Norwegian Wood (Haruki Murakami)

sexta-feira, 6 de abril de 2018

 
Poderá conter alguns spoilers
 
«Norwegian Wood» é conhecido como o livro que confirmou Murakami como um autor de culto. Assistimos a uma nova abordagem de temas como a morte e o sexo, que nos surgem pela porta dianteira.
 
A história começa com Toru, agora com 37 anos, quando numa viagem de avião quando é invadido pelas suas recordações de adolescência, e da faculdade, ao som inesperado dos Beatles e a sua «Norwegian Wood».
 
Retrocedendo no tempo, conhecemos a sua vida aos 18 anos, a sua adolescência, a amizade inquestionável com Kizuri e Naoko, sua namorada, cujo silêncio a definia. Segundo Toru, era o silêncio que a definia na plenitude. A presença de Naoko parecia chegar, quando assuntos triviais nunca tinham lugar entre eles.
 
Ao longo de todo o livro, Naoko torna-se nessa presença silenciosa e ausente na vida do jovem, semelhante ao vazio deixado por Kizuri, quando decide suicidar-se. Há um amor que cresce nessa sombra, e que depois de revelado, se remete novamente a uma sombra palpável, repleta de dúvidas que acabam por o definir enquanto homem que ameaça tornar-se.
 
Os seus dias são pautados pela rotina de um estudante de faculdade: vai às aulas, estuda, volta para casa e recomeça no dia seguinte. A desmotivação face aos estudos é apenas um apêndice de uma desmotivação global: nada parece fazer sentido na vida de Toru, um jovem alheado em si mesmo, em Kizuri e, particularmente, em Naoko.
 
Será num desses dias rotineiros que, também de forma inesperada, conhece Midori, uma jovem peculiar no seu jeito de falar, de viver, de ser. Uma amizade cresce, um beijo acontece e um namorado à margem, lá longe, aparece no cenário que confirma a nossa personagem como um elemento que parece estar sempre a mais.

Quando Naoko desiste dos estudos e é internada numa espécie de centro de reabilitação, as suas atenções redobram-se nessa direção, esquecendo tudo o resto e alimentando esse amor estranho, indeciso, que não se firma nem deixa de existir. É lá que conhecerá Reiko, amiga inseparável de Naoko, uma mulher mais velha também ela perdida em si mesma, no seu passado, nas suas dúvidas, nos seus anseios. Novamente, encontramos Toru entre duas pessoas, sem lugar definido.
 
Haruki Murakami oferece-nos uma história que obriga qualquer leitor a parar, a pensar e a questionar. É um livro que reúne em si os medos comuns, a autodescoberta pelos prazeres não só do corpo, como pelo medo arreigado da morte. A morte está presente na mesma medida da ausência de um amor que deseja.
 
Comparado ao clássico da literatura «À espera no centeio», de Salinger (cujo título é igualmente extraído de uma música), Murakami fez nascer um personagem inesquecível pelo seu medo de existir e pela persistência, simultânea, de encontrar o amor certo. Porque no fim, e como tudo na vida, só amor prevalece.
E ele chama, perdido, por Midori.
 
 
Seja feliz,

7 comentários:

Mad Costa disse...

Quero muito ler Murakami, mas do autor só tenho a Peregrinação do Rapaz Sem Cor. Já leste?
Boas leituras.

Carlos Faria disse...

Um escritor de culto para uns, banal para outros. Não li este livro, aliás dele só li "Sputnik meu amor" não desgostei, mas não me convenceu. Já pensei ler mais algumas obras dele para confirmar uma opinião sobre ele, mas há tantos escritores que já me convenceram ser bons e outros que vou tentando descobrir que Murakami tem ficado para trás.

Denise disse...

Olá Mad!
Já li esse livro do Murakami e pode ser uma boa opção para iniciares. Lembro-me que o primeiro livro que li do autor foi "A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol". Penso que até agora foi o livro que mais gostei.
Beijinhos!

Olá Carlos!
Já li alguns livros do autor e continuo naquele limbo de quem não sabe se foi, ou não, conquistado. Acontece-me sempre o mesmo no término de um livro de Murakami.
Gosto mas há sempre uma incerteza que não a consigo explicar.
Vamos ler mais!
Boas leituras :)

Anónimo disse...

Olhe que pelo que escreveu até deu a entender que gostava bastante do autor e do livro. Não fosse o que escreveu ao Carlos era o que pensava.

Denise disse...

E gostei, Anónimo.
Refiro-me à globalidade do que já li do autor.
Citando-me "Gosto mas há sempre uma incerteza que não a consigo explicar."

Boas leituras!

Beatriz disse...

Denise :)
Embora goste muito de literatura japonesa, um dos que li este ano entrou para a galeria, como já te disse, H. Murakami não me convence de maneira nenhuma. Nenhuma.
Bem sei, é adorado por todos. Críticos inclusive.
(Há uns anos li Dazai "Não-Humano" e achei-o muito interessante. Caso ainda não tenhas lido, recomendo. A minha edição é da Eucleia, mas a "tua" editora tem uma edição mais recente. A Cavalo de Ferro parece reeditar livros traduzidos anteriormente por esta editora, fizeram o mesmo com Garman & Worse há poucos meses.)

Comecei ontem "A Sibila"!
Beijinhos

Denise disse...

Pois é, Beatriz.
Eu própria também ainda não sei se fui convencida por Murakami. Gosto dos livros mas nada de arrebatamentos. Não sei, talvez precise de ler mais ainda.
Vou mesmo ler esse que recomendas sim! (ainda por cima da "minha" editora!)
A Sibila! :) Espero que gostes, adorei esse livro.
Nem imaginas o livro que em breve vou colocar aqui ;)

Beijinhos e bom fim-de-semana (com muitos livros!)

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