O Castelo de Vidro (Jeannette Walls)

terça-feira, 18 de julho de 2017

Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras mas, para Tolstoi, as famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira.
Em «O Castelo de Vidro», Jeannette Walls declara o seu amor a uma família despreocupada, com o coração inflamado por aventuras mas, ainda assim, a sua família.
Com base na sua própria vida, a autora partilha com o leitor, num tom intimista e numa escrita que flui sem artefactos alheios, toda a jornada que a tornou na mulher (lindíssima) que é hoje.
 
 
Jeannette Walls | Ilustração de Jillian Tamaki

 
- Para onde vamos, papá? - perguntei.
- Para onde formos - disse ele.
 
Sem destino. Sem hora marcada. Sem planos de ação de qualquer tipo, os pais de Jeannette deambulam ao sabor do vento, de coração cheio pela aventura somada aos seus dias de eterna ilusão.
Nessa jornada que durou até à adolescência, os filhos seguiam a direito os passos tortos dos seus pais. A infância, de tão pura e inocente, permitiu-lhes a felicidade de receber estrelas e planetas, só seus, pelo Natal. E a infância, de tão pura e inocente, encarou a vida errante junto de dois pais irresponsáveis como a maior aventura das suas vidas. Mas o tempo, esse, desfez as raízes tenras da infância para as substituir pelo peso não só da idade mas, acima de tudo, da fome, do frio, dos abusos, da crueldade dos outros. Uma consciência pesada começava, por fim, a agitar-se em cada um deles.
 
"Andar de volta das crianças que choram só as encoraja, dizia-nos. É um reforço positivo para um comportamento negativo."
 
Entregues à sua própria sorte, os quatro irmãos vivem momentos de constante dificuldade em prol da cegueira de uma mãe artista e de um pai que, apesar de inteligente, opta pela bebida como escapismo à vida que não consegue alterar e ao «Castelo de Vidro», casa dos sonhos, que nunca cresceu para lá de um esquisso velho e sujo.
 
Tudo na vida destas crianças fora pautado por agruras, faltas de bom senso e constância. Se numa escola eles eram dotados, noutra, tinham dificuldades de aprendizagem. E assim, ao sabor do vento dos outros, eles aprenderam a escapar de «comportamentos impróprios», a poupar e criar um orçamento, a trabalhar afincadamente, a sonhar para lá de uma casa só pela metade, com direito a chuva na cozinha, buracos no alpendre e comida estragada.
 
"Se não te queres afogar, tens mesmo de perceber como se nada."
 
Desde pequena, com as queimaduras de último grau pelo corpo, a autora revela-nos o seu esforço, a sua capacidade de resistir a adversidades diárias para, não só aprender a nadar, como aprender a andar pelo seu próprio pé.
 
Uma história capaz de agitar os corações mais indiferentes.
Uma história capaz de nos mostrar de que quando o sonho prevalece e o esforço se desenvolve, a possibilidade de se tornar real cresce na mesma medida da vontade.
Muito bom.
 
 
 
 
Com o estimado apoio:
 


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