Drácula (Bram Stoker)

sábado, 2 de janeiro de 2021

 Leitura realizada em Novembro 2020

Não será novidade para muitos que a personagem de Drácula incitou em muito à ideia comum sobre o vampiro, na imagem que a conhecemos: o medo da cruz, a pele pálida, ausência de sombra/reflexo, seres que gostam da noite, a sua beleza e enorme magnetismo. A atracão que imprimem nas suas vítimas é tal que aquelas, num primeiro momento, caem na tentação não na perspectiva de vítima mas porque, pura e simplesmente, não lhe resistem aos encantos. Creio que é precisamente neste ponto que o livro de Bram Stoker se demarca pela originalidade.

A verdade é que muito antes da sua publicação, o romance gótico já caminhava de encontro a uma maior relevância na literatura. Consta-se que o primeiro livro a focar-se no imaginário dessa figura foi o de Polidori (nascido em 1795, na Inglaterra), com o seu "O Vampiro", apesar da fraca recetividade na altura, dado que o romance gótico ainda estava longe de ser tido em conta.

Outros autores anteriores ao livro que hoje destacamos, já haviam ingressado por esta peculiar atmosfera. Dois desses exemplos, e que a mim muito me dizem, são a Mary Shelley (conhecida pelo seu «Frankenstein») e as irmãs Brontë, pela atmosfera sombria dos seus romances, sobretudo Emily. O conhecido Edgar Allan Poe é outro exemplo muito demarcado, tido inclusivamente como o grande fundador deste género literário. O cómico e bem disposto Oscar Wilde, numa fase em que este género estava já consolidado, também cedeu atenção a este tema para a criação da sátira social (que define tão bem o autor).

Tudo isto para reforçar a originalidade de Bram Stoker sem que, no entanto, lhe recaia a responsabilidade única do romance gótico como, erradamente, a maioria das pessoas pensa. Talvez pelo imaginário comum, pelo facto de ser uma história de que todos já ouviram parte, possa recair a falsa premissa de uma total criatividade em torno das histórias dos vampiros. Por isso mesmo, creio que é importante sublinhar a originalidade que o autor trouxe, especificamente, às características da personagem e que continuam, até aos dias de hoje, comummente interiorizadas.

Introdução à parte, «Drácula» é um livro cuja história se centra na vida de um conde da Transilvânia que decide ir viver para Londres, atraído sobretudo pelo avanço tecnológico que já se fazia sentir (1897) e pela facilidade em conseguir mascarar a sua essência e o encontro mais facilitado das suas vítimas.

Não estamos a falar de um livro cujo enredo se caracterize por um desenvolvimento muito profundo ou por uma escrita especialmente cuidada. Acredito que a força do livro está muito para lá disso. Sendo um romance epistolar, contendo além das cartas inúmeros recortes de jornais e diários, esta é uma história que sublinha o poder da amizade, da fidelidade e a ligação entre as personagens, tidas como verdadeiros heróis que vão até às últimas consequências para destruir aquele demónio e restaurar a paz nas suas vidas.

«Drácula» é também um apontar de dedos a uma cultura inglesa muito moralista e conservadora, aspetos esses que ainda vigoram nos dias de hoje. Desde a pontualidade à mesquinhez tão conhecida daquela cultura, a imagem do vampiro surge como uma espécie de libertação sexual (justificada no magnetismo irresistível do vampiro, cujas vítimas caem sem pensar), um contraste nítido à repressão do país. Se a mulher é tida como frágil e que o homem, machista mas cavalheiro, nasce para a salvar, também no livro vivemos a contradição quando vemos Mina, a mulher aparentemente frágil, a alastrar o seu poder e dedicação para ajudar o marido, tornando-se - a meu ver - a personagem principal.

«Drácula», por todos estes motivos, tornou-se um dos livros mais importantes a nível mundial, quer pelo género literário em que se insere, quer pelos temas escondidos em torno de um vampiro cruel e as suas vítimas, desamparadas.

Um clássico da literatura que vale a pena ler de início ao fim, não se deixando convencer apenas pelas ideias facilmente partilhadas. Há muito para conhecer ao ler a obra completa e daí, tirar importantes reflexões sobre uma época e da sociedade inglesa feita de peculiares, e tão atuais, costumes. 

 

Seja feliz,   

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