Paula (Isabel Allende)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018


«Paula» de Isabel Allende é um livro que contém em si toda a sensibilidade do mundo. Acredite, quando falamos da morte, dessa pessoa que parece ficar mas que, irremediavelmente, tem de ir, exige essa nudez de emoções, uma catarse necessária para afastar demónios e encarar a verdade, tal como ela se nos apresenta.
Um livro que é uma espécie de carta emocionada que a autora escreve no momento em que a sua filha padece de uma grave doença que a levará à morte. Uma morte lenta, um coma que não dá alento, uma esperança que teima em ficar de mão dada ao medo incomparável da morte. Sempre fria. Traiçoeira. Estúpida.
Ao longo do livro o leitor terá a oportunidade de conhecer a história da família Allende, as confissões por vezes baralhadas de uma mãe que, na iminência da perda, faz uso da escrita como forma de superar o desamparo que todos aqueles meses lhe imprimem na alma.
É através dessa escrita apaixonada, desordenada e aflita, que a autora nos revela mais de si, da família, dos filhos, dos amores, dos desamores, de si enquanto mulher apaixonada por todas as formas da vida.
Um livro tocante em que até à última página lhe suscitará a esperança de que Paula fique. De que não continue fechada em si mesma, o olhar vago e perdido de quem encontrou, afinal, uma outra direção. Tão oposta.
A vida é assim, dizem. Tem de primar pelo fim, na esperança de que lhe atribuam toda a esperança antes dessa chegada iminente que tudo termina, que tudo muda, que tudo desnorteia. É precisamente esse aldrabar de um fim que obrigaram a autora a escrever sem parar: uma emergência de quem desespera por dizer tudo o que não disse, colmatar ausências e culpas que sempre surgem no lado mais sombrio dos dias.
 
Se é feito de um coração frágil, leia este livro.
Se é feito de um coração que não oscila, leia este livro.
 
Um daqueles livros que comprovam que o amor, a perda, o luto, a morte e a resiliência, são obrigatoriedades para todos nós. Para refletir. Para amar mais e melhor. Para deixar ir, quando a vida assim o diz.
 
Um livro admirável e que, obviamente, só posso recomendar.
 
Boas leituras,

3 comentários:

Carlos Faria disse...

Neste caso, corações frágeis não devem ler este livro. Li-o há décadas, pouco tempo depois de ter sido primeiramente editado, confesso que tinha tido uma depressão e perdera um familiar há pouco. Deprimi-me tanto com esta obra que foi preciso talvez mais de 20 anos para voltar à escritora.
Agora como testemunho da dor de uma mãe perante o assistir ao desaparecimento de uma filha, talvez não haja melhor.

Denise disse...

Compreendo perfeitamente Carlos, mas pessoalmente sou a favor de enfrentar demónios e creio que é, precisamente, no confronto, que tudo pode mudar (para melhor, não fossem as mudanças promessas diárias). Independentemente da carga emotiva, por vezes pesada, do livro, resta-lhe ainda assim a resiliência e a esperança :) Gostei imenso.

Boas leituras!

Denise disse...

Obrigada pela simpatia, Miss B!
Volta sempre :)
Beijinhos

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