Tenho uma história peculiar com este livro.
Nunca tinha lido Miguel Sousa Tavares, e confesso, não tinha qualquer pretensão em fazê-lo.
Essa ausência de pretensão não é digna de motivo. Não tinha lido porque nunca me apeteceu, nunca me chamou a atenção, como tantos outros livros que ainda estão para me chegar às mãos.
Essa ausência de pretensão não é digna de motivo. Não tinha lido porque nunca me apeteceu, nunca me chamou a atenção, como tantos outros livros que ainda estão para me chegar às mãos.
A curiosidade deste «Não se encontra o que se procura» reside, precisamente, no título.
Acreditem, ou não, de cada vez que passava numa livraria, numa montra de livros, este rapazinho encontrava-me. E longe estava eu de o procurar.
Aos poucos, e coincidência ou não, já começava eu a ler este livro antes de o comprar. Tinha de o trazer comigo, mais que não fosse pela insistência de se fazer encontrar, sem qualquer procura.
Neste livro, Miguel Sousa Tavares dedica-se, através de uma terna partilha, a encontrar as verdadeiras razões que movem um homem (ou uma mulher) a escrever. A escrever realmente. Intensamente.
"Escrever é viver intensamente e depois desligar-se intensamente. É um farol que varre o mar, alternando a luz com escuridão, a presença com ausência." (p.13)
Viagens, saudades, família, encontros com amigos verdadeiros, encontros íntimos com livros que ficam para a vida, histórias com política e histórias da sua própria vida, fazem parte dessa jornada em busca de uma resposta aparentemente simples. Escrever, porquê? Para quê? Por alma de quem?
Segundo o autor, estamos perante uma questão complexa e, simultaneamente, simples. Talvez, por essa mesma simplicidade residir na intimidade de cada escritor, de cada um de nós, de cada um que sinta esse dom, de uma história que apela a ser ouvida.
Nesse seguimento, escrever é então, dar aos outros.
Se não consideram uma expressão bonita, vão já procurar o coração à gaveta. Por favor.
É sim, dar aos outros e a nós mesmos, esses resquícios de uma história que nos toca, que apela e pede, genuinamente, para ser contada. Num "porque sim" tão manifestamente humilde, igualmente impossível de se lhe negar.
É que nesse paralelismo de pedidos humildes, habita do outro lado a promessa de liberdade. Abençoados pedidos, esses!
Com base numa questão tão limpa e tão ambiciosamente querida, Miguel Sousa Tavares embala o leitor pela curiosidade das suas próprias aventuras, por vezes, caricatas, e por trechos de vida que, forçosamente, o condicionaram.
Há alegrias. Há tristezas. Há momentos. Há a vida a acontecer, todos os dias.
Numa nota exemplar, mas gritante, de importância à simplicidade das coisas, o autor encara a escrita, e a literatura, como uma das mais belas formas de viver.
"(...) Porque escreve? (...) Porque houve uma história que veio ter comigo sem que eu a procurasse." (p.252)
Assim como este livro, esta história. Que me encontrou, sem eu procurar.
Boas leituras!
5 comentários:
Olá Denise!!!!
Já tinha saudades de passar por aqui. E a primeira opinião que encontro encheu-me as medidas! Nunca gostei deste escritor, mas até fiquei com vontade de ler este livro :p
Beijinhos***
Olá Kel!! :)
Obrigada!
Já li várias opiniões negativas sobre o autor, mas pessoalmente saí muito bem surpreendida desta leitura.
Bom regresso!
Beijinhos **
Deste livro nada sei, mas recomendo vivamente, do mesmo autor, os livros Equador e Madrugada Suja! A não perder!
Olá Luísa
Obrigada pela visita :)
Tenho na estante "Madrugada Suja" para ler em breve.
Fiquei muito bem impressionada com a escrita do autor. No que me toca, aconselho este pequeno livro. Tem muita coisa boa a reter.
Boas leituras!
Vou ler concerteza. Aconselho do autor
"No teu deserto",considero-o um poema em prosa. Boas leituras!
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