A Mecânica do Coração (Mathias Malzieu)

quarta-feira, 27 de junho de 2012


Dolorosa. Diria que a tua história é na mesma medida belíssima e dolorosa. Usando as tuas palavras não é o amor «um acidente cómico, mas violento»? Se é. Se é.
Por mais violento, por mais acidental que seja, carrega igualmente uma necessidade dolorosa nas pernas: de correr, correr, correr desenfreadamente ao seu encontro, contra tudo e todos, contra aquilo que nos dizem, contra os outros amores que nos criaram, e contra o próprio relógio, os ponteiros que te guiam e suportam o coração!
Mas que interessa, perguntarias tu, little Jack. O amor doce de Madeleine. Essa mãe emprestada e devota. O amor dos amigos que se criaram nessa casa no cimo da colina. Que interessa? Interessa, sim. Mas que interessa, se no Mundo, apenas Miss Acácia, poderá preencher o vazio desse som permanente no teu peito, desse relógio velho que te guia, te faz sonhar e temer, mas que te faz na mesma medida ter uma coragem desconhecida, a coragem de percorrer caminhos e caminhos, acreditar naquilo que ninguém acredita, chorar e rir, cair e levantar, tudo em sopros, num medo que novamente surge quando o som do relógio se eleva na cólera e no ciúme que contorna esse caminho definidor da impossibilidade dos desejos de qualquer pessoa: a plenitude de um sentimento em nada pleno.

O amor é o acto mais violento que conheço.
E na mesma medida, o mais belo.

Ao som de: Frou Frou "HEAR ME OUT"



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