As Virgens Suicidas (Jeffrey Eugenides)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


"As Virgens Suicidas», primeira obra do conhecido autor Jeffrey Eugenides, é uma história sobre o amor, a adolescência e o suicídio.

A história centra-se nas cinco irmãs Lisbon: Cecelia, Therese, Mary, Bonnie e Lux, cada uma com personalidades bem distintas, sempre juntas num contexto familiar que se adivinha, sempre uma mera adivinhação, sombrio e austero.

A trajetória das meninas é narrada 25 anos depois das suas mortes, pelos meninos (agora homens) que seguiam de perto todas as pisadas daquelas que eram consideradas as mais bonitas da escola. Eram muitos os que pensavam como é que aqueles pais, o Professor de Matemática e a senhora sempre enfiada em casa, de cabelos baços e corpo roliço, haviam criado tais belezas.

Nas raras vezes em que um dos meninos conseguia entrar na casa dos Lisbon, iniciava-se uma odisseia pelo mundo daquelas irmãs: percorriam, durante longos minutos, a casa-de-banho na busca de algum tesouro, um batom, um tampão, cabelos loiros perdidos entre as cerdas da escova.

O livro de Jeffrey Eugenides é muito mais do que uma história sobre cinco irmãs que decidem pôr termo à vida. O excecional da sua obra passa, precisamente, pelas ilações que qualquer leitor pode retirar depois de se confrontar com um acto assustador, que pede misericórdia mas que nos compra a curiosidade e a necessidade, emergente, de julgar, questionar e apontar dedos.

Após a morte de Cecelia, um evento em especial levará a que os pais, sombrios desde sempre, se fundam numa casa que, igualmente, parece apodrecer e desintegrar-se com a força, pesada, dos dias. Há uma decrepitude na casa que espelha o estado de espírito de um pai e de uma mãe que perdem um filho.

Também a vizinhança se abala com o acontecimento. O egoísmo (ou a coragem?) dos suicídios parece ter levado as meninas, que decidiram em primeira mão os seus próprios destinos a matar igualmente um bairro inteiro, pela curiosidade e pela ausência de uma resposta.

Ao longo de todos aqueles anos persistiu, e persistirá, a dúvida: porque se mataram as meninas Lisbon? Terá sido a austeridade mascarada dos pais? Uma adolescência conturbada que, fruto de constantes reprimendas dos pais, implode em comportamentos mais levianos, de quem usará o corpo como forma de pedir amor? Lux era assim. Cecelia não se enquadrava dentro dos seus tenros 13 anos. Bonnie rezava. Mary e Therese pareciam indiferentes e ausentes.

E as questões poderiam continuar. As respostas continuariam a tardar. A nunca chegar.
Leia este livro e permita-se à dúvida, uma história que começa e termina em aberto. As dúvidas persistem sem, no entanto, deixarem de conquistar irremediavelmente o leitor, pela carga e pela amargura de um tema que nunca deixará de nos sensibilizar.



Boas leituras,

3 comentários:

Bárbara Ferreira disse...

Já li os três livros do autor e este é, de longe, o meu favorito. O filme fica muito aquém. O livro é lindíssimo, deixa tanto por responder... a banalidade e a tristeza das vidas delas, algumas das irmãs eram claramente personagens menos presentes - como tu própria disseste, eram ausentes, ausentes não só da narrativa mas da vida, de si mesmas. Todas as cinco, desenquadradas. Bonita opinião.

teresa dias disse...

Olá, Denise!
Não li este livro, mas agora fiquei curiosa.
De Jeffrey Eugenides li "Middlesex" e "O enredo conjugal". O primeiro é soberbo!
Beijo e boa semana.

Denise disse...

Olá Bárbara,

Obrigada pela simpatia.
Precisamente pela incerteza de toda a história, este é um livro que nos prende muito para lá do fim da leitura. Gostei mesmo muito.
Beijinhos e boas leituras.


Olá Teresa,
Do autor apenas li o presente livro, mas tenciono conhecer os restantes. Falam-me maravilhas do "Middlesex", atualmente esgotado :(
Beijinho e uma ótima semana!

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