Vida de Gato

sábado, 18 de julho de 2015

Hoje partilho convosco um artigo que li há uns dias  e que achei muito bom.
Considerem a leitura, que vale a pena!
 
 
Da Psicóloga Clínica Mariana de Oliveira
Psicóloga/Psicodramatista Clínica e Sócio/Educacional | Brasil
Membro Fundadora do SEJA – Núcleo de Psicoterapia e Psicodrama
Formação em Terapia EMDR
 
 
Para mim já chega com essa discriminação contra os gatos. Não, não é só pela minha paixão pelos bichanos, mas é que se formos analisar de perto essa história do melhor amigo do homem ser o cachorro, veremos o quanto de egoísmo há nessa afirmação.

Em primeiro lugar, em argumento e obviedade, é uma discriminação contra todos os outros bichinhos que se submetem (por livre e espontânea vontade, ou não) a receberem os carinhos de seus donos e que também possuem qualidades. Fazendo o paralelo que desejo, o que seria do verde se não fosse o amarelo? Ou melhor, cada animal (incluso homem) possui um adjetivo e é essa diversidade que nos abre um leque de opções.
Mas o ponto que pretendo chegar, o alvo que me atraiu às palavras vai muito além. Vai ao extremo do que essa frase pode significar numa sociedade como a nossa. Irei começar mais longe, mirando, até alcançar o que quero. O que venho constatando cotidianamente é uma falta de um certo egoísmo “saudável”. Seria, por melhor dizer, uma preocupação com a pessoa em si, com seus gostos reais, com suas vontades reais, com seus reais interesses que muitas vezes são deixados de lado para haver um ganho secundário, questionável quanto à sua verdadeira valia: o olhar do outro. Claro que cabe ressalvas ao que digo. É importante sim, às vezes, agirmos para agradar o outro, principalmente se o outro for alguém de quem gostamos. O ponto aqui é para quando se perde a noção do limite e a entrega deixa de ser uma doação para uma obrigação, e aí o chamado “outro” aproveita-se e escraviza pelo apelo ao sentimento. Claro existem também, e muitos, a contraponto dos que vou chamar de cachorros (logo entenderão) que não são egoístas, muito menos saudáveis: são os individualistas. Estes são os que se aproveitam dos cachorros e devem ser estes aqueles os primeiros a rotularem os gatos de individualistas e oportunistas. Esta é a parte em que deflagro a minha defesa dos gatinhos. O gatos incomodam muito. Eles jogam na cara de muita gente o que seria uma vida coerente aos próprios propósitos e ao mundo. Chegam como querem, quando querem e se assim o fazem, trazem consigo todo o afeto. Quando insatisfeito, vão embora. Quer brincar? Brinca. Se não quer, brinca sozinho. Me ofereceu comida, -oba!- não ofereceu, vai procurar. Não passa fome jamais! É difícil lidar com um gato! É difícil lidar com a independência do outro. Assim nos amarramos pelo afeto vida afora. E assim que o cachorro se torna o melhor amigo, aquele que ama incondicionalmente: você bate nele e ele volta abanando o rabo, deixa ele sem comer e ele te agradece quando recebe, fica feliz ao te ver e esquece a tristeza de dias de distanciamento.
Para mim, seria preciso que cada um criasse um gato quando criança. Precisamos aprender com eles a saber lidar e respeitar a distância sem se manter inerte e sem achar que é desapego, saber ficar alegre com a volta do outro e bem como encher de alegria, se fazer presente com a volta, saber dar carinho na medida certa, se respeitar, não se deixar invadir pela expectativa do outro. O gato nos joga na cara tudo que na verdade gostaríamos de ser. Afinal, com todas as qualidades, por que será que ninguém quer ter uma “vida de cão”?

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