O grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

 Leitura realizada em Dezembro de 2020

Não é à toa que «O Grande Gatsby», de F. Scott Fitzgerald, é considerado o grande romance realista dos Estados Unidos. Mais do que aquilo que poderíamos ter em conta como apenas uma história de amor entre um homem sem posses e a mulher requintada e fútil, este é um livro que nos explica - claramente - o que é ser americano num determinado período histórico, o do capitalismo americano e todo aquele movimento de ascensão que, parecia, não ter fim. 

O livro é narrado pelo moralista Nick, que se tornará vizinho do tão falado e comentado Gatsby, homem reconhecido na sociedade por ter crescido financeiramente sem, aparentemente, qualquer herança prévia. Ao longo da história vamos acompanhando os desabafos de Nick, mais pobre, e que vive numa casa simples rodeada das mansões mais ricas da cidade. 

Primo de Daisy, o grande amor da vida de Gatsby, Nick verá o nascimento da amizade com aquele precisamente pelo laço que tem à jovem. Há todo um passado que, no início da história, o nosso narrador não conhece. Há anos atrás, a prima e o carismático Gatsby haviam tido um intenso romance mas que, fruto da situação económica precária do rapaz, não ganhou raízes fortes para prosperar no tempo.

Daisy é a mulher com "voz de dinheiro" (uma das minhas expressões preferidas do livro), é fútil, vive na ociosidade e num vazio preenchido, apenas e só, pela força do dinheiro e pela azáfama de decidir a qual das festas comparecer. Precisamente pela sua futilidade, casa com Tom, homem rico de nascença.

Estão assim criados os alicerces que dão forma a uma aparente história de amor mas que, na verdade, é um apontar bem directo às desvantagens do cobiçado, e ilusório, sonho americano. Falamos dos anos 20, as grandes festas, o dinheiro fácil que quase parece surgir das pedras. A verdade, porém, é que ninguém sabe a origem da riqueza de Gatsby, sendo este o sinal de alarme que o autor pretendia passar sobre uma época muito assombrada pelos luxos, pelas idealizações e uma quase infantilidade na forma como se vive a vida.

Há mais na incógnita sobre a alegada riqueza deste homem. Daqui nascem as questões basilares de toda a obra: até que ponto se admiram os ricos? Até que ponto a riqueza é, afinal, tida verdadeiramente em linha de conta? E a moralidade? Confirma-se a moralidade na pessoa rica? 

O grande objetivo de Gatsby passa por impressionar a fútil Daisy que, casada com Tom, resultam igualmente num casal feito de futilidades, entretidos a serem "ricos juntos"

Fitzgerald capta as contradições da vida americana daquela época de forma magistral. Pelos aparentes subterfúgios de uma história de amor, o autor traz a cabo assuntos como a moralidade, a mão de Deus, os olhos que tudo vêem, sob o manto estragado do dinheiro, esse, o grande tema em torno destas personagens e transversal a todas elas.

Poderá o dinheiro ser a solução, final, para todos os problemas da vida? O que será isso de «sonho americano», debruado a notas e moedas? Poderá a moralidade entrar numa equação que nos parece, na linha de pensamento das personagens, algo tão obscuro de definir?

 

Este grande clássico da literatura assume, como todos os que já li, a grande máxima apregoada por Italo Calvino, de que um clássico é um livro que tem sempre algo para contar. «O Grande Gatsby» não é excepção e de uma forma muito inteligente, Fitzgerald faz-nos refletir não só sobre uma época muito específica de um país mas, também, sobre a complexidade que sempre define o ser humano. E sempre assim será. 

 💖

Seja feliz,


2 comentários:

Pimenta Mais Doce disse...

Olá! Gostei muito do blog e já o segui! Quero convidá-lo a visitar e a seguir o meu blog de volta <3

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Denise disse...

Muito obrigada!

Boas leituras e muito sucesso para o blogue :)

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