A Vegetariana (Han Kang)

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Há livros que nos chegam às mãos envoltos num burburinho. Foi assim com esta vegetariana.
Apesar de não gostar de me aventurar neste tipo de euforia em torno de um livro, pois por norma o entusiasmo me sai defraudado, desta vez, porém, fui verdadeiramente surpreendida. Que livro.
 
Esta é a história de uma mulher aparentemente simples e que, pela sua simplicidade, despertou a curiosidade e a maior fúria por, um dia, decidir que se tornaria vegetariana. Essa fúria, despoletada maioritariamente por um marido caprichoso, autoritário e metódico, seria justificada pela imprevisibilidade adornada aos dias tão certos que a mulher, calada e submissa, lhe garantia.
 
«Foi um sonho».
 
O sonho de Yeong-hye, incompreensível a todos, despoletou nela a repulsa da carne, a que poderia vir a comer e a que ainda circularia no seu corpo. Entraria assim num verdadeiro vórtice de autodestruição, porém, certa de alcançar a pureza, dissolvendo-se em si mesma através do sol, da água, das flores ... das árvores.
 
Este livro de Han Kang, bem mais do que uma eventual sensibilização ao vegetarianismo, é uma gritante nota ao sofrimento mudo e às consequências daquele.
Esta mulher aprendeu a silenciar. Viveu na sombra de uma família austera, sendo a filha menos protegida pela lei do que era esperado, por ser mais nova, por ser mulher. Aguentou, calou, casou e fez imperar as regras que lhe eram esperadas. Exemplarmente.
 
Mas e o corpo? O corpo, esse, não superou o eclodir de emoções há muito guardadas que, por sua vez, ganharam peso pelo poder dos sonhos.
 
Esquizofrenia? Anorexia nervosa? Cansaço ou somente rebeldia?
E então, eu sublinharia mais uma vez o poder do coração sobre um corpo, resignado. Cansado pelo tempo, pela iludida resiliência, decide um dia que pode mandar. E essa autoridade sobre si mesma tem no meio a esperança de se transformar numa árvore.
 
As árvores carregam a certeza da mudança e é essa que, secretamente, todos nós auspiciamos.
Leve-nos lá onde levar...mas que leve.
 
 
 
Gostei muito e, obviamente, só posso recomendar.
Boas leituras.

3 comentários:

Jardim de Mil Histórias disse...

Olá!
Ainda não li este livro, mas quero muito. É um tema que me interessa.
Espero ler em breve.
Beijinhos e boas leituras

Carlos Faria disse...

Não me deixa de parecer um tema estranho, mas às vezes aquilo que não nos atrai depois revela-se uma grande surpresa pela positiva. Pode ser que aconteça com este, pelo menos fiquei curioso devido ao teor do post

Denise disse...

Olá Isaura :)
Gostei muito e só posso recomendar! Depois vou espreitar a tua opinião :)
Beijinho

Olá Carlos :)
Sim, é um tema estranho de facto. No entanto, acredito que dali se podem tirar muito boas reflexões. Sobre as nossas opções de vida e as consequências quando aquelas, afinal, foram tudo menos felizes. O corpo parece pagar as contas. Acho que vai gostar...
Beijinho

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