Volto eu com John Updike na manga. Mais uma vez. Com o terceiro volume de uma história sem precedentes. Se isto é cliché, que seja, porque é mesmo. Por alguma coisa esta série se tornou tão famosa, este retrato fiel da vida americana, com o pano de fundo magistral que é a escrita fria, mordaz, nua, de John Updike.
Fantástico!
Neste terceiro volume «Coelho Enriquece», encontramo-nos na vida de Coelho 10 anos depois da tragédia com que abandonamos o segundo volume. A casa que arde. A morte de Jill, o desaparecimento de Skeeter.
E Coelho que volta para Janice. Janice que volta para Coelho. Coelho que fica rico. Rico com o negócio do sogro. Rico e a dar um novo valor ao dinheiro. Avarento. Pois quem é rico, é aquele que poupa cada cêntimo.
Este livro comprova a suspeita que surge de toda uma série abrupta de atos inconsequentes de Coelho e Janice, havendo uma pessoa que, consequentemente acabaria por se tornar no reflexo disso mesmo: Nelson, o filho de ambos.
É ele quem mais sente a falta de Jill, e quem mais relembra um passado que todos querem esquecer. É nessas lembranças e nesses alicerces pouco sustentados que Nelson cresce e evolui. Pouco firme, portanto, à imagem de um pai que de firme nada teve, também. O confronto dos dois torna-se assim, inevitável.
Para Coelho, Nelson torna-se um reflexo das suas próprias ações, daquilo que poderia ter tido, e não teve, do que ainda poderia alcançar mas, estúpido do miúdo, não tem esperteza para tanto, engravidando Pru. Tal como fizera ele, anos antes com Janice.
Sente-se encurralado, na prisão do próprio filho.
É a mistura doce e amarga de um passado que se junta, oferecido, ao presente com a promessa, estúpida, de revindicar desde logo qualquer ato libertino ao futuro.
E também Ruth. Que surge nos pensamentos de Coelho com a promessa de uma fuga apetecível ao passado como forma de redenção. Uma forma de encontrar novas respostas possíveis a um presente que em nada o seduz, como sempre.
Se o filho Nelson só lhe traz desilusões e no corpo a intenção certa de o importunar, talvez a filha de Ruth, a filha que ele quer, porque sim, seja a resposta que procura.
Assim é Coelho. Para sempre um homem mimado que procura inconsequentemente o conforto próprio, a certeza de que, acima de tudo, o amem. Este homem precisa tão somente da confirmação de ser amado por todos.
E eis que regressa aos seus dias comuns e se depara com a verdade: Nelson no reflexo do seu próprio passado. Também Nelson correu. Para longe.
Este é um livro centrado, sobretudo, na relação de Coelho e do seu filho, marcado pelas inúmeras atrocidades de um passado em nada arquitetado pela segurança de um lar acolhedor. É a história centrada na amargura de Coelho ao perceber a marca do tempo, veloz em si mesmo, e para si, bem como naqueles que o rodeiam.
Afinal, marcas indeléveis.
E com esse sentimento, a presença de uma insatisfação teimosa. Persistente. De quem não se conforma. De quem sempre questiona.
Muito bom!
www.wook.pt: Vencedor do Pulitzer Prize, do National Book Award, do American Book Award e do National Book Critics Circle Award.
Em Coelho Enriquece, Updike retoma as aventuras da sua personagem Harry "Coelho" Angstrom, ex-estrela de basquetebol, que, ao chegar à meia-idade, começa a questionar a sua vida aparentemente bem-sucedida. Estamos em 1979 e Coelho já não corre. Caminha e começa a perder o fôlego. No entanto, isso não representa um problema - dá-lhe a oportunidade de desfrutar do bem-estar que vem com a meia-idade. Tudo parece harmonioso no seu mundo: é chefe de vendas e co-proprietário da Springer Motors; a mulher, em casa ou no clube, continua atraente; usa bons fatos e o dinheiro não pára de entrar. Então, porque é tão difícil para Coelho aceitar a realidade? E porque é ele atormentado pelo arrependimento em relação a todas as vidas que nunca viverá?
E também Ruth. Que surge nos pensamentos de Coelho com a promessa de uma fuga apetecível ao passado como forma de redenção. Uma forma de encontrar novas respostas possíveis a um presente que em nada o seduz, como sempre.
Se o filho Nelson só lhe traz desilusões e no corpo a intenção certa de o importunar, talvez a filha de Ruth, a filha que ele quer, porque sim, seja a resposta que procura.
Assim é Coelho. Para sempre um homem mimado que procura inconsequentemente o conforto próprio, a certeza de que, acima de tudo, o amem. Este homem precisa tão somente da confirmação de ser amado por todos.
E eis que regressa aos seus dias comuns e se depara com a verdade: Nelson no reflexo do seu próprio passado. Também Nelson correu. Para longe.
Este é um livro centrado, sobretudo, na relação de Coelho e do seu filho, marcado pelas inúmeras atrocidades de um passado em nada arquitetado pela segurança de um lar acolhedor. É a história centrada na amargura de Coelho ao perceber a marca do tempo, veloz em si mesmo, e para si, bem como naqueles que o rodeiam.
Afinal, marcas indeléveis.
E com esse sentimento, a presença de uma insatisfação teimosa. Persistente. De quem não se conforma. De quem sempre questiona.
Muito bom!
www.wook.pt: Vencedor do Pulitzer Prize, do National Book Award, do American Book Award e do National Book Critics Circle Award.
Em Coelho Enriquece, Updike retoma as aventuras da sua personagem Harry "Coelho" Angstrom, ex-estrela de basquetebol, que, ao chegar à meia-idade, começa a questionar a sua vida aparentemente bem-sucedida. Estamos em 1979 e Coelho já não corre. Caminha e começa a perder o fôlego. No entanto, isso não representa um problema - dá-lhe a oportunidade de desfrutar do bem-estar que vem com a meia-idade. Tudo parece harmonioso no seu mundo: é chefe de vendas e co-proprietário da Springer Motors; a mulher, em casa ou no clube, continua atraente; usa bons fatos e o dinheiro não pára de entrar. Então, porque é tão difícil para Coelho aceitar a realidade? E porque é ele atormentado pelo arrependimento em relação a todas as vidas que nunca viverá?
6 comentários:
Que seja um belo dia cheio de livros e leituras.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Obrigada Francisco.
Igualmente :)
Muitos livros!
Pois, continuo sem conhecer Updike. Talvez um dia.
Olá Carlos,
Vale a pena conhecer :) estou a gostar imenso desta tetralogia. Já no último volume.
Boas leituras!
É necessário ler todos ou podem-se ler isoladamente?
Olá Joaquim,
Tem de ler todos, sim.
Vale muito a pena :)
Boas leituras!
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