Amores, gumes e pontas de língua

sexta-feira, 28 de setembro de 2018


"Podemos dar à arte de amar o objeto de uma faca de dois gumes. De um lado mata, do outro morre. Em nenhum desses gumes encontramos a parte do à sua mercê, minha excelência. A entrega à mercê do outro seria um gume?
A arte do despejo de si mesmo é essa faca, de um, dois ou três gumes. Como uma real ordem de despejo, levada pela corrente de prestações vencidas, há alguém que lhe abre o coração, despojado de bibelôs que mascaram o verdadeiro material do móvel. Escancarado, deixa-o à mercê. Deixa-o vulnerável. Entra num incumprimento de fidelidade pessoal, com partilhas e segredos que escorrem da boca, apressados, tão negligentes.
Seja arte, seja martírio, amor que é amor faz-se acompanhar de facas. As mais afiadas para pontas de língua que ardem pelo que não dizem. Que se cortam pelo que dizem. E as mais fortes para um corte alinhado no momento certo.
Você talvez me entenda quando lhe digo que nos amores há sempre um momento certo em matéria de gumes e pontas de língua."
 
(Obrigada, Clarisse)
Sempre.

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