Longbourn: Amor e Coragem (Jo Baker)

terça-feira, 29 de julho de 2014


Quem leu «Orgulho e Preconceito» dificilmente esquece o ambiente, o enredo e todas as personagens que dão forma a este clássico incontornável. Jane Austen ficou notoriamente conhecida pela sua escrita nebulosamente mordaz e crítica às práticas impostas na sociedade, particularmente, no papel de uma mulher submissa que vê no casamento a suposta liberdade de movimentos. Uma liberdade que faz assim o objetivo primordial da vida da mulher com todos os adornos que tal implica levando, muitas vezes, a uma histeria que faria Sigmund Freud rever teorias…
Em «Longbourn: Amor e Coragem» o leitor tem a oportunidade de voltar a este conhecido ambiente de Jane Austen mas sob o ponto de vista afiado dos criados da família Bennet.
As particularidades da vida desta família atrás desta cortina revelam cenários interessantes e que acabam por complementar determinadas passagens, permitindo alastrar a imaginação e pular, se assim podemos dizer, de livro para livro, numa mistura, no mínimo, curiosa. Ler um livro em mãos, com um outro em mente.
De uma forma geral, estamos perante um livro que em termos de densidade de escrita não ultrapassa barreiras, contudo, com essa peculiaridade que o liga ao clássico de Jane Austen, acaba por se tornar interessante sobretudo pelos olhos dos criados que sofrem as madrugadas frias de quem prepara os pequenos-almoços e lava penicos, mas que têm o coração exatamente no mesmo lugar, preparados para amar exatamente com a mesma intensidade.
 
Boas leituras!

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sexta-feira, 25 de julho de 2014

 
 
 
 
 
 
 

A Minha Pequena Livraria (Wendy Welch)

domingo, 20 de julho de 2014

«A Minha Pequena Livraria» é um livro baseado em factos reais, sobre Wendy Welch e o seu desejo em abrir uma livraria, desejo antigo e que viria a tornar-se real.
Um dos aspetos que mais gostei neste pequeno livro foi a sua sensatez, ou seja, é muito fácil falar-se em sonhos no ar e segui-los, assim, sem qualquer fundamento. Sem pensarmos nas consequências dos mesmos, como se fôssemos sentados num sofá de sábado à tarde, e ainda sintonizados ao filme mais romântico (e patético) que se acabou de ver. Pois bem, não é o que acontece aqui.
Wendy tem o sonho de, um dia, abrir uma livraria de livros usados, com características próprias, em que a proximidade ao público, o conhecimento dos autores e o interesse em servir realmente o leitor compulsivo, estão bem presentes. No entanto, as necessidades primárias que sustentam qualquer início de negócio estão presentes no princípio do livro, onde assuntos relacionados com as questões financeiras, a gestão do espaço, a aquisição de um número considerável de livros, o gosto ajustado aos leitores, entre outros aspetos, são explicados em ínfimo detalhe. Eis um dos aspetos que permitiu que avançasse na leitura com mais certezas de a terminar, pois confesso que não parti para a leitura deste livro muito convencida, exatamente pela ideia pré-concebida de estar perante a síndrome do «largar tudo, sem questionar, e seguir o tal sonho». Não sou apologista de ideias desse género se a sensatez das pequenas (mas essenciais) coisas não fizerem, igualmente, parte do sonho. Acrescento ainda, que até o sonho precisa de pernas sólidas, para crescer enquanto caminha.
Neste sentido, o livro cativou-me pela resiliência destas duas pessoas: Wendy e Jack, um casal muito querido e que na sua cumplicidade criam uma livraria com tudo aquilo que realmente merece ter.
Uma verdadeira livraria não empanturra o leitor apenas com as melhores novidades, os bestsellers ou se preocupa apenas com os números de livros vendidos, como a maior nota de preocupação no caderno. Não. Nas livrarias locais, há um radar diferente que liga as pessoas de uma comunidade e o livro encontra-se no centro de tudo. Através das histórias de cada livro, podemos descobrir as histórias de cada um, e através das histórias de cada um, vão-se construindo mais proximidades, num ricochete feliz e dinâmico que cresce na mesma medida em que novos livros assumem morada certa nas estantes.
É nesse ambiente de proximidade entre uma comunidade que esta «Minha Pequena Livraria» cimenta o seu lugar, revelando a importância do livro enquanto promotor não só de histórias, mas igualmente de relações memoráveis entre as pessoas.
 
Uma agradável surpresa.
 
 
 
É um livro! E basta! :)
 
Boas leituras!
 
 
 

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sexta-feira, 11 de julho de 2014

 
 
 
 





Sputnik, meu amor (Haruki Murakami)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

 
A solidão e o amor são aqui retratados de um modo doloroso, quase cruel. Para não dizer, de forma realista. Dura. Fantasticamente real, como Murakami começa a fascinar-me neste que é o segundo livro seu que leio.
Através do Sputnik, primeiro satélite artificial do mundo, somos transportados para o espaço de três particulares personagens, sem pouso certo, à procura de si mesmos num desespero pelo reflexo de um outro que não pode, também, dar de si.
 
 
 
 
 "(...) mas que no fundo não passávamos de dois solitários pedaços de metal, traçando cada um a sua órbita." (p.134)
 
O livro não mais é do que um forte apelo à necessidade de nos revermos em alguém e sermos aquilo a que verdadeiramente estaríamos destinados a ser, mas por uma força gravitacional qualquer, optamos por outra máscara, por outra conduta, por outra cor, e avançamos nos dias, pela força de uma vontade em nada correspondente à verdade do que sentimos. Em nada correspondente ao «lado certo», ao nosso verdadeiro «eu».
É essa aflição, interligada nas ânsias de Sumire, Miu, e narrador, que o leitor se vai apercebendo que entende perfeitamente estas três almas mal amadas. Que o desejo em desaparecer como fumo é tão válido como beber café, que separar-se em dois num dia como tantos outros, ver-se a si mesmo à distância, partir-se, assim, em dois, é credível.
Porque, na verdade, esse «partir em dois» representa tão só a divisão ingrata da realidade e do sonho, dessa balança da justiça dúbia dos mortais que para se ser feliz, há que viver através da idealização de um sonho. Afinal de contas, o único prato da balança que poderá equilibrar o nosso peso nesse espaço tão incerto.
 


Muitos livros. Muitas leituras

 
Ao som de: Endless Melancholy | Somewhere
 

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

 
 
 





O Homem que perseguia o tempo (D. Setterfield)

sábado, 5 de julho de 2014


Li sobre Diane Setterfield no blogue do Manuel (.Dos Meus Livros) sobre o seu livro "O Décimo Terceiro Conto", que ainda não tive oportunidade de ler.
Sobre «O Homem que perseguia o tempo», impelida pelas boas críticas que lera sobre a autora, não pensei duas vezes e comecei a leitura deste que é o seu segundo livro.
Estamos perante a história de um homem que, de facto, perseguiu o tempo, correu com ele numa velocidade que lhe valeu, nesse intermédio, a perda dos atletas. Os que muito correm, acabam por perder o tempo que fica entre os passos apressados na busca de algo urgente, que nessa pressa de chegar, acabam invariavelmente por esquecer, fatidicamente, o destino a que se propuseram. O objetivo. A causa. A questão.
É um livro sobre a vida. Sobre os dias. Sobre a morte. Sobre os momentos que nos marcam para sempre e a memória que teima em ser fraca, naquilo que realmente deveria prevalecer.
William Bellman parecia estar destinado ao sucesso de uma vida. Tudo se encaminhara assim. E ele, certo disso mesmo, carregou em si o peso de fazer brilhar o sol, se assim fosse necessário. Destinado a grandes feitos, como diriam os mais atentos aos seus investimentos certos de enormes lucros, trabalhou sem parar. Sucesso seria, assim, a palavra de ordem e que ditava os passos seguros, e indiferentes, de William.
Também indiferente e ausente foi a sua tradução dos dias, e das coisas.
William Bellman, um homem de negócios bem sucedido sente a sua vida mudar, para sempre, quando surge uma doença na sua localidade levando consigo a sua mulher e três dos filhos. Na noite em que, desesperado, enterra a sua mulher, um estranho homem promete-lhe uma mudança que abraça sem pensar duas vezes, adormecendo de seguida, quase como quem esquece... e espera o novo dia, diferente, revigorado e com novas interpretações. Porque para Bellman tudo terá sempre uma solução matemática, cujos números respondem e abafam aflições que não se dizem. Comem as tristezas numa gula de lucrar em mais e mais negócios.
E é precisamente aqui que todo o enredo deste livro emerge. A ânsia de esquecer o que os dias nos trazem, e traduzirmos os sinais desses mesmos dias da forma que nos aprouver. Infelizmente, na maioria das vezes, esses sinais são misturados com essa falta de memória, e não se vê o que realmente interessa, o que realmente deve ser interpretado das melhores promessas feitas.
Num paralelismo perfeito e numa metáfora sublime, Diane Setterfield revela-nos a vida de um homem fechado, esquecido de si, perseguido por um passado ausente, sem saber que para lá dele muitos dias passaram. Muitas lembranças ficaram presas nesse fio do tempo e que o grito da gralha-calva, que voa por cima da sua cabeça, é o riso vivo de quem não esquece e sabe o que ficou por viver, sem tempo de voltar atrás.
 
 

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