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quarta-feira, 25 de junho de 2014

 
 
 
 





Quando éramos mentirosos (E. Lockhart)

domingo, 22 de junho de 2014


Este livro veio comigo pela frase: "E se alguém lhe perguntar como acaba este livro... MINTA."
Os pormenores são as pequenas grandes coisas, em tudo. E como em tudo, é habitual esquecermo-nos dos pequenos detalhes, que fazem toda a diferença.
Este pequeno livro foi uma grande surpresa, pelo tema que encerra e pelas referências que a autora tenuemente vai pincelando, aqui e ali, um Tolstoi com a força da família disfuncional e uma Emily Bronte com o amor poderoso e animalesco, quase. Gostei. Surpreendente.
Vamos lá, então.
«Quando éramos mentirosos» é escrito por E. Lockhart, pseudónimo de Emily Jenkins e foi finalista do NATIONAL BOOK AWARD.
O livro narra a história da adolescente Candence, desesperadamente apaixonada, que não suporta idiotas, possui um cartão de biblioteca muito usado e vive numa casa grandiosa cheia de objetos caros a inúteis.
Tolstoi dizia "As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira." E Candence parece saber isso muito bem.
Candence Sinclair. Herdeira de uma família extremamente rica, é a primeira neta a nascer e carrega em si a responsabilidade de dar continuidade a esse clã rico, exigente, solidificado que é a sua família, encabeçado pelo avô Harris. Uma família, essa, os Sinclair, iguais em fisionomia, loiros e belos, são igualmente e na mesma medida, isentos de emoções porque essas enfraquecem. Fragilizam e incorrem num sério risco de fazer má figura.
Nessa rigidez de emoções e estatutos bem definidos, os Sinclair passam Verões inesquecíveis na sua ilha privada. Fazem gelados, comem pão doce português e bebem vinho do Porto, porque o bom gosto prima por ali.
Em conjunto com os seus primos Johnny e Mirren, Candence vive momentos felizes nesses meses quentes. Inesquecíveis porque juntamente com os primos surge Gat, sobrinho de Ed, marido de Carrie, sua tia, e que após um olhar derradeiro, dá a certeza a Candence que o amor surgiu para ficar. E ficou mesmo, para sempre. Um amor de adolescência não se contesta, nunca.
Com a morte da avó, Tipper, há uma mudança nos ares da ilha. Apenas nos ares porque as aparências devem manter-se e as advertências da normalidade sobem de tom quando ameaçadas. E Candence vai sentindo a pressão de estar num mundo infeliz, numa família que se limita a não sentir, e a querer chorar pela avó e a não poder. A querer amar Gat e a ter a ameaça de um avó que nega a entrada de um estranho no especial clã que é esse o dos Sinclair.
Além dessa pressão, mais tarde, Candence os primos, vão perceber que há muito mais do que uma imagem familiar a preservar. Há a necessidade do poder e do dinheiro, há o materialismo a emergir como uma onda mais forte, poderosa e que arrasta tudo consigo.
Em dias mais sossegados, os sussurros da mãe e das tias, começam a chegar até si entre discussões ligeiras a fortes, ambicionando a herança do pai, que por sua vez, manipula as suas três filhas como se fossem pequenos dados num jogo de Monopoly.
Todas essas zangas familiares vão subindo de intensidade e os primos, mais conhecidos por Os Mentirosos, vão sentindo na pele a real emergência das consequências que tudo isso está a trazer à família. A paz, se é que alguma vez existiu, está ameaçada e os verões na ilha, também.
O amor de Gat. O seu Gat, pode desaparecer para sempre, entre guerras por toalhas douradas e estátuas de marfim e Candence, determinada, não pode permitir que desavenças inspiradas em meras coisas, possam destruir algo maior. O seu Gat. O seu Heathcliff.
E é assim, nessa mistura de amor, determinação e heroísmo adolescente que os mentirosos se tornam mentirosos, agindo numa noite ausente. E Candence demonstra essa força de espírito que a afastará de todos os outros e lhe cederá o justo lugar de quem a merece.
Por vezes, a beleza e a ingratidão da adolescência está na imprevisão das coisas e do pensamento. No que virá depois, sem pensar nas consequências.
É com base nessa imprevisão e sentimento de culpa, por alguns minutos deslocados, ou o que fosse, que Candence se vai fechar na sua própria mentira.
Até ao dia em que tudo virá ao de cima. Forçosamente.
 
 
"É bom saber que, era uma vez, havia Gat e eu." (p.301)
 
 
Um livro interessante. Um dos aspectos que gostava ainda de apontar diz respeito aos contos de fadas que a autora vai introduzindo ao longo da história.
Na minha visão, acredito que muitas das nossas crenças no mundo e na vida dependem desses contos, do príncipe e da princesa, do belo e do feio, entre tantas outras questões, condicionando as nossas visões e a nossa inteligência emocional.
Uma família que é destruída pela avareza na ideia de manter o seu reino encantado, parece-me, um forte condicionamento vindo de uma estranha história de encantar...
 
Boas leituras!
 
 
 
Ao som de: Evanescence "Good Enough"
 

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sábado, 21 de junho de 2014

 
 
 
 
 
 
 

Pequena Abelha (Chris Cleave)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Chris Cleave é um autor que merece destaque. Em «Incendiário» fui surpreendida por uma história bela e original que desde logo me cativou muito. Agora, em que finalmente me decidi a pegar neste livro que há muito habita na estante, sou novamente surpreendida por esta «Pequena Abelha».
Da forma mais simples e direta possível, este livro fala de compaixão. Toda a história encerra em si a mensagem importante de nos desprendermos de nós próprios e até onde conseguimos esticar a distância que vai do nosso umbigo à dor do outro.
Sobre Abelhinha, uma jovem nigeriana de 16 anos, refugiada e presa num centro de detenção de imigrantes no Reino Unido, conhecemos o sofrimento de estar presa sem nada ter feito, o que ali vive e o que até ali a conduziu: a morte que conheceu de tão perto, a violência a passar-lhe de frente e mais uma vez a morte, a passar-lhe de raspão.
Compaixão e empatia. Este livro cruza lugares e valores supostamente diferentes mas que, analisados a rigor, só diferem na forma: a necessidade do poder mantém-se esteja-se lá onde se estiver. Em África ou no Reino Unido.
E do Reino Unido para África, bem perto de Abelhinha, chega Sarah, que longe dos horrores da primeira, vem passar umas férias nesse sol quente sem igual.
De vidas tão diferentes, e sem se prever, a vida destas duas mulheres vão enlaçar-se para sempre. Assim, num abrir e fechar de olhos. Num rápido gesto de uma catana que corta e separa drasticamente o tempo que passou, o presente e o que virá depois.
O depois.
Um depois que voltou a juntar estas duas mulheres tão diferentes em modo de vida, um outrora perfeito e definido e o outro, da Abelhinha, feito de sofrimento de uma ponta à outra. Uma união que ditará o futuro de ambas.
O livro de Chris Cleave é um forte apelo à compaixão e até onde se vai na procura de nós mesmos, na consciência do nosso sofrimento, na consciência do facto de querermos mudar alguma coisa na vida desligando o controlo remoto dos dias esbatidos pela rotina perfeita. De quem percebeu, finalmente, a necessidade de começar a dar, dar de nós mesmos como nunca antes fizemos. Numa troca serena e perfeita de quem percebe dores e de quem se compadece.
No fim, se não se assiste há perfeição almejada, resta a esperança. Essa esperança está escrita nas infâncias ainda tenras, por crescer e solidificar, e que estenderão o caminho traçado pelos que antes deram o primeiro passo.
 
E essa esperança é doce como o mel das abelhas.
 
Um livro notável.

A Inquilina de Wildfell Hall (Anne Bronte)

quinta-feira, 19 de junho de 2014


Para mim, ler um clássico é sempre muito especial. Os clássicos têm muito para contar e vão continuar a ter depois de passarem por nós, e mais ainda. Essa magia em torno dos clássicos nunca deixa de me fascinar.
Sobre as irmãs Bronte, já não é novidade o meu interesse sobre estas três irmãs mas sobre Anne ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer a sua obra.
A Inquilina de Wildfell Hall narra a história de Helen, mulher delicada, de fortes aspirações e muito apaixonada.
Em torno do livro assiste-se ao enorme mistério desta mulher que surge do nada e se instala na mansão, passando despercebida entre os vizinhos e optando pelas mais parcas conversas. Em si mesma, guarda um segredo de uma vida e como qualquer segredo, há nele a urgência de um esquecimento rápido mas impossível. Tão impossível quanto cobiçado.
Nas redondezas são muitos os que se abeiram de Helen na tentativa de saber mais sobre a enigmática mulher que pinta belos quadros assinando-os com falso nome, e sobre o seu pequeno filho, Arthur.
Será mesmo Helen viúva? E aquele jovem que tantas vezes a visita e tantas parecenças tem com o pequeno Arthur? Quem será?
Um segredo incendeia mentes e escancara as mais pecaminosas bocas, estas, desprovidas do bom senso. Também Graham sofreu inicialmente com esse fogo que começa nos ouvidos e inflama o coração. Mas antes de tudo o mais, já o amor havia plantado raízes por Helen, permitindo vê-la claramente e para lá de qualquer maldade.
Helen fugira de um marido que a maltratara e sucumbira aos vícios do álcool, moldando ainda com a impertinência do seu caráter o pequeno Arthur.
Num desespero de mãe que protege sob todas as coisas, Helen foge e refugia-se em Wildfell Hall, onde volta a conhecer o amor, este, novo como jamais conhecera e do qual foge sem hesitar...
 
 
 
 
Este livro de Anne Bronte assenta sobretudo nos padrões da mulher do século XIX. A mulher e o casamento. As cedências, o papel da mulher protetora, submissa e responsável pela imagem do aceitável moral e socialmente.
Helen volta para casa do marido traidor assim que descobre que este adoeceu precisando dos seus cuidados. Sabendo, ainda, que nenhuma das suas amantes ficara ao seu lado no momento frágil da sua saúde, sendo a esposa que cuida e protege, assumindo o seu papel até ao dia em que este lhe morre nos braços.
 
E depois, não acontece mais nada? Perguntam vocês.
Claro que sim.
 
Depois, chega a derradeira oportunidade de felicidade para Helen.
 
Tal como o adágio popular: "Depois da tempestade, vem a bonança..."
 
 
 
 
Boas leituras. Muitos livros. Sempre.


A Voz Secreta das Mulheres Afegãs (Sayd Bahodine Majrouh)

sábado, 14 de junho de 2014





Este livro é brutal. Dá a conhecer os «landays», os desconhecidos e aparentemente gritos sem sentido das mulheres afegãs.
Este livro é o conjunto dessas vozes secretas, dessa linguagem que esconde em si a urgência de expressar os seus "discursos de amor, ódio, erotismo ou escárnio".
O poeta Sayd Bohodine Majrouh, com base no conhecimento das formas de arte e de poesia do seu país, o Afeganistão,  recolheu estes cantos e neste livro oferece-nos a beleza dos mesmos. Conseguiu enviá-los para o ocidente antes de ser assassinado no Paquistão, seu país de exílio.
 
Alguns excertos:
 
 
"O destino deu-me por esposo uma criança que eu educo
Mas quando ele for grande e forte, eu já serei velha e fraca" (p.17)
 
 
 
"Vem beijar-me sem pensar no perigo. Se te matam, que importa?
Os verdadeiros homens morrem sempre por amor a uma mulher" (p.20)
 
 
"Viver nesta terra de exílio arruína-me o coração
Queira Deus que eu volte para junto das minhas montanhas!" (p.45)
 
 
"Aperta-me com força contra ti
Já se ergue a tempestade que me levará para longe" (p.61)
 
 
"Ó Deus, então é pecado?
Criaste o jardim deste mundo e eu colhi a flor de que mais gostei" (p.61)
 
 
 
 


 
Cavalo de Ferro. Para mim, a melhor editora.




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quarta-feira, 11 de junho de 2014




 
 
 
 
"O tempo não pára, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo."
 
| Mário Quintana |
 
 
 
 
 
 

Ver(-te)#1

terça-feira, 10 de junho de 2014


O que fica depois de ler? As impressões do livro, claro. Da história, pois claro. Das personagens, sim. Na mente, durante dias e por vezes, para sempre. E as imagens? Perduram, essas, ficam também na memória.

Este tópico trata-se de imagem. Dos reflexos que os livros nos dão. As imagens que perduram na mente. As passagens. Os bocados das histórias que vão escorrendo do livro. Dos pedaços que vão permanecendo e levamos connosco. E que formam imagens, partes que se podem ver, de dentro para fora.

«A Um Deus Desconhecido»
de John Steinbeck, vejo(-te) assim:
 
 
 
"- Sim...a criança é preciosa, mas não tanto como a tua gravidez. Isso é tão real como uma montanha. É um laço que nos une à terra. (...)"
(p.135)
 
 
Ao som de: Lucia | Hold Me

As pessoas felizes lêem e bebem café (A. Martin-Lugand)

sábado, 7 de junho de 2014

Este livro anda por aí. Todos falam nele. Tive o azar de o ler. E a felicidade de ser emprestado.
Confesso que não tenho o hábito de correr às livrarias e comprar as últimas tendências só porque falam muito bem de um ou outro livro. Costumo dizer que os livros têm de me chamar primeiro. Só depois, é que decido levar para casa o contemplado.
«As pessoas felizes lêem e bebem café» é escrito por Agnès Martin-Lugand, psicóloga clínica, e é uma pequena história sobre a morte, a perda, o amor e aquilo que, supostamente, deveria ser a nossa jornada de encontro aquilo que consideramos ser a suprema felicidade na vida.
Confesso que não gostei da escrita nem da forma como o enredo é conduzido, desde o início (demasiado abrupto) ao fim.
 
Neste livro o leitor vai encontrar diálogos do género:
 
"- Félix - murmurei.
- Está tudo bem?
- Não sei onde eles estão, percebes? Não consigo ir vê-los.
- E quem queres tu ver? Não percebo nada. Onde estás? Porque choras?
- Quero ver o Colin e a Clara.
- Estás... no cemitério?
- Estou." (p.38)
 
Sublinhe-se que desde as primeiras páginas o leitor sabe logo que Colin e Clara morreram num acidente. Se os queria ver, estavam onde? Suspiro.
Como diálogos destes, podem encontrar muitos mais.
Não me alongando neste tipo de coisinhas, há um ponto muito mais importante para mim: o tema da morte e a forma como a autora o aborda. Sendo uma psicóloga clínica a escrever este livro, penso que há uma quase insensibilidade na forma como tal tema é aqui abordado pela personagem Diane.
Quando o amor da nossa vida morre, quando o nosso filho morre, o nosso mundo morre também. Morre tudo. A vida dá uma volta tão tremendamente cruel, que quando tentamos novamente vislumbrar o mundo, todas as suas formas não passam de meras abstracções que requerem estratégias, mecanismos novos para se entrar mais uma vez, com muita... cautela.
Com tudo isto o que eu quero aqui referir e sublinhar é que perder alguém é muito doloroso, dói tanto que se torna físico. E requer tempo. E tempo. A autora tenta passar essa ideia mas não passa disso mesmo, uma tentativa muito falhada.
O início do livro parece um furacão, com a morte do seu marido e da filha, esse tal mundo a desabar. De um momento para o outro, não me peçam para contar toda a história, esta Diane consegue quase de um dia para o outro, preocupar-se em depilar as pernas e pôr perfume entre os seios para, citando: "vestir-se para seduzir". Estamos a falar de uma passagem em que praticamente na véspera, a personagem chora desesperadamente por perder a aliança que a unia ao marido.
Vejamos, estes comportamentos também integram a dor da perda, a ilusão e a necessidade de um começar de novo, quase desesperado. Mas então, o que falta aqui? Muitas mais páginas, muito mais conteúdo louvável, bem escrito e consistência a estas personagens. Algo que demonstre realmente o que é sofrer a morte de alguém, perpetuado no tempo, e a capacidade de nos reconstruirmos por dentro e por fora. Essa tal procura da felicidade. Felicidade sustentada em alicerces com sentido.
Parece que estamos perante um livro que teve de ser escrito com muita pressa para chegar a algum lugar e, obviamente, o destino foi ... infeliz.
 
Sublinho também que esta é a minha mera opinião.
Não recomento e deixo o alerta aos mais cautelosos para não comprarem ;)
 
Boas leituras!
 
 
Ao som de: Angels and Airwaves "Do it for me now"

Raposas de Fogo (Joyce Carol Oates)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Joyce Carol Oates rapidamente integrou o meu pequeno grupo de autores de eleição. A leitura de «Raposas de Fogo» vem reafirmar essa opinião, cada vez mais consistente.
Estamos perante uma história que narra as confissões de um gangue de raparigas na América dos anos 50, numa altura em que as famílias se começam a dissolver e em que a formação desses gangues de adolescentes começa a surgir com maior destaque.
Ao longo do livro o leitor tem a oportunidade de conhecer em profundidade esse gangue de nome «Raposas de Fogo», desde o seu iminente nascimento, aos seus ideais, motivações e, acima de tudo, à líder Legs Sadovsky no centro deste grupo ímpar de raparigas.
É sobre Legs Sadovsky que tudo se constrói e desmorona, simultaneamente. É ela quem cria neste gangue as razões de ser e de estar perante o mundo, sob o olhar atento de raparigas fiéis que a seguem, sem oposição. De coração, destemidas, encaram o mundo e batalham em conjunto na certeza de mudarem algo, para melhor.
Ao longo do livro, e numa espécie de diário, vamos conhecendo as aventuras e desventuras destas raparigas sob a liderança da inesquecível Sadovsky que sente em si a possibilidade de confrontar, destemida, a injustiça social e, sobretudo, esse Inimigo: todos os homens que não respeitam as mulheres.
Um livro feito de sensibilidade e que consegue, ao mesmo tempo, ser rude e provocador num tema complexo como é o comportamento desviante na adolescência.
Mais uma vez, Joyce Carol Oates no seu melhor.
 
 
"Uma história tão poderosa quanto sensível. Um romance sabiamente esculpido."
(Library Journal)
 
 
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