emotivo de confronto com a morte, um testemunho bem desenvolvido sobre as aves de rapina com aspetos verdadeiramente curiosos, é uma história que se repete em cada casa perdida. São dores partilhadas. Investimentos falhados. Motivações em dúvida. Esquecimentos forçados. Objetivos distorcidos, de quem procura na natureza um esconderijo que permite esquecer.
 
No fim, nascem lições que se juntam como um esquema árduo de matemática.
Todas as ações se somam, entre falhanços e sucessos para, mais tarde e gradualmente, se ser capaz de subtrair a dor fria da ausência.
 
 
 
Recomendo.

Ler(-te) em Português de Fevereiro

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016


Poderão ler mais informações sobre este desafio pessoal, aqui
Ler(-te) em Português de Janeiro, aqui
 
 
E está escolhido mais um clássico a integrar a segunda etapa do meu desafio literário deste ano.
Em Fevereiro vou ler um dos autores mais consagrados da Literatura Portuguesa: Urbano Tavares Rodrigues e o seu último livro editado: "Nenhuma Vida".


Uma velha máxima em desuso

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Retirado Pinterest
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