Mary Shelley ficou mundialmente conhecida com o seu Frankenstein ainda em vida, tendo sido escrito quando tinha apenas 18 anos de idade.
Foi uma romancista britânica, contista, dramaturga, ensaísta, biógrafa, escritora de viagens e editora das obras do marido, o poeta romântico e filósofo Percy Bysshe Shelley. Era filha do filósofo político William Godwin e da escritora, filósofa e feminista Mary Wollstonecraft.
Apesar do reconhecimento da sua obra ainda em vida, após a sua morte, foi principalmente lembrada como a mulher de Percy Bysshe Shelley e como a autora de Frankenstein. Só em 1989, quando Emily Sunstein publicou a sua biografia premiada Mary Shelley: Romance and Reality, é que se analisaram pela primeira vez de forma exaustiva todas as cartas, diários e obras de Shelley no seu contexto histórico.
Os estudiosos consideram agora Mary Shelley uma grande figura Romântica, importante pela sua obra literária e pela sua voz política como mulher e liberal.
Mary Shelley |
Um clássico da literatura, serão poucos aqueles que nunca ouviram falar do famoso Victor Frankenstein, estudante de filosofia natural que, quase como um sopro, ambiciona desmesuradamente encontrar a fórmula certa que permitirá ao ser humano solucionar a questão impertinente relacionada com a origem da vida.
"Ardo de entusiasmo porque não há nada que acalme tanto o espírito como uma resolução firme e um objetivo preciso, um ponto em que a alma pode fixar o seu olhar intelectual." [p.20]
Numa ambição desmedida, estuda desenfreadamente isolando-se cada vez mais nesse único e fundamental objetivo. Esquece a companhia dos amigos, que agora nada lhe pode trazer e dedica-se, cada vez mais, aquilo que tanto o fascina:
"Um dos fenómenos que me atraía particularmente era a estrutura do corpo humano e, mais geralmente, a dos seres vivos. De onde provinha o próprio princípio da vida?, perguntei-me muitas vezes." [p.58]
Foi precisamente essa questão que levou Victor à solução final, dando origem ao que tanto ambicionara: criara um ser, através de pesquisas e de ossos que ele próprio recolhia e que, num momento que ficaria para sempre gravado na sua mente, começara a respirar.
Contra tudo aquilo que poderia supor, o horror da sua obra estava espelhado na monstruosidade da, agora, criatura que contemplava: grande, disforme e assustadora.
Sem pensar duas vezes, desprezou-a pois ia contra tudo aquilo que supunha ser o seu maior objetivo, e tal monstruosidade proclamava indiferença absoluta.
É precisamente este o momento em que a obra de Mary Shelley amadurece para enaltecer a sua grande mensagem: até que ponto pode ir o homem, lutando pelos seus desejos, esquecendo consequências que, irrevogavelmente, virão até ele. Quer queira, quer não.
Independentemente de ter ignorado o seu demónio, a sua criatura, não significa porém que a mesma desapareça. Precisamente neste ponto o leitor pode conhecer o lado de uma criatura assustadora e assustada que, ao que parece, é feita de sentimentos e mágoa de quem foi tão cruelmente rejeitado:
"Os meus protectores tinham partido, quebrando o único laço que me prendia ao mundo. Pela primeira vez, sentimentos de vingança e de ódio encheram-me o coração; não tentava contê-los mas, deixando-me arrebatar pela corrente, ansiava por fazer mal." [p.151]
Cansado de praticar a bondade, o monstro decide praticar o outro lado dos sentimentos, tornando-se cruel na mesma medida do que haviam feito com ele.
À medida que o leitor avança no percurso quer do criador, como do próprio monstro/demónio/criatura, ou o que seja, podemos perceber que este foi criado por sentimentos de bondade e amor, em que a rejeição e crueldade do primeiro, transformaram na maior sede de vingança.
Mary Shelley demarca assim o grande grito da sua obra: até que ponto a sede de poder, saber e querer, pode alterar todo um destino. Um destino predestinado a tão boas aventuranças e, afinal, esmagado pela agonia alucinante que só a morte pode acalmar...
Boas leituras!
2 comentários:
Este está na wishliste ;D
Adorei a tua opinião, mais uma vez, e como expuseste a forma como a história vai mais além do ideal/perigo da criação de vida.
Boas leituras!
Olá Su!
Obrigada :)
Como costumo dizer, é um dos clássicos incontornáveis da literatura.
Muito, muito bom!!
Beijinhos e boas leituras
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