Tudo parece ser forçado a um nome. Como os armários que escondem a roupa, arrumada ou não, também as palavras têm uma espécie de armário. Os sentimentos são catalogados por essas malogradas palavras que, por sua vez, encaixam no melhor sítio. No suposto melhor sítio. E nisto, eu perco o raciocínio e afogo-me na falta que me fazes.
Como eu dizia, tudo tem de ter um nome. Uma palavra. Um sustento. Um pilar. Um alicerce. O que seja. Algo a que se encoste. Nisto, perco-me e afogo-me na tua falta.
Perco-me numa falta que não tem nome e nessa emergência, o que faço eu? Não há nome que te possa dar, essa tormenta contornada de anos ausentes, então, que nome dar-lhe ... amizade? companhia? saudade? certeza? amor? Oh! Mas eu não sei, bastavas-me. Ali. O saber. O simples saber. Saber que te encontraria, dentro ou fora de casa, sob efeito de alcool, sob efeito das alucinações, o que fosse, bastava ter-te ali. Mesmo ausente. Sem as malogradas palavras que insistem em catalogar tudo. Volto a perder-me e fazes-me falta!
Não te amo. Não gosto de ti. Nem sei. E fazes-me falta. Em cada canto da rua, em cada som de música, em cada gota de chuva. Em cada canto da minha mente. Sem palavras. São ecos vagos isto que te conto, porque não há palavras para ti. És um vazio que preenche por si só.
Tudo parece ser forçado a um nome. Nomes não te posso dar.
E a falta que me fazes é doce como os bolos de chocolate.
Ao som de: The Script "Breakeven"
JC
Sinopse: O leitor que abre este romance de Inês Pedrosa depara com um dispositivo narrativo de extrema simplicidade: duas vozes apenas, que, ao longo de cinquenta blocos textuais, a que, pela sua episódica brevidade, não chegaremos a chamar capítulos, se cruzam numa espécie de diálogo espectral. Uma dessas vozes é feminina, e é a ela que cabe a iniciativa de convocar os temas. A outra voz, que viremos a saber que é mais velha, pertence a um homem. Poderíamos pensar, segundo as convenções de leitura para que estamos preparados, que entre estas duas personagens existe sobretudo uma relação passional. Mas aquilo que as une é de uma outra ordem - e de certo modo o livro não faz mais do que ir à procura do nome exacto para essa ordem, o nome apropriado para esse tecido de palavras que une, enreda, compromete, envolve estas duas vozes. (...) "Sem dúvida o seu melhor livro, e desde já um dos romances mais importantes e apaixonantes publicados este ano." Eduardo Prado Coelho
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