Todos os dias (Jorge Reis-Sá)

segunda-feira, 30 de abril de 2018


Imagine um poema em crescendo. Um poema que parte de um ponto comum e cresce, propaga-se e compra-nos a curiosidade pelo que não se diz: este é o livro «Todos os dias» de Jorge Reis-Sá.
 
Um poema grande, em estado bruto, diluído por quem nele vive, atormentado, saudoso ou esperançoso. É a história de uma família, que conhecemos sobretudo pelo silêncio diário e perdido por uma casa, também ela de histórias por revelar. É a casa que protege, que guarda e alimenta memórias de outros tempos, saudades atuais nascidas numa época em que ainda não se esperavam tragédias, afrontas e agonias.
 
Conheci Jorge Reis-Sá com o seu «A Definição do Amor». A sua escrita poética convenceu-me logo ali, nas primeiras páginas. São como palavras e frases atiradas pelo vento, dando ao leitor a oportunidade de as direcionar consoante a sua própria história. É um virar para dentro.
 
«Todos os dias» é o livro dos dias comuns, de uma família que nasce, amadurece e vai morrendo na saudade dos que lhes ultrapassaram a suposta lei da vida, da idade, da resistência.
 
Falo-lhe de um livro em que aparentemente nada é dito, pelas sombras dos que habitaram aquele lugar, na vida e na morte. É um livro aparentemente vazio de ritmo, sem fios condutores, no entanto, é precisamente esse suposto vácuo que conquista: muito se diz, quando não se diz.
 
 
Recomendo, com ambas as mãos, um livro que marca pela solidão invocada, pela saudade, e a morte a imprimir-lhe as suas razões de viver.
 
 
Seja feliz,

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