O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quando andava na escola, lá pelas ondas dos meus 15 anos, era moda, na altura, cadernos repletos de citações (vindas sabe-se lá de onde), frases suspensas pela mola do ridículo, o que fosse, mas estava na moda. E nós líamos. Isto para, hoje, seleccionar, e justificar, uma dessas frases que se prendeu ao meu cérebro: "Se chorares, as tuas verdadeiras amigas vão apoiar-te, se estiveres em baixo, as tuas verdadeiras amigas lá estarão para ti... mas... experimenta ser bonita!!"
Sempre achei particular piada, à falta de palavra dotada de maior requinte, a esta velha frase. O quanto a beleza move. O quanto algo tão leve, supérfluo, pantanoso, diria eu, move! Arrasta! E mata!
Será esse o verdadeiro motivo de tanta devoção? Se a beleza é assim tão leve, temporária, um vento que passa pela força dos cruéis dias, será então essa a razão de tanta avidez? 
Tanta malvadez que fecha olhos e mentes. E almas. Sobretudo almas. Foi assim com Dorian Gray, mesmo com o seu quadro revelador, a tendência de fechar os olhos à realidade, e deparar-se com a suposta beleza, seria sempre mais tentador!
É com isto que me questiono. E é igualmente com todas estas imagens de beleza, de ventania, de espelhos e quadros derramados com sangue, que surges tu. Nessa conhecida falta de beleza de que és feito. Sim, é nesse momento que surgem inquestionáveis dúvidas.
Nesta teoria, vejo a beleza desenhada a uma crueldade capaz de matar. Capaz de matar, apenas para ficar.
Mas tu és feio. E questiono-me. Depois de cansada, com o cérebro dorido das mais penosas possibilidades, desenho-te, não a crueldade, mas a uma frieza e amizade bem próxima dessa beleza tão almejada. Afinal de contas, tal como a beleza, o feio é igualmente capaz de matar, igualmente e apenas para se perpetuar no sofrimento daquele que é negado.

Uma conclusão no meio de tanto surrealismo?
Não se trata, na verdade, de beleza.
Ao belo e ao feio uma coisa une: o medo de ser rejeitado. E exactamente por isso, são capazes de matar, negar, apenas para ficar. Para triunfar. Com sofrimento, com o que seja. Apenas para ficar.



Ao som de: Imogen Heap (Hide and Seek)


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