Regressa, Coelho (John Updike)

domingo, 12 de abril de 2015

Regresso com mais um capítulo da vida de Coelho, neste que é o segundo volume da famosa tetralogia de John Updike.

Não continuem, se pretendem ler estes quatro livros, pois a partir de agora, farei revelações da história.

Depois de Coelho largar Ruth e correr desenfreadamente pelas ruas, o autor deixa-nos no limbo da curiosidade e dúvida sobre quais serão os passos, à partida, dúbios deste homem, que de homem, parecer ter tão pouco.
Ao abrirmos o segundo livro, porém, passam 10 anos e Coelho correu de volta para a família, após uma perda inigualável que foi perder a bebé Rebecca após o acidente na banheira. Com uma Janice inquieta, atormentada pela bebida, esta, impulsionada por mais uma das ausências de Coelho. 
A culpa torna-se assim pesada nas costas deste homem, e regressa para uma vida que, subitamente, se torna cinzenta e sem qualquer objetivo mais amplo que não seja um regresso monótono a casa, depois de um dia de trabalho, e vice-versa.
Quem parece ter mudado, essa sim, é Janice. Cansada, paradoxalmente, deixou de se resignar, querendo mais. Um "mais" que assusta Coelho, e o impossibilita de dar.
Exausta dessa passividade e da toca em que o Coelho insiste estar, Janice é agora uma mulher diferente e o trabalho fora de casa parece ser o grande gerador dessa mudança. Com ela, surge a traição que inconscientemente lhe parecia gritar ao ouvido, e empurrar os braços e as pernas, para avançar sem censuras. Como quem pretende, agora, retaliar nos destroços de uma guerra já antiga.
Uma traição que reafirma essa passividade e mimo de Coelho. Que amua e congela no espaço que lhe é concedido. Como ele próprio refere "Sou ou muito orgulhoso ou muito preguiçoso (...)". E resigna-se às novas condições que a vida lhe impõe, assumindo essa culpa antiga, lidando com ela, num presente e futuro que chegarão sempre confortavelmente envenenados.
Esse presente e futuro ganham, à medida dos dias, o nome de Jill. E Skeeter.
Pessoas novas que lhe entram pela casa, a nova amante. E o amigo negro.
Pessoas novas que lhe entram pela casa, com pouca ou nenhuma vontade, ou muita, que seja, mas entram para lhe aliviar esse vazio que nem o próprio entende. Necessidade de aprovação. Necessidade de espantar um medo desconhecido. Necessidade de provocação do Skeeter, cuja cor de pele tanto o inquieta. Incertezas. Mas que a confirmação do filho adolescente e a saudade que invoca pela mãe, o martiriza e magoa.
Em «Regressa, Coelho» há a continuidade de personagens martirizadas por elas mesmas, e Coelho assume-se central na arte de perder, de fazer perder e nada fazer.
Há um mimo e birra constantes na sua forma de pensar, essa ingenuidade que mesmo com 10 anos volvidos, parece persistir, e uma quase ternura pela sua tendência a deixar-se levar pela força dos dias. Inconsequentemente.
E um dia tudo arde. Coelho, num desses dias inconsequentes, perde a casa e Jill num incêndio. Uma tragédia que o empurra, sem grande emoção, para uma nova jornada.
Novo empurrão inesperado, incerto, e que consigo traz Janice, igualmente incerta dos passos novos que dá...


Boas leituras!

www.wook.pt: Regressa, Coelho é a história da ex-estrela do basquetebol do liceu, que no momento presente se encontra num emprego sem futuro e próximo da meia-idade, residindo na limitada cidade ficcional de Brewer, Pensilvânia, a sua cidade natal. Quando a sua mulher o abandona por outro homem, Harry e o seu filho de doze anos ficam perdidos, reflectindo o estado da nação americana em 1969. Em 1969 o mundo está em mudança. A América está prestes a colocar um homem na Lua, a Guerra do Vietname está no auge e a tensão racial já se faz sentir. As coisas já não são o que eram - pelo menos, não para Harry "Coelho" Angstrom. A mulher abandonou-o levando consigo o filho adolescente, o emprego está em risco e a mãe está moribunda. De súbito, na sua vida confusa - e na sua casa - entra Jill, uma fugitiva de dezoito anos que se torna sua amante. No entanto, quando ela convida o amigo, um jovem negro radical chamado Skeeter, a ficar lá em casa, a frágil harmonia do casal começa a ressentir-se.

2 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um blogue muito interessante gostei de visitar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Denise disse...

Obrigada Francisco :)

Boa semana!

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