Sputnik, meu amor (Haruki Murakami)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

 
A solidão e o amor são aqui retratados de um modo doloroso, quase cruel. Para não dizer, de forma realista. Dura. Fantasticamente real, como Murakami começa a fascinar-me neste que é o segundo livro seu que leio.
Através do Sputnik, primeiro satélite artificial do mundo, somos transportados para o espaço de três particulares personagens, sem pouso certo, à procura de si mesmos num desespero pelo reflexo de um outro que não pode, também, dar de si.
 
 
 
 
 "(...) mas que no fundo não passávamos de dois solitários pedaços de metal, traçando cada um a sua órbita." (p.134)
 
O livro não mais é do que um forte apelo à necessidade de nos revermos em alguém e sermos aquilo a que verdadeiramente estaríamos destinados a ser, mas por uma força gravitacional qualquer, optamos por outra máscara, por outra conduta, por outra cor, e avançamos nos dias, pela força de uma vontade em nada correspondente à verdade do que sentimos. Em nada correspondente ao «lado certo», ao nosso verdadeiro «eu».
É essa aflição, interligada nas ânsias de Sumire, Miu, e narrador, que o leitor se vai apercebendo que entende perfeitamente estas três almas mal amadas. Que o desejo em desaparecer como fumo é tão válido como beber café, que separar-se em dois num dia como tantos outros, ver-se a si mesmo à distância, partir-se, assim, em dois, é credível.
Porque, na verdade, esse «partir em dois» representa tão só a divisão ingrata da realidade e do sonho, dessa balança da justiça dúbia dos mortais que para se ser feliz, há que viver através da idealização de um sonho. Afinal de contas, o único prato da balança que poderá equilibrar o nosso peso nesse espaço tão incerto.
 


Muitos livros. Muitas leituras

 
Ao som de: Endless Melancholy | Somewhere
 

4 comentários:

Anónimo disse...

Lindo, né? :)
Este, de todas maravilhas que Murakami escreveu, é o livro mais lírico, mais passional, diria mesmo com um tom de pieguice. :)
Mas terrivelmente belo.
Só um exemplo: a forma como ele aborda os momentos de erotismo. O erotismo é uma das maiores armadilhas que um romancista enfrenta. Murakami sabe como ninguém criar uma atmosfera perfeita, sem exageros mas com um certo tom místico

Denise disse...

Lindo! Lindo! :)

Tens razão no que dizes, a forma como aborda os temas: não os deixa cair no ridículo. Há uma subtileza ímpar.

Já tenho na estante a quase totalidade dos seus livros para devorar :)

Unknown disse...

Sabes que já dei comigo a pensar assim: que pena ter lido tudo dele! Agora tenho de esperar que ele publique mais!

Denise disse...

Eheheh :)

Tens de esperar até Setembro, já não falta muito!

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