A Mulher de Branco (Wilkie Collins)

segunda-feira, 1 de março de 2021

«A Mulher de Branco», de Wilkie Collins, foi considerado o primeiro livro a integrar um subgénero vitoriano tido como «romance de sensação». Este subgénero é, essencialmente, definido por narrativas sobre crimes, como identidades falsas ou infidelidade, ambientadas nos lares ingleses, e cujos personagens parecem estar sempre acima de toda e qualquer suspeita, sendo simpáticos, cordiais, quase irresistíveis. Existem sempre novos segredos a cada página, incitando no leitor uma grande curiosidade.

Este subgénero viveu o seu melhor momento na década de 1860, contudo, não foi aplaudido unanimemente, muito pelo contrário. A criação do novo género literário surge no paralelismo das mudanças de hábitos dos leitores até então que, no surgimento de novos pontos de interesse culturais, começaram a desejar histórias mais estimulantes. Enquanto a classe alta da sociedade considera negativamente este tipo de literatura, a classe média sente nestes livros a distracção de que precisava, pelo tempo sempre ocupado, uma geração cheia de projectos e que, por isso mesmo, o estímulo de uma leitura cheia de segredos a serem revelados, página a página, lhes comprou total atenção. Esse surgimento de uma nova perceção do tempo, da pressa constante, e de novos entretenimentos, suscitou na literatura a necessidade de criar outras maneiras de instigarem o interesse no leitor de classe média. Assim, a fórmula passava pela ansiedade e curiosidade em descobrir as desventuras dos personagens sempre tão intrigantes e reviravoltas constantes. Uma outra característica  vital deste género é a "inquietação": as sensações provocadas pela ficção são tão vivas que acabam por se espelhar nas sensações do próprio leitor. 

Sobre as fontes de inspiração de Collins para a criação desta obra, existem duas teorias, ambas pautadas pela ambiguidade, sem nunca terem sido, de facto, confirmadas. Apesar dessa mesma ambiguidade, ambas as propostas de inspiração são geniais: a primeira defende que a inspiração do autor teve lugar num julgamento francês a que o autor teve acesso, sobre a viuvez de Adélaide-Marie-Rogres-Lusignande Champignelles e um dos filhos se ter apropriado, injustamente, da herança da sua mãe. A segunda hipótese é ainda mais interessante e aponta para que numa noite de Verão, na década de 1850, os irmãos Collins acompanhavam um amigo de volta a casa quando, subitamente, ouviram um grito de mulher e naquele breve espaço de tempo enquanto pensavam na atitude que deveriam tomar, foram surpreendidos pelo surgimento de uma mulher de branco. Corajoso, Collins fora o único que deixara os companheiros para trás, indo ao encontro da mulher (relembremos a cena de Walter e vemos aqui um nítido espelho de ambas as cenas), mulher essa que viria a ser o grande amor da sua vida, Caroline Graves.

Suposições à parte, a verdade é que já há muito que não tinha uma tão boa companhia como este «A Mulher de Branco». Reforço aqui todas as características do género e sublinho que a curiosidade é um dos factores sempre presentes ao longo de toda a leitura.

Independentemente o género literário não ter granjeado, na época, os melhores elogios por parte da classe alta, a verdade é que o autor, que começou a escrever esta inesquecível história no dia 15 de Agosto de 1859, obteve um enorme sucesso. A recetividade foi tão grande que acabou por se popularizar  em todo o lado desde a venda de perfumes inspirada na mulher de branco, vestuário de mulher na cor branca, os convidados em festas dançavam quadrilhas inspiradas pelo romance e grandes autores como Thackeray, leram o livro num só dia, não o conseguindo largar.

Outro dos aspectos que só valorizam ainda mais este livro, é a complexidade e o cuidado que incutiu em cada uma das suas personagens. Pensemos em Fosco, por exemplo, e será impossível negar o quanto esta personagem é enervante e, simultaneamente, genial.

Sobre a história em si tem como protagonista Walter Hartright, um professor de desenho, residente em Londres, e que lhe surge a oportunidade de um novo emprego em Cumberland,onde passaria quatro meses em Limmeridge a ensinar a arte do desenho a duas irmãs, com excelentes condições de trabalho. Precisamente por não gostar muito de Londres, o nosso personagem aceita o trabalho numa espécie de refúgio. 

Na noite em que caminha em direção à mansão, encontra uma estranha mulher, que virá a descobrir mais tarde que se trata de uma paciente psiquiátrica, toda vestida de branco e bastante ansiosa. Ajuda essa mulher a encontrar o caminho que precisa e segue para aquele que será o lugar do seu novo emprego.

No dia seguinte e depois de conhecer a irmã mais velha, Marian (uma das mais incríveis personagens!), comenta o sucedido na noite anterior. A partir deste momento, e movido também pela curiosidade de Marian, esta, encontra referências daquela enigmática mulher numa das cartas da falecida Sra. Fairlie, mãe de Laura, a sua meia-irmã e de quem é inseparável. A partir do momento em que ambas as personagens percebem, mais à frente, as parecenças físicas da mulher de branco com a sensível Laura, o mistério ganha forma e aumenta a um nível sem precedentes.

Se o amor de Walter por Laura se estabelece logo no primeiro olhar entre ambos, o mistério de que falava, só aumentará ainda mais quando Glyde, o noivo de Laura, parece ter, também ele, uma estranha ligação à jovem vestida de branco.

Este é assim o ponto de partida para uma história repleta de infortúnios, sofrimento e uma enorme sede de justiça. Desde Glyde, marido de Laura e homem intragável, ao seu amigo Fosco, estranho, mau e implacável, as irmãs terão de lutar para defender o seu próprio património, longe de Walter que, pela força das circunstâncias teve de partir para longe. Contudo, este nosso personagem trará as respostas necessárias para desvendar mistério atrás de mistério conquistando, por fim, a tão ambicionada justiça e o amor que se assume como a resposta, infinita, a todos os males que viveram.


Um dos grandes clássicos góticos, «A Mulher de Branco» foi, sem dúvida alguma, a minha melhor leitura do mês de Fevereiro.

Recomendo sem pestanejar.

 

Boas leituras e que Março seja um mês inesquecível.

💗

 

 

Seja feliz,

1 comentário:

Anónimo disse...

Adoro ler e ficquei muito muito curiosa com a tua review! Vou experimentar :)

jiaescreve.blogspot.com (sou nova neste mundo dos Blogs, por isso quando tiveres algum tempinho livre visita-me e deixa a tua opinião)

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