Relato de um certo oriente (Milton Hatoum)

segunda-feira, 30 de abril de 2018

 
Milton Hatoum é um dos autores brasileiros contemporâneos mais acarinhado pelo público, pela qualidade da sua escrita e pelo encanto que imprime com os seus livros.
 
«Relato de um certo oriente», escrito em 1989, é o primeiro livro do autor e, à semelhança do seu conhecido «Dois Irmãos», centra-se na história de uma família libanesa, uma saga familiar envolvente e singular. Mas porquê singular?
 
Ao longo da história que decorre em torno de Emilie, a matriarca da família, mulher enigmática e distinta, vamos conhecendo os diversos pontos de vista de oito narradores diferentes. Inicialmente, a leitura parece-nos enviesada, estranha e confusa, contudo, gradualmente, o conhecimento de cada voz narrativa, das situações específicas que apontam, permitem afinar o olhar do leitor, indo de encontro a um grande drama familiar.
 
Uma mulher regressa a Manaus, aquela que foi a cidade da sua infância. O seu regresso justifica-se pela necessidade de rever Emilie, mulher que a havia adotado em criança. Emilie está a morrer e é nesse contexto, de eminente perda, que a mulher revive e regride a uma infância marcada substancialmente pela perda, uma espécie de família em ruínas marcada pela ausência e pela morte.
 
Independentemente de Emilie não ser narradora, é tida como o epicentro de toda a história que se vai revelando pelas bocas de uns e de outros. Ao longo do tempo, o leitor percebe a importância da mulher em torno da família que construiu, bem como o resvalar iminente das tragédias que, de um modo ou de outro, já se anunciavam ao virar da esquina.
 
De todos os relatos que definem esta história, serão as lembranças dessa mulher que regressa, a imprimir a força aos acontecimentos que marcaram uma família, o seu desespero e a resiliência que se deseja.
 
Através de relatos tensos, sombrios e oprimidos, Milton Hatoum faz-nos espreitar pela cortina, dando-nos a conhecer, passo a passo, uma família perdida em si mesma, em que o passado é mestre e o futuro uma vaga metáfora entre lembranças e ressentimentos.
 
 
 
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Boas leituras,

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