Villette (Charlotte Brontë)

segunda-feira, 30 de julho de 2012



Mais um livro que me fascina. Sim, apesar de lido, continua a fascinar, e continuará. O meu coração é fresco, e não quente, mas porque continua a bater além das memórias antigas, bate e renasce nessa frescura de tudo viver, mais uma vez. Um novo conceito de quente? Porque não? Porque não aquilo que eu quiser? Tudo aquilo que eu quiser, hoje. Porque sim.
Este é um daqueles livros que sublinha a condição de mulher invísivel, que tenta ganhar cor para lá das paredes da submissão, sonhos contornados de emancipação.
Mulheres subjugadas por uma condição social. Uma mulher desenhada a traços cinzentos, assustada pelo cor-de-rosa de um vestido de gala. Uma mulher que tenta, ora olhar, ora desviar esse mesmo olhar. Um jogo de emoções contidas, orgulho puxado a ferros, amores contidos, também eles a ferros. Rasgam o peito! Dilaceram! Calam bocas com desejos de promessas ainda não conhecidas. Uma ambiguidade doce.
No meio de tudo isto, no meio de todo este romance, «Villette», destaca inúmeras emoções, mas de todas, a amizade que cimenta esse amor descoberto numa teia tão fina, intrigou-me. Uma intriga feliz. Haverá alicerce mais seguro para suportar lágrimas e sorrisos de um sentimento tão exigente na arte de manejar?
Questiono-me, porém, noutro aspecto. Amizade nua. Sim. Há tendência ao medo de amar. Na amizade, contudo, há tendência à nudez. A uma nudez de sentimento, a uma ilusão de protecção contra a luz que fere os olhos, contra aquilo que não queremos ver. A uma nudez de perigo. A uma nudez de alicerce.
Este é um romance que acaba em aberto. O leitor tem o poder de imaginar, tem sempre. Neste, porém, Charlotte faz questão de aludir à nossa imaginação. Sem conseguir explicar, talvez sim, talvez não, só consigo imaginar na nudez da amizade.
A nudez da amizade. A crença que depositamos em alguém. O poder que lhe atribuimos. O chão que nos tira e a queda. A derradeira queda que nos faz estalar o coração numa dor intensa. Sem palavras que a abracem.

Dias sem chão.
Dias feitos de escuridão. De surpresa. E ficas tu, solidão.
Amiga.


Ao som de: The Gift "Primavera"




1 comentário:

Carla disse...

Mais um clássico que não conhecia;)

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