Agora e na Hora da Nossa Morte (Susana Moreira Marques)

segunda-feira, 28 de abril de 2014


 
"Agora e na Hora da Nossa Morte é o resultado de uma viagem a Trás-os-Montes para acompanhar um projecto de prestação de cuidados paliativos domiciliários. De aldeia em aldeia - numa paisagem marcada por grandes distâncias, as águias sobrevoando as estradas, e o Douro como fronteira - encontramos pessoas com pouco tempo de vida, familiares que dormem à cabeceira de camas, e o vazio deixado pelos que morrem. No lugar onde Portugal acaba e é esquecido, onde todo um modo de vida de desaparecer, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante."
 
Ler este livro é uma urgência. O tema da morte, sempre tão escondido, tão convenientemente esquecido nas palavras mais difíceis e, por isso, pouco pronunciadas, acaba apenas por ser vivido na iminência do "aqui e agora".
Infelizmente, e correndo o risco de roçar o tantas vezes repetido, não se dá a devida importância às coisas até as perdermos e este livro, majestoso na sua simplicidade, dedica-se a mostrar esses pequenos nadas que são tudo.
 
"(...) Começo a tentar sentir o que ele sentia.
E o que é que lhe ia na cabeça?
Isso atormenta-me muito, muito:
o que é que a pessoa que vai morrer pensa?
acredita que vai morrer?
acredita sempre?
é constante o pensamento?
não é?
tende a iludir-se?
o que é que acontece?
como é que olha para os outros?
faz filmes sobre como é que vai ser a vida dos outros?
pensa no que é que vai perder?
(p.106)
 
 

 
Ao som de: "Paradise" | Coldplay


5 comentários:

Unknown disse...

Conheço bem essa realidade porque nasci em Trás os Montes e tenho lá família. Aldeias que há vinte anos eram motivo de romaria nas festas populares, às quais as crianças davam vida e alegria, estão agora povoadas por meia dúzia de idosos, abandonados e esquecidos. Os jovens emigraram e na maioria dos casos esqueceram as suas origens.
Parece que o futuro é muito cionzento... Será para aí que caminha este país?

Denise disse...

É uma realidade muito triste e, como dizes, muito cinzenta.
É triste o número de casos de idosos negligenciados, abandonados à própria sorte mas procurando nas mais pequenas coisas, o maior dos confortos.

É isso sabes, a simplicidade da vida. É lamentável que com o passar dos anos aquela ilusão da infância de que o tempo não passa, deixe de existir...
É que precisamente durante esse caminho, o tempo parece que voa e com ele tudo o que é mais importante (e igualmente mais simples), parece voar também.

Apesar da tristeza e solidão que invoca, este livro é uma consciência viva desse futuro que questionas.

Boas leituras **

Unknown disse...

Sabes, Denise, a solidão é universal; muitos desses filhos que abandonaram os pais, apenas foram buscar a sua própria solidão a outros sítios, onde são estrangeiros.
Leste o estrangeiro, do Camus? É um excelente livro, onde se mostra que, ao fim e ao cabo, todos somos estrangeiros. Todos somos solitários, porque pensamos. A única maneira de escapar à solidão talvez seja seguir o caminho daqueles que se recusam a pensar. É o caminho do egoísmo; e nós, que pensamos nestas coisas, queremos fugir desse caminho; por isso somos todos solitários.
Esses idosos esquecidos são a face mais triste e visível dessa solidão que atravessa todas as gerações e condições.
Quem explica bem isto é o Murakami, que estás a ler :)
Bem, hoje deu-me para a lamechice :)

Unknown disse...

Quando disse "queremos fugir desse caminho" referia-me ao egoísmo

Denise disse...

Sim, já li o "Estrangeiro". Há muitos anos atrás. É um bom livro para reler, sem dúvida :)

O que dizes faz todo o sentido, mas não deixa de ser muito triste, não é?

É bom que existam muitos "pensadores" e que se consiga fugir não há solidão (não tenho problemas com a solidão propriamente dita) mas a esse egoísmo e às suas consequências em nada humanas.

É a minha estreia de Murakami!! :)

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