O homem lento (J.M.Coetzee)

quarta-feira, 1 de julho de 2020

O que é suposto fazer quando a vida deixa de ter sentido? Na sequência desta leitura, dei-comigo a pensar numa frase de Pearl S. Buck que gosto muito. Algo aproximado a «Nem sempre morremos quando a vida acaba.»
«O Homem lento» é essa história aparentemente crua, mas repleta de sensibilidade, sobre o nosso lugar no mundo e o envelhecimento como um contrato que cessa tudo o que foi. Aqui conheceremos a história de Ryan, um homem mais velho, sozinho, divorciado e sem filhos, que gosta de andar de bicicleta. Num dia como tantos outros, sai de casa para mais um passeio e é violentamente atropelado. A bicicleta fica torcida pelo impacto e pelo mesmo caminho, Ryan acaba com uma perna amputada.
Esta é a premissa de uma história que nos abre cortinas para uma reflexão cuidada sobre isto de viver, de envelhecer e a marca, a tal marca que todos nós desejamos que aqui fique plantada, antes de irmos embora.
Ao longo desta sua nova jornada, conheceremos os medos e receios de um homem velho mas que pouco se sente como tal, que não admite a possibilidade de um quase amor, para isso, opta pela solidão nua e crua, mas verdadeira.
Conheceremos uma vida vazia e o quanto caminha, ainda que desalinhado, pela esperança de reencontrar os  resquícios da juventude, do amor, do sexo, e até, da parentalidade como fantasma.
As personagens que lhe amparam os dias, algumas bem peculiares, não são mais do que projeções dessa esperança e do medo simultâneo de quem viveu mal, de quem gastou os dias sem pensar na conta final. O crédito mal parado de decisões fugazes, como quem se sente imune às consequências.

Um livro solitário, este. Uma história que nos convoca a ternura e a compaixão mas, na mesma medida,  servindo como um lembrete de que também nós, usuários do verbo «viver», precisamos de virar os olhos para dentro, descalçar os pés, caminhar em terra mais firme, não vá isto acabar sem percebermos que a magnitude da vida estará, sempre, na matemática de um passo a seguir outro, pensado e repensado.

"Que coisa singular, que coisa positivamente antiquada, acreditar que seremos avisados, quando a ocasião chegar, para pormos a alma em ordem!"



Seja feliz,

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Acredito que seja um livro fascinante de ler.
Boa leitura
.
Saudações poéticas

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