"Não podemos pretender ser os primeiros, ou os preferidos, somos apenas o que está disponível, os restos, as sobras, os sobreviventes, o que vai ficando, os saldos, e é com esse pouco nobre que se edificam os maiores amores e se fundam as melhores famílias, é essa a proveniência de nós todos, produto que somos da casualidade e do conformismo, dos descartes e das timidezes e dos fracassos alheios, e ainda assim daríamos às vezes fosse o que fosse para continuarmos junto de quem resgatámos um dia de um sótão ou de um leilão, ou que nos coube em sorte num jogo de cartas ou apanhámos nos desperdícios; inverosimilmente conseguimos convencer-nos dos nossos infelizes namoros, e são muitos os que julgam ver a mão do destino no que não é mais que uma briga de aldeia quando o Verão já agoniza..." (p.140)
Javier Marías
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