O Meças (J. Rentes de Carvalho)

terça-feira, 21 de junho de 2016


É com algum desalento que hoje vos falo da mais recente obra do monstro. Para mim Rentes de Carvalho é um monstro da literatura, isso é inegável, no entanto, «O Meças» não me conquistou como assumi que seria. São coisas.
 
A promessa de uma história cruel, violenta e fria fez-se certeza. Talvez pela dimensão de tanta nudez e crueldade, não fui capaz de me condoer com as amarguras de vida desse «Antolinho», independentemente de, até ao leitor menos empático, entender aqui e ali, os motivos de uma vida pautada pelas sombras de um passado com muitos amargos de boca.
 
É um livro negro, capaz de nos mostrar o quanto o passado nos magoa, nos transforma e nos condiciona. Para todo o sempre. Essa mágoa encabeça todo o percurso de vida dos personagens. Porque nem só do Meças este livro se constrói. São várias as personagens sofridas, que de um passado pouco alicerçado, caminham pelos dias inseguros, na incerteza do que virá e de sonhos tímidos que nem ousam pronunciar.
 
Ao longo da história conhecemos a infância de António, o Meças, que vivenciou os abusos continuados à sua irmã, por um tal Engenheiro que tudo parecia poder naquela terra pequena. E ele, também pequeno, cresceu com um ódio que se apoderou da sua própria vida. Com base nesse ódio, tomou curtas rédeas a uma vida que de feliz pouco tinha para ser. Limitou-se à resignação típica dos que nada esperam depois da vingança servida em prato frio.
 
Mas não se desanime o leitor, porque há muito mais neste pequeno livro para se descobrir. São muitas as pessoas que aninham histórias que, forçosamente, se cruzarão. E depois, acontece o imprevisível de uma história que continha muitos porquês mal explicados.
Apesar de não ter sido a leitura de Rentes de Carvalho que mais me fascinou, não posso deixar de a recomendar pela beleza da escrita tão caraterística deste autor. E depois, bem, depois temos o Meças que, independentemente das sombras, merece aquela luz de curiosidade de qualquer leitor.

Boas leituras.

Sem comentários:

CopyRight © | Theme Designed By Hello Manhattan