O livro «As Amantes» de Elfriede Jelinek é absolutamente imperdível. Porquê?
Imperdível pela escrita caricata, cómica e mordaz de Jelinek.
Imperdível pela crítica audaz, feroz e cortante à posição das mulheres numa sociedade de machos.
Imperdível, sobretudo, pela reflexão a que obriga todas as mulheres que decidem mudar o rumo das suas vidas em prol de um homem que nada promete, a não ser, a urgência que traz no meio das pernas.
"se alguém tem um destino, então esse destino é um homem. se alguém apanha com um destino em cima, então esse destino é uma mulher." (p.7)
Imperdível pela forma como a autora aborda o tema do amor, sem réstia dele.
Nos testemunhos de Brigitte e Paula, o leitor acompanhará duas trajetórias diferentes com objetivos comuns: encontrar um porto seguro. Mais do que amor, mais do que profundas efabulações e sonhos cor-de-rosa, estas mulheres querem um sonho revestido com quatro paredes. E filhinhos. Muitos filhinhos. Um homem que lhe assegure proteção. A proteção que só um homem pode dar. Pois mão pesada têm eles. Para, e quando, for preciso.
É num registo verdadeiramente caricato que acompanhamos os rumos distintos, num desejo no entanto similar, destas mulheres iguais a tantas outras. Tenho esperança no mundo e desejo que não sejam assim tantas...
Numa espécie de hino à estupidez das prioridades enaltecidas pela posição deteriorada da mulher, Elfriede Jelinek aponta um dedo firme e constante às temáticas do amor e do matrimónio.
Tão dúbias.
Tão desniveladas.
Tão magistralmente invocadas.
Hilariante.
Já disse imperdível?
Boas leituras!
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