Matéria Escura (Blake Crouch)

segunda-feira, 13 de julho de 2020


Imagine a sua vida em formato de encomenda. Agora, imagine que, de um momento para o outro, lhe trocam a encomenda levando-a para um cenário totalmente novo e diferente. Esta é a grande premissa do livro de ficção científica de Blacke Crouch, «Matéria Escura».

Conheceremos Jason Dessen e a sua pacata vida. É professor de Física numa Universidade, é casado com Daniela e têm um filho adolescente. Sabemos de antemão que tanto para Jason como para Daniela, existiam sonhos que, à luz das suas escolhas,  ficaram guardados na gaveta do passado, evitando olhares mais discretos, como quem nega o que foi. Ele sonha com um prémio na área da Física, ela sonha ser uma pintora famosa.

Agora imagine novamente o cenário que lhe descrevi acima. Imagine que um dia, infeliz e um pouco cansado com a monotonia dos seus dias, alguém o aborda na rua e troca a sua vida, tal como uma encomenda que se perdeu no caminho. É isto que acontece a Jason, sem tirar, nem pôr.

"É assustador imaginar que todos os pensamentos que temos, todas as escolhas que podemos eventualmente fazer, abrem novos mundos, (...)"

O autor é exímio nas explicações científicas da realidade que nos expõe, e com isso, faz-nos refletir na importância de avaliarmos, constantemente, o nosso lugar no mundo, valorizar a nossa realidade, agradecer às mais pequenas coisas numa premissa muito básica de que apenas e só quando perdemos, somos atingidos pelo vazio do que tínhamos e não sabíamos.

Parece um cliché barato, bem sei. Mas não é.

"A interpretação da mecânica quântica postulada pela Teoria dos Muitos Mundos defende que todas as realidades possíveis existem (...)."

O tema que o autor traz a lume não deixa de surpreender o leitor mais céptico, mais que não seja, pela reflexão obrigatória que daqui surge: o que faríamos se nos substituíssem na nossa própria vida?

Numa era em que tudo nos parece tão instantâneo, onde o tempo parece ser sempre tão pouco para gastar com uma conversa barata ou um gesto que requeira mais do que um click no telemóvel, urge pensar com cuidado o que fazemos dos nossos dias, pois eles acabam, e o pior ainda, é a sensação de sabermos não estar a fazer o suficiente e, ainda assim, mantermos a postura de vitimização face a um mundo em constante mudança. A culpa nunca é nossa, que seguimos a corrente sem protestar, num «porque sim e porque todos vão» tão lamentável. Mas e depois? Quando nos tiram aquilo que realmente importa, o que fazemos?

"Talvez exista um milhão de mundos como o teu onde nunca cheguei a ser bem-sucedido. Mas basta um em que o fui (...)"

Basta saber que há um lugar onde nós fazemos sentido, tal como somos. Uma encomenda que jamais alguém quer devolver. Descobrir essa verdade aparentemente básica não só relativiza sonhos insuspeitos à vista de um futuro que não se vê, como valida o nosso lugar como certo e irrevogável.

Deixemos de aspirar tanto, de desejar tanto, não vá o Diabo tecê-las para que aconteça e você perceba, já tarde, que afinal estava muito bem onde sempre esteve.





Esta leitura contou com o apoio da Suma de Letras

💓
Seja feliz,

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Acredito que seja um livro fascinante de ler.
.
Tenha uma semana feliz
Cumprimentos poéticos

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