A Rainha da Neve (Michael Cunningham)

domingo, 7 de dezembro de 2014

Posso tão simplesmente dizer que "A Rainha da Neve" é um livro centrado, sobretudo, na força do "não ter".
Estamos perante um livro repleto de personagens interessantes e densas. Pesadas. Por dentro. Repletas de questões sem fim, e numa procura incessante de respostas que tardam em chegar. Procuram, então, num desespero quase doente, e alucinado, pequenos sinais que os aproxime a essas respostas. Uma resposta que traga paz, uma reconciliação consigo mesmo. Nem que seja um piscar de olhos de um céu. Um sinal malandro de um céu desconhecido. De um Deus desconhecido. Alguma coisa que lhes permita ir vivendo os dias, suportando e sobrevivendo à força de não ter, porque ter, amortece e pacifica. Não permite procurar mais, não requer esse esforço contínuo, esse investimento que as pessoas que estão ao nosso lado, ávidas, proclamam. Que exigem, sem falar, que apregoam, sem dizer. Tendo, acabamos por, paradoxalmente, não ter. Não amar como seria suposto. Estabilidade que estagna, sem cordas que nos puxem.
Se parecemos uns tolinhos nessa imersão complexa de quem sente, claro que sim. Mas isso são já outras histórias. De quem nos criou. De quem nos moldou. E de quem escreveu o nosso pequeno conto. De quem acabou por nos desenhar assim à força das intempéries dos dias que se foram vivendo. Somos uns tolinhos a quem não foi ensinado o mais importante. Mas isso, como já disse, são outras histórias.
"A Rainha da Neve" é um livro que consegue misturar, em si mesmo, doses de loucura, comédia e muita, muita sensibilidade. Uma sensibilidade verdadeiramente tocante quanto à nossa fragilidade e necessidade de nos encontrarmos, de nos vingarmos a nós próprios, a deixarmos o nosso reflexo em algum lugar. Um sinal. Qualquer coisa. Uma luz qualquer. No chão. Ou no céu, quem sabe. Um pouco de amor. De música. De gelo, quem sabe. Qualquer coisa que nos pacifique por dentro.
E tudo isto, pela força suprema de um não ter. Que move, que empurra, que seduz.
 
 
Um livro a reter.
 
 
Boas leituras.
 
 
"A Rainha da Neve" | P.121
 
 
O romance luminoso de Michael Cunningham, autor de As Horas, começa com uma visão. Estamos em Novembro de 2004 e Barrett Meeks, tendo perdido um amor uma vez mais, atravessa o Central Park quando se sente impelido a olhar para o céu. Ali, avista uma luz pálida e translúcida que parece olhar para ele de uma forma inequivocamente divina. Barrett não acredita em visões - nem em Deus - mas não pode negar o que viu e sentiu.
Ao mesmo tempo, Tyler, o irmão mais velho de Barrett, músico em busca de inspiração, tenta - sem sucesso - escrever uma canção de casamento para Beth, a sua noiva gravemente doente. Tyler está determinado a escrever uma canção que não seja meramente uma balada sentimental, mas uma expressão duradoura de amor.
Cunningham segue os irmãos Meek nos seus diferentes percursos em busca da transcendência. Numa prosa subtil e lúcida, demonstra uma profunda empatia pelas personagens torturadas e uma compreensão singular daquilo que constitui o âmago da alma humana.
 

4 comentários:

Angie disse...

foi a melhor definicao desta palavra que ja li ate hoje.

Denise disse...

Boneca!

A Psicologia até que percebe umas coisas, hein? Eheheh
Quando lemos assim, as coisas até parecem mais simples :)

E que tal leres «A Rainha da Neve» que por esses lado onde andas é bem abundante? :P

Muitas saudades!

Unknown disse...

Preciso saber onde você comprou esse livro, pois não consegui encontrar nenhuma livraria (física ou virtual) que o venda no Brasil.

Denise disse...

Olá Wagner!

Comprei este livro na Bertrand em Portugal :)
Não faço ideia como funciona em vendas para o estrangeiro... e Amazon, não?
http://www.amazon.com.br/Snow-Queen-Michael-Cunningham-ebook/dp/B00GLGZV6A/ref=sr_1_4?ie=UTF8&qid=1439238544&sr=8-4&keywords=michael+cunningham
Tem aqui mas encontrei em inglês. Espero ter ajudado!

Beijinhos e boas leituras!

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