A Biblioteca da Piscina (Alan Hollinghurst)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018


O livro «A Biblioteca da Piscina», de Allan Hollinghurst, é já considerado um clássico pela relevância social daquela época, com um assunto emergente mas ainda altamente vedado pelo preconceito e pela vergonha. Este é um livro sobre homossexualidade na cultura inglesa, intercalado entre os anos 50 e os anos 80.
 
Hollinghurst conta-nos a  história do aristocrata William Beckwith, 25 anos, homossexual assumido, convicto das suas escolhas, seguro, rico, praticante do ócio ao mais alto nível, fruto da vida afortunada do seu avô, Lorde B.
 
Tudo se inicia num dos passeios de William pelo parque, parando nos urinóis, e acabando por ser confrontado com o desmaio de um homem mais velho: Charles Nantwich, pertencente à elite homossexual inglesa, e o homem que viria a alterar a consciência (quase) presunçosa de William.
 
Cedo descobrirá que também Charles frequenta o mesmo clube que ele, o Corry, um local onde a comunidade gay se sente plena de si mesma, independentemente dos graus de quem se assume inteiramente e os que os fazem intervaladamente.
 
Nascerá uma amizade genuína entre o jovem William e o sénior Charles, um homem enigmático, perdido num discurso que oscila, resultado de uma idade avançada e de um passado repleto de segredos que deseja ocultar, aparentemente.
 
A escrita de Alan Hollinghurst é soberba. Ele escreve com o coração veloz, sem ornamentos desnecessários, de quem deseja dizer o que realmente diz. Sem pudores, sem moralidades desajustadas, refletidas numa personagem segura de si mesma, seguro das suas preferências sexuais e do seu modo de estar na vida: William é a personificação da segurança, de um amor próprio narcísico.
 
Com o aprofundamento da amizade de ambos, Charles sugere a William que este escreva a sua biografia. Entre receios e dúvidas de quem vive uma vida ociosa, William acaba por aceitar tendo, posteriormente, acesso a todos os diários do velhote.
 
O autor, com «A Biblioteca da Piscina», tece um relato sublime sobre a condição da homossexualidade e o preconceito sempre associado. Se nos anos 50 temos um Charles reservado, numa necessidade urgente de desinibição, acalmada pela escrita que imprime cada um dos seus desejos,  os anos 80 mostram-nos um William destemido mas, abalado por uma série de acontecimentos futuros, cairá numa consciência que deseja negar: a do preconceito que nunca ousara confirmar a si mesmo.
 
É nesse paralelismo que o autor toca nas feridas sociais para afirmar, a alto e bom som, que nem o decorrer dos anos acalma essa agressividade e intolerância pela diferença.
 
 
Allan Hollinghurst, autor galardoado com diversos prémios literários, entre eles o Somerset Maugham Award (com o presente livro), é considerado um dos nomes cimeiros da literatura anglo-saxónica.
 
Da parte que me toca, só o posso recomendar sem qualquer reserva.
 
 
 
Boas leituras,

2 comentários:

Beatriz disse...

Olá, Denise :)

Nunca li este escritor. Muitos livros e pouco tempo...
Do que já li sobre ele, o tema da homosexualidade é recorrente e está presente em todos os seus livros.

Beijinho e boas leituras.

Denise disse...

Olá Beatriz!

Recomendo e muito :)
Beijinhos!

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