O Paraíso Segundo Lars D. (João Tordo)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016


«O Paraíso Segundo Lars D.» é uma espécie de continuação daquela que será uma trilogia de João Tordo. Digo espécie porque estamos a paredes-meias com o escritor ficcional do primeiro livro, numa intimidade inquietante.
 
Do nada, encontramos vestígios do sublime «O Luto de Elias Gro», não através do seu criador que, porventura, será o homem mais solitário do mundo, mas através da sua carinhosa e inigualável mulher.
 
É uma história de intocável tristeza, de tamanha dor que por ali se vive, não queiramos tocar-lhe. Há um risco de contágio na dor de Lars que, como diz a esposa, ressente-se nele por isso, e só por isso, no contágio da sua dor, tristeza e pequenas grandes doses de insanidade.
 
Estamos, assim, perante um livro cujo fio condutor é, mais do que uma tristeza inegável e profunda, a procura infindável de si mesmo que atormenta, mói, cansa e mata lentamente. Qual cancro de fim redentor. De um fim que seja, enfim. Um fim que chega, de vez, para calar questões, decisões ou, tão somente, as dores de um corpo que já está velho, sem nunca ter tido um espelho fiscal.
 
"(...) como é possível que a ausência de alguém seja tão mais pesada do que a sua presença, e como se vive assim sem enlouquecer de vez?" p.71
 
Tanto mais, se essa ausência for a nossa. Sempre. Como uma morte que se esconde atrás das costas, de dedo indicador em riste contra a pele, num lembrete eficaz de que vai chegar. Hoje, amanhã, quiçá, depois de amanhã...

O livro de João Tordo é um apelo à necessidade de virar os olhos para dentro, de procurar nas entranhas algo que mova, ainda. Encontrar um Deus para todas as curas da alma.
Que justifique a angústia dos dias que cansam. Dos dias cada vez mais velhos. Que têm pó.
 
Do lado de cá, ficam os espectadores que tão bem nos conhecem as mazelas, ficando, dia após dia. Para contar a história do que foi.
 
"A pergunta que te faria, se ainda fosse a tempo, era esta: conseguiste? Tiveste o que querias? Fizeste a viagem da Solidão à Solidão, e no final, encontraste Deus? Nos teus últimos momentos, esgravatado por dentro, irremediavelmente só, na mais cruel agonia, sentiste essa união com o divino? E essa união curou a tua ferida, o rasgão que é a origem de toda a tua angústia?" p.205


Muito bom.
Boas leituras.

2 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Este livro faz parte da minha lista para o ler este ano, depois de ler o anterior "O Luto de Elias Gro" fiquei fã do João Tordo.
Um abraço e boa semana.

Denise disse...

João Tordo foi também uma das minhas grandes surpresas em 2015.
Gostei especialmente da «Biografia Involuntária dos Amantes».

Venham mais!

Boas leituras. Boa semana!

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