Invisível (Paul Auster)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Posso dedicar-me a explicar todos os traços que definem a história deste brilhante livro de Paul Auster. Mas posso também dizer, especificar, esmiuçar, ampliar, evocar, gritar, lançar emoções que surgem das leituras feitas durante noites perdidas na tua companhia ausente. Posso fazer aquilo que eu quiser. Até porque não estás aqui e se não estás, eu nada te posso pedir. Assim, invisível, vou invocando saudades e perda, que este livro contém na mesma medida. Ao ler(-te), acabei por te sentir na história, como algo que se quebra e pelo som, se detecta. Se denuncia, mesmo sem querer. Exactamente sem querer.
Sensação de falar debaixo de água e bolinhas que dançam à volta do nariz. Nada se diz. E tudo se sente. Uma dor misturada com o som do giz que raspa no quadro, cruamente? É realmente possível riscar, assim, riscar presenças e ausências?
O paradoxo desta minha invisibilidade é tão mais acentuada no momento em que sinto querer riscar essa ausência. Repara! Querer riscar é a lembrança gritante de que apenas vives num pensamento longínquo. Invisível.
Acredito que em qualquer fase da vida nos sintamos assim, invisíveis. Por mais que corras, por mais que lutes, esse desfecho que anseias... não chegará.


Este foi um dos melhores livros que li de Paul Auster.
(Mas são todos bons :) )

Resumo www.wook.pt: Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma, conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.
Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbuído de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade. Uma obra inesquecível pela mão de um dos nomes cimeiros da literatura dos nossos dias.

1 comentário:

chuva disse...

Um dos melhores comentários a livros que já li, neste blog. Que eloquência...e que sensibilidade...

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