A Mulher (Meg Wolitzer)

segunda-feira, 23 de maio de 2016


O livro de Meg Wolitzer ronda um tema principal, o amor desmesurado e disfuncional, sem deixar, no entanto, de se alastrar a tantas outras problemáticas a que aquele automaticamente se impõe.
 
Sempre me questionei sobre aqueles que teimam em ser felizes sob o pano de fundo da infelicidade dos outros. São as tais histórias nas quais apenas conhecemos o início inflamado da paixão, os inícios frescos e prometidos à eternidade congelada de quem muito ama, para todo o sempre. Mas será, de facto, mesmo assim? É que os dias são velozes e têm muita pressa em chegar. É esse o caso de Joan. A história dessa mulher pequena.
 
A história é apresentada ao leitor com a vontade de uma mulher em abandonar o marido narcisista, reconhecido escritor. No entanto, terão a surpresa e oportunidade de conhecer muito mais sobre este sombrio casal.
A verdade é que Joan, jovem aluna na altura, apaixona-se desmesuradamente pelo jovem professor, Joe, e pelo seu devoto amor à literatura decidindo, sem somar consequências, atirar-se de cabeça a uma paixão inflamada por um homem casado com o qual partilharia não só o corpo de um e outro mas, também, esse sonho enublado pela literatura. Um sonho de ambos.
 
Dizem que o amor é assim, e que tem destas coisas.
Um casal sombrio, este.
 
Joan larga tudo, os sonhos, os objetivos, a vida, pela fama e mediatismo aparente de um professor que acaba de conhecer. E Joe vê em Joan a boia de salvação para um ego que se quer sempre inflamado e à superfície.
Joe encabeça o Mito de Narciso como ninguém: ele corre o risco de se apaixonar por si mesmo se, por lapso, vislumbrar o seu reflexo à beira da água.
Joan, insegura e temerata, é essa mulher capaz mas condicionada às suas próprias sensibilidades, escondendo-se numa sombra confortável, inicialmente prazerosa mas que, inevitavelmente, se mostrará insuficiente ao longo da sua vida.
 
Não pretendo contar-vos detalhes específicos desta história porque neste livro, apesar de medíocre, é um daqueles casos que integra a velha máxima de que vale a pena lutar contra o enfado da leitura, persistir para lá da barreira das 50 páginas porque, quem sabe, poderemos ser surpreendidos de alguma maneira.
 
Em «A Mulher» isso poderá acontecer.
 
Se até às derradeiras páginas o enfado pode persistir, perante personagens cuja complexidade psicológica é fraca e muito linear, há o momento em que o leitor poderá deparar-se com um outro prisma que abala certezas prévias dando, quiçá, o benefício da dúvida a esta mulher que, por ter amado mal e demais, se perdeu na sua própria história.


A obra «Os Interessantes» deixou-me uma marca muito mais duradoura, tanto que foi aquela que me fez voltar à autora e a esta «Mulher». Opinião, aqui.

6 comentários:

redonda disse...

Já tinha uma ideia do que poderia ser a surpresa ou o segredo no livro e depois confirmei.

Denise disse...

Olá Gabi :)

Pois... tem esse efeito que atenua um pouco uma história com pouco para dar.
Gostei bem mais da obra «Os Interessantes», um obra posterior a esta, mais desenvolvida, mais cuidada e profunda.
Boas leituras!

Túlio Santos disse...

Estou para "Os Interessantes. Acredite que a tua opinião deixou-me curioso em relação a este.
Boas leituras!

Denise disse...

Olá Túlio,

Gostei muito de «Os Interessantes». Vale a pena. Penso que é de considerar primeiro essa leitura, e só depois, então, enveredar por «A Mulher». :) Fica a dica!

Boas leituras

Túlio Santos disse...

Corrigindo o comentário anterior: "*Estou para ler..."
Seguirei a tua dica! Obrigado. =)

Denise disse...

:)

Boa leitura!

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