PsicoPAIta (Luís Coelho)

terça-feira, 15 de agosto de 2017


O nascimento de um filho é um dos acontecimentos mais felizes na vida de um casal. É, também, a soma de todas as mudanças que, apesar de previsíveis e esperadas, abalam a estrutura de uma casa.
 
Luís Coelho é publicitário, cronista e humorista. É num registo de humor, quase negro, que apresenta ao leitor uma (quase) sátira muito bem conseguida sobre os desafios atuais da parentalidade.
 
Se aos mais sensíveis a frontalidade do autor poderá chocar, acredite que por detrás dessa rebelião de palavras agridoces, se esconde um pai preocupado e apaixonado pelos filhos. O ponto alto deste livro é mesmo esse: um desabafo sincero e provocador de um pai que, independentemente das dificuldades, se mantém firme no seu papel:
 
"E este é apenas um dos papéis do pai que, antes de ser pai, é muitas outras coisas. É criado das hormonas da mulher, moço de recados, chauffeur, mordomo, empregado, cozinheiro. Enfim, um verdadeiro pau-mandado, ou melhor, pai mandado, lá de casa."
 
O leitor será confrontado a lidar com as mais profundas lamúrias deste pai, não esquecendo a  astúcia para críticas incisivas (e cómicas, claro está) a uma sociedade cheia de pressa, cujo troféu mais cobiçado passa por ser a melhor mãe, o melhor pai, o melhor tudo.
 
O autor sublinha o sentido de oportunidade das crianças. É todo um novo mundo que se afigura e cujas adaptações nem sempre são fáceis de gerir: deixar de fazer parte do grupo dos adultos fixes nas mesas de casamento, passar a falar única e exclusivamente sobre os filhos, guerrear pela melhor posição de pai e de mãe no infantário, resistir a um número cómico de horas de sono, manter a calma quando esta se extinguiu há meses, subjugar-se ao segundo (terceiro ou quarto) lugar na vida da mulher e lidar com cocós sem sentido de oportunidade, são apenas algumas das situações relatadas num humor irrepreensível.
 
Não se deixe iludir pela aparente psicopatia deste pai. Em todos os cenários há um lado bom e um lado mau. Na parentalidade não poderia deixar de ser diferente.
"Mas se, por um lado, anseio pelo descanso que é estar longe, por outro, sinto tantas saudades que o meu coração fica mesmo pequenino. Que feitiçaria é esta?
 
Recomendo sobejamente a leitura deste livro não só pelo humor que percorre todas as páginas mas, sobretudo, pela determinação do autor em expor assuntos que, aposto, todos os pais desejariam mas a quem lhes falta a coragem.
 
Boas leituras!
 

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