Vida Dupla (Sérgio Godinho)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ao ouvir na rádio, uns meses atrás, que Sérgio Godinho iria lançar um livro, a minha curiosidade disparou. Um músico que admiro. Autor de letras soberbas. Um livro. Tudo para correr bem.
E assim foi, com "Vida Dupla", um livro de contos. Nove contos, soltos, mas que poderiam ligar-se entre si pela ambiguidade das personagens, pelos seus receios, pelas suas dúvidas, pelas suas questões, procuras, encontros, reencontros, busca incessante pela vida. Ou pela morte. Quem sabe?
Com uma escrita sem regras, desde logo notada, somos conduzidos facilmente pelas histórias paralelamente leves e complexas de Sérgio Godinho.
Um lençol puído. Uma perna engessada. Um sonho visto à distância. Um carrasco que passa a entender. Seja lá o que isso for. Mas o condenado passa a ser visto numa outra perspetiva. O amor. Visto de dentro. Pelas entranhas. Há isto nos contos, a possibilidade de cessação ou de continuação. Podemos parar porque a página nada tem a mais, mas a personagem segue por ali, na mente, e cabe a nós a ideia de a integrar numa continuidade espacial diferente.
 
 
Como o próprio Sérgio Godinho declara numa entrevista no Observador:
 
"Daí se ter tornado mais fácil fazer nove histórias dentro de um livro? “Sim. Também porque agrada-me muito esta concisão que o conto proporciona, de dizer muita coisa, mas também de sugerir outras que não chegam a ser desenvolvidas, que deixam pistas abertas para as pessoas imaginarem como é que seria aquela pessoa noutra situação. Gosto também muito que a certa altura esse fio que se vai tecendo se encerre”.
Gostando muito da trama, é possível que o leitor gostasse de continuar a ler. Mas a passagem para outro assunto é inevitável. Como se fossem canções. A vida é feita de ruturas. “Todos nós somos várias coisas, dependendo dos dias, dependendo da disposição, da lucidez. São as nossas vidas duplas, no sentido em que nós temos contradições, temos forças que lutam dentro de nós, temos acontecimentos que muitas vezes proporcionam uma espécie de vinda à tona de uma consciência."
 
 
Boas leituras!
 

4 comentários:

Carlos Faria disse...

Por norma tenho medo de personalidades públicas que de repente viram a escritores de ficção, embora raramente seja como contistas como é o caso, mas deduzi que gostou e isso é um bom sinal neste caso.

Denise disse...

Olá Carlos!

Também por norma fico receosa quando são lançados livros de figuras públicas mas quanto a Sérgio Godinho foi uma muito boa experiência :)

Boas leituras!

Maria Eu disse...

Comprei. Li. Gostei.
Ouvir o Sérgio falar de Literatura é um prazer, também. O homem é muito mais do que um cantor!

Denise disse...

Ola Maria Eu!

Concordo plenamente...

Boas leituras!

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